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//Capítulo 10//


"Serei só eu, tu e silêncio."  


   Uma das coisas boas de ter afefobia é que não preciso de fazer educação física. O meu professor sabe que a minha fobia não é uma invenção, por isso deixa que eu fique sentada a fazer o que me apetecer. Ele não avalia a minha capacidade física, mas ao menos marca-me presença.

   Desde sempre me habituei a estar a aula toda de educação física a desenhar ou no meu telemóvel, não havia grande coisa que eu pudesse fazer para além disso. No entanto, parecia que eu precisava da presença de Calum a meu lado para me puder distrair. Era como se, ao fim de poucas semanas com ele, o rapaz já tivesse tanto efeito em mim que eu sentia a necessidade de estar perto dele apenas para me sentir bem.

   De facto, isso não me surpreendeu. Calum era um rapaz muito carismático por quem as pessoas logo ganham algum afeto. Obviamente, eu não seria diferente das outras pessoas e o seu carisma iria fazer com que eu gostasse da sua companhia.

   O que, na verdade, me surpreendeu foi que, como se ele tivesse lido os meus pensamentos, Calum apareceu na minha aula e foi-se sentar a meu lado. Educação física era das poucas aulas que não tínhamos juntos e, com certeza, ele estaria a ter outra aula enquanto eu tinha a minha. Para além disso, não era permitido que ele estivesse no pavilhão desportivo se não tivesse a ter aula ou a praticar um dos desportos coletivos que praticam lá.

   "Olá." Ele sorriu-me, como se nada se passasse.

   "Não devias estar na tua aula?" Eu perguntei-lhe sem rodeios, olhando para o professor para ter a certeza de que ele não dava pela presença de Calum.

   "Não, a minha professora faltou." O moreno encolheu os ombros e encostou-se para trás.

   "É para isso que existem professores substitutos." Eu constatei.

   "Pois, mas o professor substituto também faltou."

   "Calum, não mintas. O que estás aqui a fazer? O meu professor pode muito bem reparar em ti e mandar-te à direção." Eu avisei-o, falando baixo apesar da minha vontade de gritar.

   "Eu só te quis fazer companhia." Ele fez beicinho e arregalou os olhos. "Não tinhas saudades minhas?"

   Eu bufei e respondi, "Vai para a tua aula, pode ser que a tua professora não peça uma justificação."

   "Duvido muito." Ele riu de maneira nasal, fazendo com que eu lhe desse uma cotovelada por estar a ser demasiado barulhento. "Eu ainda tenho que ir à secretaria pedir uma justificação e, a verdade é que, eu não tenho nenhuma. A não ser que ser um bom amigo e poupar uma amiga de apanhar seca seja uma boa justificação."

   "Para dizer a verdade, apenas me estás a aborrecer. Eu aqui preocupada contigo e tu a insistires em algo idiota." Eu virei-me completamente para ele, de maneira a que conseguisse encará-lo e transmitir melhor a minha mensagem. "Ou sais daqui e evitas ter que ficar na detenção, ou dás-me uma explicação razoável para aqui estares."

   Calum assentiu e, logo de seguida, perguntou-me, "Confias em mim?"

   Fiquei bastante admirada com a sua pergunta. Não são todos os dias que alguém pergunta uma coisa dessas. Confiança é algo que as pessoas têm de merecer e eu poucas vezes oferecia isso. Mas, apesar de só o conhecer há semanas, eu podia dizer que confiava no Calum. Talvez fosse a sua expressão facial calma ou a sua voz doce, mas algo me dizia que ele era de confiança. Por essas razão, eu assenti.

Dark Past || Hood [PARADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora