∮ Emma Niamh Smith ∮
Ainda não sei porque motivo fui pintar o cabelo desta cor, talvez porque a sua cor pálida e, de certa forma, mórbida retrata perfeitamente o meu ser. Faz-me lembrar o quão angustiante é estares a lutar para, no final, não teres ninguém apoiar-te e a dizer-te "Eu sabia que conseguias!", porque, na realidade, ninguém quer saber de ti... Não tens ninguém a apoiar-te e a segurar-te, caso caias. Só tens montes de pessoas a dizer-te "Eu bem te avisei!" para te rebaixar ainda mais quando, na verdade, não avisaram. Não tens ninguém que se preocupe se tiveste um bom dia, se a comida está do teu agrado ou até se dormiste bem, por isso não te importas com nada, não te importas com a cor, por isso pintas o teu cabelo de branco... ou lá como se chama. Talvez seja isso que tenha acontecido a mim, talvez foi isso que me levou a pintar o cabelo de branco, ou loiro, ou lá que paneleirisse as pessoas chamam a isto atualmente.
As únicas cores que realmente me interessam são as que vou utilizar pra colorir, parcialmente, o desenho que se encontra nas minhas mãos, ou melhor, na minha secretária branca. Mas parece que nem isso vai interessar visto que estou a ouvir o meu padrinho a saudar alguém na entrada. Por outras palavras... Vou ter que vestir o melhor sorriso falso que conseguir para cumprimentar qualquer que seja a criatura, de um outro ecossistema que não o meu, que esteja lá embaixo na entrada.
"Emma! Sai do teu quarto e vem aqui!!" Uma voz grave se fez pronunciar por toda a casa. O meu padrinho, eu seria capaz de reconhecer esta voz a milhas de distância. Ela marca-nos. É profunda e transmite confiança. O meu padrinho é realmente um homem bastante confiante e seguro de si mesmo, algo que eu adorava voltar a ser. Talvez foi isso que, outrora, a minha madrinha viu nele o que mais ninguém viu. E a minha madrinha...? Apenas conheci uma mulher mais doce do que ela em toda a minha vida, a sua irmã... A minha mãe.
Calcei umas botas quaisquer que tinha espalhada no meu quarto e dirigi-me à porta, também branca, do meu quarto. O porquê das botas? É simples... Todas as minhas meias têm ou ursinhos ou outros desenhos quaisquer e eu odeio que me vejam com elas, sinto-me... envergonhada?
Quando coloquei o meu pé esquerdo no primeiro degrau das escadas, logo a voz do meu padrinho ecoou novamente pelas paredes brancas da casa. Disse algo do tipo.. "Emma... é para hoje!!" como sempre dizia... Eu não tenho culpa que eu não goste de conviver com, passo a citar, criaturas de outros ecossistemas que não o meu. E para além disso não gosto de andar depressa, não vejo a necessidade disso.
Mal chego à entrada/sala de jantar/sala de estar (sim, isso tudo!) deparo-me com uma mulher à volta dos seus 30 anos sentada no sofá grande (não sou boa a adivinhar idades de pessoas, nunca acerto, mas também não é do meu interesse, por isso não posso dar certezas que tem 30 anos). Avançando cada vez mais, e um pouco insegura, vejo duas crianças, mais propriamente, dois rapazolas, talvez gémeos, com os seus 7/8 anos sentados na carpete extremamente fofinha a brincar com carros.
"Ah! Emma.. Esta aqui é a.."
"Francesca!" A mulher de cabelos loiros falsificados cortou logo o meu padrinho e sorriu-me levantando-se para me cumprimentar com um beijo na face direita e, quando eu ia dar um beijo na sua face esquerda, ela já se estava a sentar. Boa Francesca!! Obrigada por me fazeres passar por este momento frustrante!! "Eles são os gémeos Edward e Robert respetivamente." Sorriu-me de novo.
Quando me preparei para cumprimentar um dos rapazes, Edward acho, ele espetou-me um carrinho frio e com um sabor metálico nos lábios. Penso que a cor do carro era verde, tal como a camisola do miúdo. O miúdo da camisola e carro verde estão na minha lista negra, juntamente com a loira-falsificada-de-trinta-anos, cujo nome não me interessa.
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Intoxicated
Roman pour AdolescentsEmma Niamh nunca foi julgada pela sociedade. Menina bonita, bom sucesso na escola, boa influência. Toda a gente desenhava um caminho para ela percorrer. Ser médica cirurgiã, advogada de defesa, fazer gestão de grandes empresas. Tudo isso as pessoas...