Prólogo

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Eu estava no banho quando a campainha veio a tocar. Sem saber muito o que fazer por ter sido pega de surpresa, me enrolei em qualquer pano que conseguia alcançar. Saí correndo em direção à porta, sem ao menos pensar duas vezes o porquê a campainha estava tocando àquela hora da noite. Olhei pelo olho mágico e não tinha nada, simplesmente nada. Nem ninguém, ou nenhum sinal de que havia alguma pessoa ali antes. Não demorei tanto assim do banheiro até aqui, mas mesmo assim, não havia ninguém e é claro, que eu tive que abrir a porta pra ter certeza. Quando abri a porta, dei de cara com uma caixa de sapato completamente preta, e uma rosa de cor violeta ao lado. O que mais me chamou atenção foi a rosa, nunca vira uma rosa tão linda com tal cor. Era uma cor pura, que claramente chamaria atenção em qualquer lugar que estivesse. Eu não tenho amigos, nem familiares próximos a mim, então, quem diabos poderia ter deixado isso na minha porta? Só podia ser alguma brincadeira de mal gosto das crianças vizinhas, nunca foram com a minha cara. Essa não é a primeira e não seria a última que eles pregariam uma peça em mim, pensei comigo mesmo. Com minha atenção à "encomenda", o que me intrigou por um curto momento, é que violeta sempre foi minha cor favorita. Parando pra pensar, a minha vida inteira eu estive rodeada por essa cor. Seja roupas, chapéus, e até mesmo sapatos. Tanto que, no casamento do meu primo em que eu fui madrinha, eu fui com um longo vestido cor violeta, e uns sapatos horríveis da mesma cor. A noiva nojenta do meu primo disse que iria "combinar" com o vestido. Me senti como aquelas tias solteironas, que moram com os seus 27 gatos e cachorros espalhados pela casa inteira, não sobrando espaço pra uma única alma sequer. Voltando a minha atenção para caixa, percebi uma coisa que não percebera antes. Como eu não percebi aquilo? Na parte de cima da caixa estava escrito o número 7, não escrito de qualquer jeito, com uma caneta esferográfica ou algo do tipo. Mas sim pincelado a mão, com um vermelho relutante, semelhante ao sangue. A noite estava incrivelmente calma e serena, como se estivesse apenas eu no mundo, e que eu fosse o centro de tudo, naquele momento. Só de pensar nisso subiu um arrepio entre minha espinha. Decidi entrar antes que pegasse um resfriado, e deixei a encomenda lá fora. Sem nem olhar o que tinha dentro, pouco me importa. Provavelmente é mais uma das pegadinhas do vizinho. 

Eu estava tremendo de frio. Quando foi que ficou tão frio assim do nada ? Decidi colocar meu pijama. Era florido, As flores estampadas nele era de um violeta claro e puro, assim como a rosa deixada em minha porta. Tentei não pensar sobre isso. Até porque, era só uma brincadeira, certo? Terminei de secar meu cabelo por volta das 3:47 da manhã, o envolvi com um laço cor purpura que minha mãe me dera quando eu era criança, pouco antes dela falecer, fazendo com que eu começasse a duvidar da existência de qualquer divindade, ou coisas sobrenaturais de outro mundo. Fiquei assistindo TV até conseguir pegar no sono. O que não foi difícil. Claro que os programas que estavam passando ajudaram seriamente, um mais entediante que o outro. A minha salvação é que está passando The Godfather, um dos melhores filmes da história do cinema, e meu filme favorito até hoje. Me acomodei entre as almofadas, e sem perceber, acabei caindo no sono.

Acordei assustada com um estrondo vindo da porta da frente, me levantei bruscamente, olhei para o cômodo, sem entender o que estava acontecendo. No relógio estava dando exatamente às 4:37. Um zunido começou a passar através do meu ouvido direito, na direção onde era o quarto da minha mãe. Inicialmente o zunido estava fraco, mas então, começou a ficar mais forte, passando pelos dois ouvidos, como se estivesse prestes a explodir meus tímpanos em segundos. Coloquei as mãos para tentar abafar o som, mas nada. Estava ficando cada vez pior. O vento estava forte lá fora, podia ouvir o serrado dos galhos a cada ventania que dava. A árvore estava prestes a cair, ela vai despencar em cima da minha casa. Então ouço outro estrondo vindo da porta, dessa vez mais alto. E uma sequência sucessiva de alguém apertando a campainha. Isso só pode ser brincadeira, isso não passa de uma brincadeira de mal gosto. E então, a campainha e os estrondos vindo da porta pararam simultaneamente. Mas a ventania continua forte lá fora. A árvore, pensei. Decidi ir até a porta e ver o que estava acontecendo. Eu vou pôr as mãos em quem estiver fazendo essa brincadeira comigo. Fui caminhando lentamente até a porta, desviando dos móveis em meu caminho, tentando fazer o mínimo barulho possível. Ergui minha mão trêmula para abrir a porta, a destranquei, hesitei por um momento, então a abri. Estava lá. A caixa e a rosa, ainda estavam lá. Mas dessa vez tinha uma coisa diferente. Algo que parecia um laço, estava amarrado entre a rosa. Aquele laço, aquela cor. Não pode ser. Eu coloquei as mãos sobre o cabelo e ele ainda estava lá, o laço que minha mãe me dera ainda estava lá. Isso só pode ser brincadeira...não passa de uma...Em pânico eu fechei a porta, a tranquei de novo e fui me afastando, ainda não acreditando no que eu vi. A ventania cada vez pior lá fora, a árvore prestes a cair. Ela vai cair. Peguei o telefone, e disquei os números 911. Atenda, porra. Atenda - 911 emergência, no que posso ser útil ? - Do outro lado do telefone era uma voz áspera de mulher. Tentei não pensar sobre isso e prossegui. - Por favor, eu estou sob ataque! Tem alguém na minha varanda. Eles não param, não param. - Senhora, mantenha a calma. Você pode explicar o que está acontecendo ? - Não tem como explicar! Tem alguém pregando uma peça em mim, eu não sei. Eles não param de bater na minha porta, e deixaram uns pertences do lado de fora. Por favor. Por favor, vocês poderiam mandar uma unidade pra cá ?! - Você poderia informar seu endereço, Senhora ? - 43, 5th Avenue, Brooklyn.- Acalme, senhora. Temos uma unidade por perto, logo eles estarão aí. Apenas mantenha a calma. Chiados começaram a vir do telefone. -Alô ? Senho...Está.- A ligação caiu. Tentei me acalmar por um momento, inspirar e expirar calmamente. Mas a ventania lá fora só piorava, fazendo com que eu entrasse ainda mais em pânico. Os estrondos voltaram, muito mais fortes do que antes. E então, eu ouvi alguém dizendo o meu nome bem baixo -Chloe...Chloe...A cada medida que ia soando meu nome, mais o som se aproximava. Senti uma respiração calma sob minha nuca. -Estou desapontada com você, Chloe - a voz dizia. Por um momento minha cabeça ficou zonza, fazendo com que eu perdesse o equilíbrio, caí sob meus joelhos. Outro estrondo absurdamente alto surgiu. Dessa vez veio de fora. Um raio caiu sobre a árvore, um raio. A árvore. Os galhos começaram a cair, uns batendo na vidraça, quebrando-as. E então a árvore, o que mais temia. A árvore começou a pender para o lado da casa. Eu pensei em fugir, mas minhas pernas. Eu não conseguia me mover. Eu não consigo mover a porra das minhas pernas! Ouvi batidas na porta, e uma voz masculina dizendo:- Policia, abra a porta! A única coisa em que eu poderia pensar é que eu morreria ali. Vocês chegaram tarde, chegaram tarde demais, pensei comigo mesmo. E então, uma sombra enorme cobriu o cômodo. Destroços, eram apenas o que eu estava vendo. Em seguida uma pancada forte em minha cabeça que eu não sei exatamente de onde veio. A ultima coisa que eu vi foi o sangue escorrendo de minha cabeça, após isso, apenas a escuridão.

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⏰ Última atualização: Sep 02, 2015 ⏰

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