Lugar estranho com gente esquisita

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Escreva no seu calendário: Hoje é definitivamente o pior dia da minha vida.

                E nem pense que estou exagerando, porque não estou. Se você estivesse em meu lugar, vendo o que eu via, sentindo o que eu sentia, não teria pensado duas vezes antes de pular do último andar do Centro de Filosofia e outras Ciências Humanas de Harvard. Caso você não saiba, o CFCH é o maior antro de suicidas de toda a história Cambrigde, com uma soma impressionante de 10 ou 15 mortos por semestre. O segundo colocado? Campus de Medicina, também em Harvard.

Harvard... Com certeza você já ouviu uma série coisas sobre esse lugar. Provavelmente sobre as almas mais cultas, promissoras, que gastaram cerca de quatro ou cinco anos debruçados sobre livros aqui, almas como Bill Gates, Barack Obama, sem esquecer do maior gênio de todos os tempos, criador da mais fantástica máquina destruidora de reputações e vidas, Mark Zuckerberg

Não, nada disso é novidade, você tem razão. O que você não ouviu, e provavelmente não encontrará em nenhum registro oficial, é que Harvard é a maior colônia de +18 virgens dos Estados Unidos da América. Bem vindo à Harvard, minha carta dizia, o lugar onde fracassados sociais se reúnem para compartilhar suas não experiências de vida (essa parte não estava escrita, embora eu achasse que deveria).

  Pois cá estou eu, mentalmente acompanhada de 10 mil outros americanos frustrados amorosamente, lendo em primeira mão a capa da People, que em letras garrafais, me informa:

Rebecca Grevskott, angel da Victória Secret's, acabou de noivar o bilionário gostoso Benjamin Van der Maar!

Esse poderia ser apenas mais um boato de tabloide que provavelmente seria esquecido pela minha mente, não fosse o fato de Rebecca Grevskott ser minha irmã mais velha e o tal de Benjamin Van der Maar o grande amor da minha vida.

Se você acha que isso não é suficiente para causar um surto suicida, toma essa: Que tal minha melhor amiga, na tentativa de me fazer esquecer toda essa bobagem de noivado, ter jogado fora cinco anos de recordações em diários no meio lixo? Ainda não é suficiente para você? Verdade? Acrescente-se então ao fato de que, durante toda uma vida, eu mantive um histórico dos meus dias dentro de uma maldita caixinha de memórias, que nesse momento, também flutua sobre algum caminhão de lixo em Boston, ao lado da minha linda coleção clássica de Death Note...

Minha vida acabou. Não há mais nada pelo que viver. Digo isso do fundo do coração, porque nem em mil anos eu sonharia morrer e não ter meu corpo enterrado ao lado da minha linda coleção de Death Note (estou encomendando os mangás nesse mesmo momento, mas sei que nunca será a mesma coisa, porque aqueles eram meus há mais de DEZ anos).

Grife-se: não são dez horas, nem dez dias ou dez meses. São simplesmente DEZ anos jogados fora por alguém que ainda ousa se intitular "minha melhor amiga".

- Chega. – Irina disse, abrindo um de seus sorrisos debochados. – Aquela tralha só fazia volume. Você não abriu aquilo nenhuma vez desde que moramos aqui...

Ela não entendia, dificilmente poderia. As pessoas decepcionam, magoam, te lembram de fatos que você fez de tudo para esquecer. Mas as coisas... Elas são fieis. Eu poderia passar dias, meses, anos sem sequer tocar nelas, mas elas continuariam lá, reconfortantemente iguais a sempre. Isso era o bastante. Era o meu mantra. Eu me agarrava às minhas coisas da mesma forma que Irina se agarrava à  ideia de que poderia conhecer o amor da vida dela hoje, porque era o que eu tinha, era.

– Qual é, Maddie. – ela sentou ao meu lado, sem deixar de sorrir. – Ano novo, vida nova: foram essas as suas palavras. Combinamos de coloca-las em prática o mais rápido possível e...

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⏰ Última atualização: May 28, 2016 ⏰

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