Capítulo 2

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Observei o preto e clássico objeto que se assentava entre os meus esguios dedos, apertava-o e fazia com que a pequena esfera, também designada como caneta esferográfica deslizasse sobre o papel branco com umas finas linhas acizentadas.

Não me enquadro na população jovem que por esta altura, quando volta a frequentar a escola, se queixa por já não ter a prática e rapídez na escrita pois, enquanto de férias nem na lista de compras de família se deu ao trabalho de escrever, 'Línguas de gato'.

No meu caso, as minhas férias tiveram poucas oportunidades de se livrar do papel e logo, a minha prática de escrita é equivalente a quando ainda estava em aulas.

Encontrei o olhar do professor de História que logo me dera a oportunidade de me retirar da sala de aula pois, a aula tinha terminado e ele deu-me o bonus de sair mais cedo.

O caminho até casa não era longo mas o suficiente para chegar cansada, imobilizei o meu olhar numa das máquinas de refrigerantes e pacotes de pequenas, deliciosas delicias acabando por comprar um pequeno pacote de bolachas Tostadas.
Baixei o meu sensível corpo agarrando no barulhento pacote de plástico, voltando a erguer-me.

Os meus pulmões encheram-se de ar, a minha expressão facial enchera-se de panico, os meus finos dedos apertaram as inocentes bolachas ao ver mesmo ao lado da máquina uma pessoa. Sem estar sequer à espera.

"Não era minha intenção assustar-te, desculpa" - Lamentou Sebastian, um dos meus colegas de infância que frequentava, por sinal, o mesmo ensino que o meu.

"Para a próxima não tenhas cuidado" - retorqui analisando o seu rosto coberto de acne e pequenos pelos na zona do queixo, relembrando-me de alguns dos efeitos que a puberdade poderia trazer.

"Eu prometo. Onde vais agora?" - questinou-me após eu ter aberto o pacote das bolachas e estendido uma delas até ao seu rosto, oferecendo-a.

Sebastian agradeceu e agarrou na bolacha, devorando-a, praticamente.

"Vou para casa" - informei abandonando tal como ele o edifício escolar, caminhando até ao portão vermelho que estaria exatamente em nossa frente.

"Posso acompanhar-te?" - Questionou sendo respondido com o meu habitual silêncio. - "A minha casa fica a caminho da tua, na última à esquerda tu vais para cima e eu continuo à esquerda, prometo que não te masso" - Explicitou tentando de alguma forma manipular-me.

"Estás em que curso?" - Mudei o tom de assunto concluindo que a minha resposta ao seu pedido era um 'Sim, podes acompanhar-me'.

"Ciências, apesar de não ter negado informática e tu?" - Replicou, questionando-me.

Sebastian diminuiu o passo dirigindo-se à area designada para o estacionamento das bicicletas dos alunos deixando a sua pergunta no vago. Retirou o cadeado da sua modesta bicicleta e subiu ao encontro do banco pedalando até ao portão, sendo ele o primeiro a abandonar o recinto escolar. Seguidamente, caminhei até ele que, teve por gentileza esperar por mim. Abandonei em segundo lugar o recinto dirigindo-nos até casa.

"Humanidades, sem dúvida alguma" - Exclamei dando continuidade à conversa.

Curvei os meus lábios oferecendo-lhe um pequeno e satisfeito sorriso, não sei exatamente se aquele sorriso serviu para aumentar o meu ego pois finalmente estava a seguir o que pretendia, ou se, sinceramente era em oferta ao meu colega.

Dei-nos por ambos calados, a fim de algum tempo, analisava-mos o piso em que a nossa sola do pé descansava e voltava a cansar-se, as rodas da bicicleta transportada por Sebastian apenas com as suas mãos, as árvores que se abanavam, os carros apesar de poucos, que pela estrada deslizavam, uma criança acompanhada pelo seu pai a quem contava tudo aquilo que desejava fazer quando crescesse.

Mas Despertei. Não porque quisesse mas sim porque Sebastian me obrigou a tal.

"Charlotte!" - exclamou ele despertando-me para a dura e ácida realidade.

Charlotte rodou o seu rosto oferecendo um sorriso a Sebastian e seguidamente cruzamos os dois caminho com ela. Deixei o meu olhar pousado nos próximos retângulos brancos desenhados no chão não me interessando pelo seu ser.

Sebastian ficou por volta de dois minutos à conversa com ela, e quando esse pequeno tempo terminou, ele correu com a bicicleta a dar-lhe pela cintura até mim, oferecendo-me a rápida e cansada respiração que logo eu escutara.

"Já não falas com a Charlotte, ainda te encontras zangada com ela?" - Questionou-me seguidamente observando o meu gélido rosto.

"Provavelmente" - Limitei-me a retorquir.

"Mas voces eram tão amigas" -Murmurou.

"Eramos, exatamente" - concordei não me pronunciando mais acerca de tal assunto.

"Deviam fazer as pazes" - Voltou a bombardear-me.

"Não sou eu que o tenho de resolver nada, mas sim ela" - Pausei retornando o meu discurso - "E se queres que te diga, encontro-me tão bem, que não necessito das desculpas dela, obrigada e fica bem Sebastian" - Conclui aproveitando a oportunidade de me despedir nem sequer tendo tempo para analisar o rosto do rapaz.

Comecei a subir a rua estando já estafada e desejando bastante a minha chegada a casa.

Charlotte era uma grande amiga minha, posso até afirmar que era a minha melhor amiga. Conheciamo-nos à 9 anos e eramos tal como irmãs.
Até um dia ela conhecer um rapaz e se apaixonar por ele. Sofreu pelo menos por dois tempos nas mãos dele pois, ele dizia que a amava exatamente do mesmo jeito que ela e de um dia para o outro, ele recebia nos seus braços a ex namorada.
Eu, por ser totalmente contra o facto de ele ter magoado Charlotte, devido ao que ela sofrera, limitava-me a rejeitar estar na presença dele. O que não agradou muito a Charlotte.

Mas eu estava apenas a lezar pelo seu bem estar.
A fim de alguns tempos, quando o rapaz terminou com a sua suposta ex namorada, Charlotte começou a relacionar-se com as amigas dele, tentando aproveitar-se disso para chegar até ao rapaz. Mas, isso fez com que me deixasse totalmente de parte e chateei-me.

Pergunto-me se por acaso ela era verdadeiramente minha amiga pois, até aos dias de hoje não teve a coragem de chegar à minha presença explicar o sucedido e desculpar-se.

Obviamente que seria capaz de a desculpar, mas iria ser impossível esquecer.

O meu habitual lema relacionado com este lado menos feliz da minha vida é : Friends before Dicks.

Dispo uma das alças da minha negra mochila retirando as chaves de casa dentro da mesma, insero-as dentro da fechadura da porta de madeira da entrada de minha casa, rodando-a finalmente.

Oláá novamente leitoras!

O próximo capitulo vai ser a continuação deste e finalmente vamos passar à ação com a Elizabeth em adulta a exercer o cargo de psicologia.

Queria saber a vossa opinião a tudo isto.

Comentem e votem!!

J.

M.D.A.A.Onde histórias criam vida. Descubra agora