17 de Julho de 2017, as 06:45 am.
– “10 anos e 5 meses” – sussurrou, enquanto se espreguiçava na cama e soltava um longo bocejo. Os olhos esmeraldinos não queriam abrir, a preguiça de segunda de manhã tinha uma influencia muito forte sobre eles. Braços longos a envolveram pela cintura a puxando para mais perto do corpo masculino atrás de si. Permitiu se entregar a sensação acolhedora e quente. “Já está na hora de acordar” falou com a voz arrastada, “Não quero, assim está bom” – respondeu uma voz manhosa. Sakura lembrou-se dos momentos da noite passada, as cenas em sua cabeça passavam com tanta vivacidade que ao menos uma vez se permitiu sorrir. Não havia nada melhor do que acordar numa fatídica segunda de manha com a pessoa que ama afagando seus cabelos. Na verdade, não necessariamente alguém que ame. Sakura não o amava. O único amor que conhecia lhe foi tirado das mãos. Há 10 anos e 5 meses. O que sentia por aquele homem não passava de amizade e gratidão, por estar a fazendo sentir um pouco de prazer em sua vida. “Você o está usando”, sua consciência acusava. Com esse pensamento nada feliz ela se levantou com brusquidão da cama, fazendo com que o seu “colega de cama” fosse ao chão.
“Sakura – chan! Não é assim que se acorda alguém!” – reclamou se levantando do chão.
“Naruto! Pare de ser preguiçoso! Vá tomar um banho e esconda essa nudez” – falou enquanto pegava as roupas do loiro que estavam jogadas no chão.
Atravessando o quarto, entregou-lhe as roupas, enquanto o mesmo a estava encarando com um sorriso bobo no rosto. Perguntou lhe o porquê de não ter “vazado logo para o banheiro”.
“Só vou se você for comigo” disse a olhando nos olhos.
Sakura sorriu maliciosamente. “Ah como são fatídicas as segundas de manhã”
[...]
Já era a terceira vez que teve que reiniciar o computador por conta dos bugs do software que estavam desenvolvendo. O prazo de entrega do projeto terminava na próxima quinzena. O que deixava a rosada estressada e entupida de café. O setor estava uma loucura, a tensão nas paredes e nada de vozes e gritos que a relaxavam. O que mais a incomodava era o barulho incessante advindo do contado dos dedos com as teclas dos milhares de computadores daquela sala. Ninguém falava. Cada um estava na sua própria ilha resolvendo um mesmo problema. Um software que vale milhões de dólares que será vendido a um dos maiores clientes da área de computação do Japão. Sakura recebeu a honraria de ser a “cabeça” desse projeto. Literalmente “cabeça” foi o termo utilizado por seu chefe, Shikamaru Nara, para designar sua função. Se tudo desse certo, ela receberia uma coroa de louros, caso desse errado, seria sua cabeça numa bandeja de prata. A tela preta em sua frente era forte indício que sua cabeça não teria um final feliz.
–“Sakurinha, ficar olhando para essa tela não fará com que o software se faça sozinho”.
Sakura ao menos precisou olhar para trás, por conta da (trágica) tela preta, ela pode ver o reflexo da loira sorridente atrás dela.
–“Porca, sem um ser humano entre a cadeira e a maquina o software também não é feito. Faça o favor de voltar ao seu lugar” – olhou de soslaio para a amiga.
–“Caso você prestasse atenção ao mundo em sua volta, testuda, veria que o expediente já terminou”, depois desse comentário, Sakura notou que o ruído de digitação a muito tinha cessado. Pelas persianas, ela pode notar as luzes de Tóquio adentrando a sala. O relógio digital na parede oposta a sua mesa marcava 19h20min.
–“Merda, Ino! Por que você não me avisou?” – falou, fazendo a loira rir.
– “Eu queria ver até onde essa sua loucura e desespero ia. Estou vendo que você está piorando a cada dia. Que olheiras horrorosas são essas? Ah! O Naruto te deu uma canseira ontem, não é?” – a loira desatou numa gargalhada, deixando a furiosa.
Sakura encarou sua ex- rival, Ino Yamanaka, a loira de olhos azuis, muito cobiçada pelos homens da empresa era um tanto infantil e fútil. Essas características desagradáveis faziam com que Sakura não sentisse inveja dela. Em festas e até mesmo na lavanderia, Sakura não gostava de ser vista perto da loira, se comparasse a beleza física, Ino era um cisne e Sakura uma marreca.
“Ino, hoje é o dia em que Kakashi chega de viagem. Tenho que está em casa para recebê- lo, e para piorar, ele vai levar um grande amigo”. - fez sinais de aspas com as mãos quando disse a ultima palavra.
“Grande amigo, sim? Se for gato me apresenta. Apesar de que... melhor não. Kakashi é velho e esse ‘grande amigo’ deve ser velho também. Gente velha eu só aceito se for rica e que não tenha família para ter que dividir herança”.
“Ino, deixa de ser vadia.” – repreendeu Sakura enquanto entrava no elevador em direção ao térreo.
“Ah! E dormir com o maior acionista da empresa é coisa de menina descente? Sakura, eu te conheci no pior momento de sua vida e você no meu. Se alguém é vadia aqui, esse alguém é você”.
[···]
As luzes da varanda estavam acesas como de costume. A rua estava em silêncio, em contraste com a capital. Pelas grandes janelas que enfeitavam a mansão Hatake, Sakura pode ver a agitação dos empregados no interior da casa. Era sinal de que o dono ainda não havia chegado.
Estacionou o seu Corolla 2005 (era velho, mas tinha dignidade) na espaçosa garagem estranhamente vazia. Outra prova que seu tutor não havia ainda retornado a casa. Apesar de que certamente ele iria vir de táxi.
Kakashi há exatos 6 meses, havia saído em viagem sem regresso determinado. Não disse para quais lugares iria. Sakura lembrava como se fosse aquele dia mais cedo. Kakashi chegou à mesa de café da manha e anunciou sem cordialidade que iria viajar pelo mundo a fim de se "descobrir". Se com 48 anos ele ainda não se descobriu, não será agora que isso vai acontecer. Ela não havia colocado muita fé nessa loucura, mas os meses foram passando e Kakashi não retornava. Foi quando percebeu que era realmente sério ou estava fugindo de sua ex-mulher.
Sakura não se importava. Com ele em casa ou não era tudo a mesma coisa. Kakashi respeitava o jeito reservado da rosada. O seu tutor era como um pai para ela desde... O Incidente. Assim chamado pela polícia japonesa. A investigação da morte dos Harunos durou cerca de meio ano, mas não havia pistas, sinais que levavam ao assassino. A carta às de espadas queimava dentro de sua carteira. Nunca havia mostrado a policia. Era pessoal demais. Não seria vingança caso os tiras o prendesse. Queria que eles o encontrassem, mas o que aconteceria depois estaria nas mãos dela.
Com esses pensamentos que perseguiam Sakura noite e dia ela entrou na casa. A sala estava brilhante, todos os móveis em seus devidos lugares. O cheiro de frutos do mar vinha da cozinha. O aroma fez com que o estômago dela protestasse de fome. Relutante ela se encaminhou ao seu quarto a fim de um banho. Quarto que estava intocado. A cama ainda bagunçada e suas roupas largadas no chão.
Ligou o chuveiro e agradeceu pela água estar quente, permitindo a relaxar. Estava frustrada não somente pelo projeto que para ela sinceramente não fazia diferença dar certo ou não. Sua frustração era que ela estava perdendo o foco. A cada dia ela se distanciada do real motivo dela ter ido para a Uzumaki Softwares.
Terminando o banho Sakura foi se vestir para o jantar que teria com Kakashi e o "grande amigo". Diante do espelho, fitou as grandes bolsas que se formaram abaixo dos olhos. O cabelo rosado atingia a altura dos ombros. A pele pálida demonstrava todo seu cansaço e frustração. Sentia que havia falhado. O seu plano mal havia começado e já estava desandando.
"Calma. Eu vou achá-lo e irei fazê-lo pagar por toda dor que me causou."
Do térreo ouviu risos e vozes mais elevadas. O dono da casa já havia chegado, era hora de cumprimentá-lo e também ao seu grande amigo.
A primeira impressão que teve era que o seu tutor parecia ter envelhecido anos. A segunda era que definitivamente ele não havia saído para se "descobrir". Cabia a ela desvendar o porquê das rugas de preocupação em seu rosto e do olhar sério.
A sala estava cheia de empregados outrora. Agora só havia ela, o tutor e alguém atrás dele.
"Sakura... hã... Quanto tempo, não? Creio que temos muito a conversar, mas antes tenho que lhe apresentar o amigo que te falei." nesse instante Kakashi vira se de lado permitindo que o desconhecido entre em seu campo de visão.
– “Sakura, esse é o meu amigo, Uchiha Itachi.”.
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Sem Digitais
Fanfiction10 anos e 5 meses Repetia toda vez quando ia dormir. - 10 anos e 5 meses Era o primeiro pensamento ao amanhecer. -10 anos e 5 meses Tais palavras cravadas em sua mente como um mantra. Há exatos 10 anos e 5 meses, Haruno Sakura testemunhou o assa...