Despedida

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Ele me beijou...?!

Não pude me afastar quando Jhon me puxou. Sua boca colou na minha com perfeição, como se fossem feitas para ficarem juntas.
Meu coração se acelerou quando o vi entrar na cela em que estava. Mas agora ele está prestes a explodir!

Sua mão direita está na minha cintura, enquanto a esquerda está segurando minha mão, que treme.
Seu beijo é delicado mas tem uma dor escondida. Havia algo nele. Algo estranho, meio que como um desespero.

- Preciso ajudar os outros. - Ele disse, me soltando. Não me olhava. Isso me incomodou. - Fique aqui, eu volto para buscá-la.
Jhon saiu correndo e deu a volta pelo muro, voltando onde lutavam. Não olhou para trás, nem sequer disse algo. Mas pude perceber que seu rosto estava corado.

Será que seu coração batia tão forte quanto o meu?

- Achei que ele nunca iria embora. - Uma voz meio feminina me tirou de meus pensamentos.

Olhei para trás assustada e ansiosa, eu conhecia aquela voz.

- Janne... - Meu sussurro veio com lágrimas.

Ela estava sentada em um dos muitos galhos da árvore ao lado do muro.

Deu um rápido pulo, caindo em pé ao meu lado.

- Vamos, não temos tempo.

Janne segurou minha mão e saímos correndo. Eu não entendi porque ela me puxava. Mas meu coração se partia a medida que eu me distanciava.

- Onde está me levando? - Perguntei, enquanto ela me puxava.

Janne apenas se virou sorrindo:

- Pra casa.

Demorei alguns segundos para entender do que ela falava. Mas então a ficha caiu.

O portal se abriu.

Meu coração estava confuso, dividido. Um lado queria ir pra casa, queria minha vida de volta. O outro só queria ficar aqui e me entregar a sentimentos novos...

Não queria me separar de Jhon... Mas também não queria dizer adeus para Violeta.

O que eu vou fazer?!

Corremos pelos campos floridos além dos muros do castelo, até chegar aos pés de um morro. Era mais uma montanha, que se estendia além de onde pudesse ver.

Montanha dos 4 pontos... Parecia mesmo uma cruz.

-O portal vai ficar aberto só por uma hora depois que o sol nasceu. Você não tem muito tempo, aliás não tem tempo nenhum.

- O que eu faço?

Eu realmente não sabia o que fazer.... Daria adeus àquele mundo e voltaria pra casa? Ou daria adeus ao meu mundo e nunca mais veria minha melhor amiga...

- Tem uma escada logo adiante que leva ao topo da Montanha. Lá em cima tem uma base de observação. Vamos.

Eu apenas a seguia. Não tinha o que dizer... Eu estava pensando.

Quando chegamos no topo eu tive uma das visões mais lindas do mundo!

Eu vi todo o mundo.

Eu via o reino de Linut, vi a Academia Diond e a Academia Garth. Mas minha atenção foi pra Wang, onde há poucos metros meus amigos lutavam.

O Dragão de Hugh estava sobre uma das muitas torres do Castelo, a mais alta aliás; Suzuki tentava de todo jeito derrubá-lo... Mas, por que...?

Foi então que percebi que uma das asas do outro dragão estava sangrando. Ele não podia voar...

- Cecília... Precisa ir.

Lá de cima vi o dragão de Hugh cair, junto com seu reinado.

Lá de cima vi meus amigos comemorando.

Lá de cima vi Hugh ser preso.

Lá de cima eu vi Jhon voltando pra onde tinha me deixado.

Eu vi seu desespero quando não me achou.

Eu vi tudo isso com lágrimas nos olhos.

Eu quis descer e encontrá-lo...

Sempre vamos ficar juntas, né?

A promessa feita no dia da morte de minha família veio a mente como um sinal.

Eu não podia deixar Violeta.

As lágrimas eram mais fortes agora. Se pensar que fui covarde, talvez. Egoísta? Um pouco.

Eu só não queria ver aquela que sempre me protegeu, sozinha. Não queria sumir da sua vida de repente... Sem nem ao menos dizer adeus.

Se me perguntarem porque não me despedi deles, talvez eu não saiba responder.

Talvez não quisesse ver suas lágrimas, ouvir suas despedidas.

Para cada um guardei uma memória. Uma última memória. Pra sempre levá-los comigo...

Enquanto me posicionava perto do portal, que mais parecia um buraco, eu me despedia.

A única pessoa que olhei foi Janne. Ela também chorava. Segurava minha mão com medo.

Olhei para trás e disse a mim mesma que não me arrependeria.

Me aproximei devagar.

Disse a mim mesma que estava fazendo a coisa certa.

Dei um passo.

Disse a mim mesma que eles ficariam bem sem mim.

Mais um passo.

Disse a mim mesma que ficaria bem sem eles.

Então eu cai.

Infelizmente eu estava errada.

Amor entre mundos (Readaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora