Capítulo 1 - Perguntas

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Você já teve a sensação de que há algo faltando em sua vida? Eu sinto isso em cada coisa que faço desde que vim para Miami Beach há 3 anos atrás. Eu sou uma pessoa feliz, eu tenho tudo que as pessoas dizem que preciso para ser feliz. Não tenho família, pois cresci num orfanato perto de Indiana, no entanto, tenho amigos, um bom trabalho como garçonete na Cafeteria da Vovó, bem como, um violão. Numa escala exacerbada de futilidade, em que percentual se encaixaria ser totalmente devota a um instrumento que estava comigo nas melhores e piores horas? Era uma das minhas perguntas internalizadas, porém, sem resposta desde os seus primórdios de conceituação. Quando cheguei na Flórida, com pouco mais do que cem dólares nos bolsos e nada certo, conheci Margot Hills, a vovó, dona da cafeteria a qual atualmente trabalho. Era uma mulher espirituosa, dona de uma personalidade divertida, contudo, possuía uma dose exacerbada no que dizia respeito a ser politicamente correta, pelo menos com relação aos estudos.

A mulher recusou-me a empregar, caso eu não estivesse devidamente matriculada numa instituição de ensino, e a julgar pela minha idade, seria uma universidade. A Universidade Estadual da Flórida foi a minha única opção viável, já que teria de pagar pelo ensino e o salário a ser angariado no trabalho não me permitiria pagar muitos mais e não pode arcar com as despesas de um apartamento e mantimentos pessoais. A vida foi ajeitando-se gradualmente, uma vez que, veio o trabalho, o apartamento, minha pequena vespa rosa denominada Anastasia. Vieram também os amigos, que costumavam diminuir um pouco dos questionamentos pertinentes do meu Eu intrínseco. Martha Donovan, quarentona em potencial de sedução. Sim, ela definia-se desta forma, com seus cabelos castanhos e espessos, e aquele batom escarlate que nunca saia de seus lábios, em contraste também com a pele bronzeada. Se eu fosse como ela naquela idade estaria mais do que feliz, exceto pelo fato de ter mais de três casos românticos com menos de 25 anos durante uma semana.

Joseph Martin era o típico sonho das garotas, foi quem primeiro me recebeu quando adentrei o estabelecimento. Sorriso charmoso, cabelos dourados e corpo altamente definido. Ele era apenas um ano mais velho que eu, tendo 22. Nossa química foi imediata, eu não era uma garota muito convencional e lembrava-me de ter tido amizade com mais meninos do que meninas, quem sabe por ser o tipo de moça que amava ser uma típica moleca. O trio que se juntava a mim tornou-se minha família, e por algum motivo desconhecido, eu os abracei sem pestanejar. Eu estaria bem com ele em qualquer lugar. Sobretudo rindo das pérolas de cada um. Os sugeri milhares de vezes que abrissem um circo, estaria sendo o próximo circo de Solei.

Então, a rotina tornava-se bastante balanceada. Trabalhava meio período no turno matutino, enquanto que a tarde eu poderia ir à Universidade, e tendo retornado dela, passava para um turno de hora extra no café da vovó. Era um bom círculo vicioso, daqueles que não soam mal. Por mais que alguém tivesse me dito certa vez, que tudo demais é veneno. Neste caso, o veneno exibia-se bastante agradável. Naquela manhã de julho eu tinha o sobretudo nos braços, a chova e o frio haviam sumido sem explicativa alguma, ocasionando muita raiva em mim por apenas me prestar ao papel de apenas carregar peso. Acorrentei Anastasia no estacionamento de motocicletas e coloquei a bolsa dos livros e caderno na lateral esquerda do corpo. O sol encontrava-se ameno, nada agressivo e parecia mais um daqueles dias cinematográficos no qual Edward Cullen ou Hagrid apareceriam na sua vida para trazer uma nova perspectiva para ela. Que espirituoso pensar assim, aprendi com vovó Margot. Espiritualidade não era a alma do negócio, era ele propriamente dito.

- Ei, Cassie. – Richard Parker surgiu ao meu lado com sua aparência nerd e essencialmente devoradora de livros. Vide os cinco exemplares de obras que carregava nos braços.

- Fala, Jimmy. – Satirizei e caminhei igualmente com ele.

Jimmy derivava de Jimmy Neutron, o desenho infantil e que me lembrava Richard, não na aparência, mas na forma de ser. Eu o conheci no segundo dia de aula, e parece-me curioso porque todas as cosias em minha vida estavam ligadas ao segundo, menos o sexo, pois era uma defensora ferrenha de Simone de Beavouir. Infelizmente a mulher ainda era vista como o segundo sexo. Richard era o rapaz tímido que sentava na lateral direita da classe, sempre envolto aos livros e anotações. Por cursar jornalismo, certamente ele seria um repórter de redação de revista ou jornal. Estranhei o fato de ele ser tímido e estar em tal curso, no entanto, após descobrir as possibilidades que o guarneciam, as coisas se clarearam.

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⏰ Última atualização: Sep 13, 2015 ⏰

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