Às vezes acredito que meu pai não me quer no trono.
É horrível essa sensação, mas cada vez que saio de uma reunião e vejo os olhos de meu pai sobre mim, acredito que talvez eu seja sua decepção. Não era a mim que ele queria no trono.
- Não é apenas contigo, Pedro. Papai é assim com todos nós. Exceto com Abby, é claro. – disse meu irmão.
Amarro o arco em minhas costas, enquanto meu irmão termina de calçar os sapatos.
- Nem sequer sei como contar a ele que quero seguir a carreira militar no próximo ano. – diz Demetre.
- Deves dizer logo, nosso pai sempre descobre as coisas. – digo e monto em meu cavalo – Se seguir a carreira militar é teu desejo, deves seguir.
Demetre sorriu e montou em seu cavalo.
- Por isso que serás um bom rei um dia.
- E será que nosso pai acredita nisso?
Demetre não me responde e segurou as rédeas para logo cavalgar para fora do estábulo. Fui atrás dele em direção ao fundo do palácio, passamos rapidamente perto de onde nossa mãe estava com Hope. Não evito um sorriso a ela, pois agora éramos amigos finalmente. Havíamos conversado esta semana e entramos de acordo para acabarmos com as formalidades. Seríamos casados apenas no papel, mas ao menos a amizade seria importante para termos um bom convívio.
Hope acena para mim enquanto parto para o meu momento preferido: a caça.
*
Eu sou o Príncipe Herdeiro do Trono de Portugal, o próximo na linha de sucessão e nunca em toda minha vida uma garota bateu a porta na minha cara. E Hope Rondoya fazia aquilo pela segunda vez.
Certo, na primeira, estávamos a brincar, ainda assim, não são muitas corajosas a fazerem isto. Na segunda vez, foi após eu a beijá-la.
Na noite passada, depois de alguns palavrões, eu me tranquei no meu quarto. Havia algo de errado com Hope. Um príncipe havia lhe beijado e ela batera a porta na cara dele. Não estou certo de que isso é uma coisa comum...
Aparecer no meio da noite no quarto de alguém e depois a beijar, também não é algo comum, admito. Deus, havia algo de errado comigo. Eu tenho a certeza.
Porque de repente uma vontade imensa bateu de beijar Hope Rondoya. Passamos o dia entre brincadeiras, eu estava encantado com aquele sorriso tão dócil. Como não se encantar por Hope Rondoya? Certo, eu sabia que ela jamais sentiria algo por mim, mas o grande masoquista em mim, quis beijar a única garota deste mundo que não se interessa por um príncipe.
"Não é algo romântico" ela disse. Seja quem fosse que estivesse do outro lado do oceano, estava com o coração de Hope e era sem dúvidas o homem mais sortudo que eu poderia conhecer.
Havia poucos dias que Hope apareceu em minha vida e eu sempre soube que ela mudaria tudo a partir do momento que nos casaríamos. Mas eu nunca imaginei que ela mudaria tudo de um jeito bom. Não havia palavras no mundo que descreveria a explosão de confusão em minha mente.
As únicas palavras explícitas me avisavam que o coração de Hope Rondoya não estava aqui, ela havia o deixado em Waughton e permaneceria lá por um bom tempo. Eu deveria me manter distante de Hope, como ela mesma queria: seríamos apenas amigos. Ou então, eu sairia com o meu coração machucado.
×
Enquanto tentava deixar Hope confortável em aparições em público ou em sessões fotográficas, eu tentava também não me encantar ainda mais com sua beleza, sua generosidade e sua determinação. Acima de tudo: eu tentava ser apenas seu amigo. Aturei os olhares maldosos de meu irmão, aturei dificilmente a infantilidade de Abby. Tudo estava nos planos, menos a chegada de Eleonora.
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Contos de A Realeza
RomanceContos da história A Realeza. Parte 1 - A Esperança: Livro do ponto de vista do príncipe Pedro.