Beginning

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Levantar, tomar banho, ajudar tia Alicie e ir para a escola. Bem, são assim que todos os meus dias começam. Não é fácil ser Catherine Svaizer Mcvey, ainda mais pela minha "fama" de garota que não tem os pais. É um título que não faço muita questão de possuir, ainda mais porque as pessoas costumam me olhar penosamente, e isso me irrita. Mesmo que minha história seja um pouco trágica. 

Primeiro, porque minha mãe me abandona assim que eu nasci e segundo, meu pai falece quando eu tinha 4 anos. Ele vivia muito doente depois que minha mãe nos deixou. Era difícil pra ele ter que cuidar de uma criança sem a ajuda de ninguém, e ainda ter que conciliar seu trabalho com a rotina diária de pai solteiro. Após a morte dele, eu vim morar com os meus tios paternos no Brasil, a família da minha mãe não quis se responsabilizar por mim, então essa foi minha única saída. Já deu pra notar o quanto sou sortuda.

Fazem doze longos anos que moro com minha tia Alicie, tio Roberto, e seus 3 filhos. Angélica, a mais nova. Pedro, o do meio.  E por último tem a Sophie, a mais velha que tem a mesma idade que eu. É bom e ruim morar com eles, eu me sinto bem por aqui, mas é como se eu não me encaixasse. Eu adoro as crianças e sobre Sophie, eu a amo. Ela é minha melhor amiga e além de tudo uma irmã. Mas, mesmo após todo esse tempo ainda me sinto uma intrusa nessa casa, é como se de alguma forma eu não pertencesse a esse lugar.

Moramos em Curitiba-PR, aqui é uma ótima cidade e tem um clima agradável. A escola onde eu estudo é maravilhosa. Sou do tipo de garota muito extrovertida, faço amizades rápido demais, apesar de tudo que eu passei, eu tento esconder tudo por trás de um belo sorriso. Na escola eu sou outra pessoa, sou feliz, agitada, ninguém nunca me vê triste, mas em casa... quando entro no meu quarto é como se eu entrasse no "meu" mundo. E lá dentro eu fico bem, confortável, mas as lembranças ruins passam em minha cabeça a todo instante.

Hoje é dia 23 de novembro, as aulas já estão acabando, estou no segundo ano do ensino médio. Daqui exatamente dois dias completo meus dezessete anos, idade essa que vejo como um passaporte daqui para a Inglaterra. Prometi a mim mesma que voltaria à minha cidade natal em busca de minha mãe.

*24 de novembro.

Hoje é o dia da entrega dos resultados na escola. São 6h da manhã e eu já estou pronta, estou ansiosa. Eu não sou uma aluna nota 10, mas depois que decidi que voltaria pra Londres, eu precisei estudar mais pra passar direto e conseguir a viagem dos meus sonhos. Essa foi a condição que meus tios me propuseram para que eu pudesse ganhar as passagens para Londres, então tive que me esforçar. Acho que vou colher resultados positivos disso tudo.

Como acordei mais cedo, as 6h15 eu estava totalmente pronta e só precisava estar na escola às 7h. Logo que saí do meu quarto eu aproveitei para acordar a Angélica e Pedro, não queria me atrasar. Bati na porta do quarto de Angélica, pedi para ela acordar, só pude ouvir alguns murmúrios. Agora é a vez do Pedro. Ah, ele é menino, vou acordá-lo de um jeito mais bruto. Dei um "tapão" na porta do quarto dele, e disse:

– Acorda moleque, não quero chegar atrasada. – Só ouvi os berros.

– Ah Catherine, vê se não enche!

Não pude controlar os risos ao ouvir a reação dele, mas o melhor de tudo foi que meu plano funcionou. Ele saiu do quarto com muita raiva, mas saiu. Desci as escadas e pude ouvir barulhos na cozinha, a tia Alicie já estava acordada, resolvi ir até lá e oferecer uma ajuda.

– Bom dia tia Alicie, dormiu bem?

– Bom dia Cath, dormi maravilhosamente bem!

– A senhora precisa de ajuda?

– Sim, pegue o pote de manteiga e os talheres e ponha-os em cima da mesa, por favor.

– Ok.

– E ai, Cath? Acha que vai passar direto?

– Eu espero, né? – dei um sorriso forçado. – meu futuro em Londres depende disso.

– Ainda bem que você sabe, mocinha.

Já tinham se passado 20 minutos, ouvi os passos vindos da escada, Angélica e Pedro já desciam prontos para ir à escola. Mas nem vi sinal da Sophie, ela sempre se atrasa. 

– Meninos, venham logo tomar café! – chamei pelos garotos que estavam indo em direção a sala de tv. 

– Nossa Catherine você acha que é quem? fica só querendo nos dar ordens. Que saco! – Pedro respondeu e eu apenas gargalhei, como de costume. 

Já tia Alicie só precisou dizer "Vou contar até 2 para vocês estarem aqui" e antes mesmo que ela completasse a frase, os dois já estavam sentando em suas cadeiras. Acho que eles não estavam a fim de ficar de castigo logo no começo das férias. Logo pude ouvir os passos e a vozes do tio Roberto e de Sophie ao descerem as escadas e virem em direção a cozinha.


– Bom dia atrasadinhos. – eu falei e todos riram. 

– Bom dia, sobrinha mais mandona do mundo. – tio Roberto me respondeu e nos fez sorrir mais uma vez. 

Então, quando todos estavam sentados na mesa tomando café, o silencio tomou conta por uns 5 minutos. Enquanto isso eu notava que Sophie estava meio insegura, acho que ela está com medo do resultado. Mas quando vi que só valtavam 10 minutos para às 7:00 horas, quebrei o silêncio daquele ambiente:

– Vamos? A escola não é muito perto e o trânsito também não ajuda. – Sophie permaneceu calada, pegou o celular e os fones de ouvido na mochila, entupiu os ouvidos e então levantou-se, fazendo com que todos também saíssem de seus lugares. 

Tio Roberto foi para o trabalho em seu carro, e a tia Alicie pegou seu e nos levou até a escola e quando chegamos, cada um se encaminhou pra sua sala para receber os resultados. A tia Alicie acompanhou Angélica, eu e Sophie fomos para a nossa sala e o Pedro seguiu sozinho.

A cada degrau que eu subia para chegar até a sala em que estudo, a ansiedade aumentava. Entrei e logo me sentei no meu lugar de costume, Sophie sentou ao meu lado e ainda permanecia calada. Já estavam todos ali, então o Professor Julião começou a fazer as entregas das "cartas" de resultado por ordem alfabética, meu nome começa com C então sai mais rápido. Foi questão de um único minuto para ouvir o professor Julião chamar meu nome.

– Catherine Svaizer. – fui até a frente da sala pegar a minha carta, pude notar a cara de ânimo que o professor passava para mim, então pensei positivo, respirei fundo e abri a carta. 

Estava escrito em letras bem grandes"Parabéns, você foi aprovado(a)". Aquelas palavras soavam tão bem dentro de mim, a felicidade estava transbordando, eu via aquela carta como o meu pré-passaporte para Londres. Comemorei só até ver que Sophie estava triste ao receber a sua, por isso me contive e fui consolá-la. Ela é inteligente e tudo, mas ultimamente tem andando com uma galera festeira e acabou se dando mal na escola. Ela ficou de recuperação em três matérias, e só fará os exames semana que vem.

Descemos as escadas da escola e fomos ao encontro de tia Alice, ela parecia feliz com o resultado dos filhos mais novos, ambos haviam sido aprovados o que só piorou a situação de Sophie. Enfim, minha tia ficou puta da vida com a situação e a deixou de castigo durante as duas semanas a mais de aula que ela teria de aula. Ela não poderia sair de casa nem mesmo que fosse ir à esquina (exceto para a escola, claro).

 Eu só sei que depois da entrega de resultados eu passei o resto do dia dormindo/ouvindo música e quando deu 22h eu já estava indo dormir mais uma vez, só queria que meu aniversário chegasse logo. Não que eu goste de comemorar essa data, mas esse ano ela terá um peso diferente, provavelmente ganharei minhas passagens para a Inglaterra.

GoldenOnde histórias criam vida. Descubra agora