Minha vida era simples, com alegrias e tristezas, vitórias e sucessos. Vaidosa, ligada em tudo que a moda lançava, ganhava olhares e elogios por onde estivesse, porém meu coração permanecia vazio e sempre machucado por algum homem que desprezava meu amor. A vida sexual variava - por vezes intensa, por vezes me apegava à abstinência aguardando o momento que um outro alguém cruzaria meu caminho. Meu tesão sempre foi alto, desde muito nova me tocava, me permitia todo o prazer que meu corpo podia me proporcionar. Enlouqueci vários homens na cama, tive muitos amantes mas nenhum deles conquistou meu coração. Parecia que eu estava amaldiçoada e condenada a uma vida inteira de sexo e tesão, porém sem amor.
Conheci Fernando em uma tarde fria e chuvosa. Encharcada até os ossos, cabelo desgrenhado e roupa colada ao corpo após caminhar na chuva me equilibrando em um salto agulha. Ele pôs seu cartão de visitas no bolso da minha capa. Seu cabelo era escuro e liso. Pele branca. Seus olhos eram de um azul escuro e profundo, mas cintilaram junto com um sorriso alvo e sedutor. Não trocamos mais que algumas palavras, mas sua imagem não saiu de minha mente aquela tarde e nem na noite seguinte. Tive sonhos agitados, com tons de vermelho, cinza e negro, caminhando por uma neblina densa, seguida por um homem com a íris pontilhada de azul cobalto. Acordei suada e excitada.
Sob a luz da manhã, meus pensamentos clarearam. Envolta nas atividades cotidianas, deixei de lado o homem do cartão e por vários dias procurei não pensar no assunto. Pouco mais de uma semana, a curiosidade me invadiu e mandei uma breve mensagem para o telefone de Fernando. Segundos depois, tinha uma resposta. Minutos depois, tinha um encontro programado para a próxima quinta-feira.
Ansiosa e cheia de expectativa, suspirei aliviada quando o vi me aguardando. Era um fim de tarde, com temperatura amena, o sol começava a descer no horizonte. Esperando ter um encontro tradicional com jantar, cinema e um beijo de boa noite fui surpreendida com uma longa conversa, um sorvete de casquinha e uma caminhada que nos levou a uma praça tranquila e praticamente vazia.
- Não quer experimentar? - eu disse, oferecendo o sorvete.
- Obrigado, meu paladar tende a algo mais exótico...
- Como o que? - perguntei curiosa.
- Neste momento me satisfaço admirando seu jeito de saborear este sorvete...
Engasguei com a resposta. Algumas das muitas expectativas que flutuavam a minha volta como finos cristais suspensos em bolhas de sabão, foram se dissipando uma a uma. Depois de tanto tempo sem aceitar homem algum, gostaria que desta vez fosse algo diferente, de verdade, pra valer. Nada de sexo casual, nada de sexo no primeiro encontro. Nada de sexo antes de uma proposta de namoro! E, para mim, aquele homem estava indo rápido demais.
Ainda aturdida, me assustei quando ele limpou uma gota doce no canto dos meus lábios e me ofereceu a ponta de seu dedo. Confusa, lambi o sorvete liquefeito. Sua pele era macia e tinha um toque frio, porém excitante. Como se me deitasse nua sobre um altar de mármore, meus mamilos endureceram, minha buceta ficou úmida e quente, os pelos da nuca se eriçaram. Numa fração de segundo, imaginei como seria sugar o pau daquele homem lindo que estava me seduzindo. E ele apenas sorriu como se lesse meus pensamentos.
- Creio que já está na hora de nos despedirmos. - disse ele.
O tempo passou e eu não percebi. Deixei que ele me guiasse pela mão, seu toque enviando ondas elétricas pelo meu braço. Quando Fernando chamou um táxi, aguardei nosso primeiro beijo... mas não aconteceu. Encostada no táxi, ele tomou meu rosto entre as mãos e roçou levemente os lábios na minha face. Seu hálito quente e adocicado me deixou paralisada. Com os polegares, acariciou as laterais do meu pescoço.
- Isso não é um adeus, Letícia. Somente até logo. - ele sussurrou no meu ouvido. - Me aguarde, em breve te procuro.
E com isso nos despedimos.
