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Damon e eu corremos á velocidade de vampiro pelas rias de Nova Orleans. Ao contrário de quando chegamos e Damon se arrastava com relutância atrás de mim, corremos lado a lado, as casas de argila e tijolos passamos num borrão como cera derretando.

Algo mudara entre nós naquela arena, podia sentir em meu âmago. Algo mudou nos olhos de Damon enquanto ele me fitava e se recusava a atacar, mesmo quando a multidão zombou de nós. Perguntei-me como a luta terminaria se a lona não tivesse sido incendiada- teríamos atacado os humanos um por um, ou um irmão Salvatore terminaria morto sangrando no chão de terra?

A imagem da igreja de Mystic Falls em chamas, como uma tocha gigante, preencheu a minha mente. A prefeitura tinha incendiado a igreja com os vampiros presos lá dentro na noite em que nosso pai nos matara - e á vampira que Damon amava.

Mas Damon e eu ainda estávamos aqui, como uma fênix surgindo das cinzas dos vampiros que vieram antes de nós. Talvez, do fogo deste circo em nossa cidade, nascesse uma nova afinidade entre nós - como a nova vida que surge nos campos depois que a lavoura do ano anterior é queimada até o solo.

Damon e eu continuamos a correr, nossos pés batendo em uníssomo nas pedras do calçamento, descendo as vielas e ruas que eu parecia conhecer tão bem em minhas poucas semanas morando aqui. Mas, ao entrarmos na esquina para a Dauphine, a rua aonde Lexi tinha me levado para fazermos compras, parei de repente.

Afixado na janela da alfaiataria estava um desenho redimentar meu e de Damon, de presas á mostra, os dois agachados. A luta do século, dizia o cartaz, Perguntei-me se Callie tinha desenhado aquele. Era provável.

Damon se aproximou, examinando o cartaz.

-Esse desenho o deixou meio atarracado, maninho. Talvez seja hora de evitar garçonetes.

-Rá,rá - Falei secamente, olhando em volta. Gritos soavam atrás de nós, vindo do circo. Tínhamos uma boa dianteira, mas se Callie distribuira os cartazes tão amplamente como fizera com os de Damon, só ficariamos seguros quando estivéssemos dentro de casa.

O pináculo fino de uma igreja surgiu ao longe - a que ficava na diagonal da casa de Lezi.

-Vamos! - Empurrei Damon na direção da igreja, e só voltamos a falar quando chegamos á casa branca e dilapidada.

-É aqui que você mora? - O lábio de Damon se torceu enquanto os olhos iam da varanda baixa e branca ás janelas escuras.

-Bem, sei que pode não corresponder a seus padrões, mas todos devemos fazer sacrifícios de vez em quando - respondi com sarcasmo enquanto o levava á porta dos fundos.

Ela se abriu, permitindo que um triângulo de luz banhasse o quintal escuro.

Levantei as mãos quando Lexi apareceu á porta.

-Sei que você disse para não trazer visitas, mas...

-Entrem, Rápido! - disse ela, trancando a porta no segundo em que cruzamos a soleira. Na sala principal, velas estavam acesas e Buxton, Hugo e Percy, sentados em cadeiras e sofás como numa reunião.

-Você deve ser Damon - Lexi assentiu para ele de leve - Seja bem-vindo a nossa casa - Eu estava ciente de que Damon a olhava, e me perguntava o que ele via.

-Obrigado, senhora -disse Damon com um sorriso tranquilo -Receio que durante o tempo em cativeiro, meu irmão de algum modo tenha esquecidoo de mencionar a senhora a sua... - Seus olhos foram rapidamente a Percy e Buxton - Familia.

Percy se eriçou e ergueu-se um pouco do assento, mas Lexi ergeu a mão para impedi-lo.

-Meu nome é Lexi. E como Stefan é seu irmão, minha casa é sua casa.

-Nós fugimos - comecei a explicar.

Lexi assentiu.

-Eu sei. Buxton estava lá.

-Estava? - girei o corpo, surpreso - Apostava em mim ou contra mim?

Damon bufou e Lexi pôs a mão em meu braço.

-Seja bonzinho. Ele estava lá para ajudá-lo.

Meus olhos se arregalaram.

-Você foi lá para me ajudar?

Buxton recostou-se na cadeira.

-Fui. Mas alguém teve uma brilhante ideia de incendiar o lugar todo, então fui embora - Ele cruzou os braços, parecendo satifeito consigo mesmo por fazer parte da ação.

-Foi Callie. Ela ateou fogo - falei.

Os olhos de Lexi registraram surpresa.

-Eu estava enganada - disse ela simplesmente - Essas coisas podem mesmo acontecer.

-Perdoe meus modos rudes por interrompê-la, mas tem alguma coisa para comer? - perguntou Damon, sem tirar os olhos do retrato de uma velha - Passei por umas semanas dificieis.

Pela primeira vez desde que fugimos, realmente olhei para meu irmão. Sua voz estava rouca, como se não estivesse acostumado a usá-la. Cortes ensanguentados cobriam os braços e as pernas; as roupas estavam em farrapos; seu cabelo cheio e preto, sujo e escorrido contra o pescoço pálido. Os olhos estavam avermelhados e as mãos tremiam um pouco.

-Mas é claro. Vocês devem estar famintos, rapazes - Suspirou Lexi - Buxton, leve-o ao açougue. Deixe que ele se alimente até ficar sastifeito. Duvido que haja humanos suficientes em Nova Orleans para saciar sua sede. E, esta noite pelo menos, ele merece comer como um rei.

-Sim, senhora - disse Buxton, curvando-se um pouco ao erguer o corpo da cadeira.

-Vou com eles - falei, imdo para a porta.

-Não - Lexi balançou a cabeça e me pegou pelo braço...com força -Tenho chá para você.

-Mas... - prostetei, confusoe irritado. Eu praticamente sentia o gosto do sangue de porco na língua.

-Nada de "mas"- disse Lexi rispidamente, parecendo muito a minha mãe.

Buxton abriu a porta para Damon, que moveu a sobrancelha para mim como quem diz "pobrezinho!"

Se Lexi viu, fingiu não perceber, ocupando-se com o bule de chá enquanto eu me deixava cair em uma das frágeis cadeiras colocadas em volta da mesa e pousava a cabeça nas mãos.

-Quando você se torna vampiro, não são apenas os dentes e a dieta que mudam - disse Lexi enquanto acendia o fogão,de costas para mim.

-O que quer dizer com isso? - perguntei, na defensiva.

-Quero dizer que você e seu irmão não são quem eram antes. Os dois mudaram, e é possível que não conheça Damon tão bem quanto pensa - disse Lexi, trazendo duas canecas fumegantes - Sangue de cabra.

-Não gosto de sangue de cabra - falei, empurrando a caneca com raiva. Parecia uma criançinha petulante, mas não me importei - E ninguém conhece Damon melhor que eu.

-Ah Stefan - disse Lexi, olhando-me com gentileza eu sei. Mas prometa-me que terá cuidado. Esses são tempos perigosos... para todos.

A palavra "perigosos" estalou alguma coisa em minha mente.

-Callie! Preciso encontrá-la!

-Não! - Lexi me empurrou de volta á cadeira - O pai de Callie não vai fazer mal a ela, mas vai matá-lo na primeira oportunidade, e você não está em condições de lutar.

Abri a boca para protestar, mas Lexi me interrompeu:

-Callie está bem. Poderá vê-la amanhã Mas, por ora, beba sangue. Durma. Quando acordar, estará curado, e você, Damon e Callie poderão se entender.

Lexi saiu da cozinha com um estalo do avental e apagou o lampião.

De repente, a exaustão caiu sobre mim como um manto pesado, e o desejo de me opor ao conselho de Lexi se esvaiu. Com um suspiro, laventei a caneca e tomei um golinho. O líquido era quente e denso, e não pude admitir que era bom.

Lexi tinha razão - eu me despediria de Callie amanhã. Mas precisava descansar. Todo meu corpo doía, até o coração.

Pelo menos você sabe que tem um, imaginei Lexi dizendo, e sorri no escuro

sede de sangue -diarios de Stefan -vol.2Onde histórias criam vida. Descubra agora