Capítulo 2

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Finalmente os três embarcaram para a França. A viagem foi rápida e tranquila. Pelo menos aparentemente. Caroline sentia-se quebrada por dentro, e não tinha esperanças de que voltaria para a Inglaterra muito diferente daquilo.

A passagem por Paris foi breve, aproveitariam mais a cidade na volta. Inicialmente era apenas uma parada para a Espanha. Levaram dias para atravessar a França e chegar a Barcelona, mas todo o cansaço valera à pena. Jane não escondia o encantamento pela charmosa capital da Catalunha, enquanto Caroline respirava fundo a maresia. Precisava ver o mar. Não o mar frio e gélido do Reino Unido, mas o mar mediterrâneo, quente, vivo. Precisava de mudanças.

Acomodaram-se numa luxuosa hospedaria e assim que foi possível Caroline conseguiu que a criada destacada para seus aposentos a levasse até a praia, uma vez que Jane estava exausta.

As duas andaram bastante. O sol aquecia suavemente a pele de Caroline protegida pela sombrinha e gotículas de suor escorriam pelo seu decote. Mas ela não estava preocupada. A praia estava quase vazia e ela se arrumara apenas para não causar maiores comentários, porque na verdade estava perdendo um pouco da vaidade. Percebeu que a pobre mulher que a acompanhava estava cansada. Mas não queria voltar, não naquela hora.

- Aguarde-me aqui. Caminharei mais um pouco e depois voltaremos.

- Pero, mi señora, puede no ser seguro!

- No te preocupes, pronto vuelvo! – treinou seu espanhol.

Sem argumentos a criada ficou numa sombra à espera de Caroline que recomeçou a caminhada. Perdida em seus pensamentos não percebeu a longa distância que havia percorrido quando o corpo começou a reclamar. Sentia sede e exaustão, respirou fundo e deu meia volta. A cada passo que dava sentia mais cansaço e parecia que ainda estava mais distante. O calor lhe incomodava cada vez mais e sua vontade era entrar na água sem se preocupar com as roupas. Começou a passar mal, sentia o ar lhe faltar a qualquer momento. Deu o máximo de si, mas tudo escureceu.

Enrique saía do mar quando viu a moça cair na areia fofa. Correu até ela. Só aí percebeu que não vestia quase nada. Será que a dama desmaiara pela visão de seu corpo despido? Provavelmente não. Se estava ali desacompanhada, já deveria ser acostumada à visão de corpos masculinos. Então o que acontecera? Decidiu colocar rapidamente a roupa que estava jogada na areia perto dali e voltaria para tentar reanimar a mulher.

- Señora? Señora? Estás bien?

A ruiva permanecia inerte. Ele reparou na beleza do rosto dela pela primeira vez. Tinha um quê de fogo, de paixão. Não era uma mulher comum. Desceu os olhos e percebeu os seios subindo e descendo, presos naquele vestido quente, implorando por um toque. Seu corpo respondeu e ele torceu para que ela acordasse e dissesse em que taberna estava hospedada. Precisava sentir aquela boca em seu corpo naquela noite. Queria suas mãos naquele decote. Desejava descobrir o que mais existia por baixo daquele vestido. Só então reparou, suas roupas eram luxuosas demais para uma simples cortesã! Seria amante de algum homem endinheirado da região?

Ele a olhava tanto e não percebia que a água de seu cabelo escorria e de vez em quando pingava uma gotinha em seu rosto. Foi assim que Caroline acordou, encarando o estranho terrivelmente espantada.

- Estás mejor, señora?

Caroline esqueceu o básico espanhol que sabia ao ver o homem tão próximo de si. Estava apavorada, num lugar desconhecido e perto demais de um homem muito rude. Quem em sã consciência ficava tão próximo a uma dama? Aquele homem realmente não sabia o que eram os bons costumes.

- Afaste-se de mim!

Enrique obedeceu e descobriu o motivo pelo qual não conhecia a mulher. Ela era estrangeira. Mas era tão linda! Era de se estranhar o fato de que ainda não ficara sabendo de sua presença.

Corazón PartioOnde histórias criam vida. Descubra agora