Capítulo III - Elizabeth - "Eu exijo seu silêncio"

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Assim que a garota saiu pelo corredor parecendo á beira das lágrimas, virei-me para Nate, que era o único que não sorria ali. Pelo contrário, parecia arrependido ou amargurado.
- Olhe Nate, se queria defender sua namoradinha na minha frente, podia ficar á vontade. – disse ironicamente.
- Eu apenas acho que... – ele começou num fio de voz, sem me encarar, porém eu o interrompi.
- Quero apenas que se decida de que lado está. Eu odeio pessoas em cima do muro. Então coloque seu cérebro para trabalhar, Natezinho.
Senti algo em minha bolsa vibrar e a abri, pegando meu celular, no qual o número do meu pai chamava.
- Salvo pelo gongo. – disse sem olhar para ele e me levantei – Tenho que atender.
Andei um pouco mais rápido pelo refeitório e pelo corredor até encontrar o banheiro feminino. O celular já parara de tocar quando fechei a porta atrás de mim. Larguei a bolsa na bancada e sequer olhei se tinha alguém. Vasculhei as chamadas perdidas no celular e liguei de volta para meu pai, rezando para que ele atendesse.
- Alô. – uma voz grossa chamou do outro lado da linha.
- Pai! – eu disse abaixando o tom da voz, temendo alguém que pudesse estar ali escutar.
- Minha filha! Que saudades!
Pensei em inúmeras respostas irônicas que eu poderia dar naquele momento, porém deixei-as apenas no pensamento.
- Eu também estou, pai... – disse tentando não parecer com raiva. Eu realmente sentia sua falta, até demais, mas me enfurecia ele nem tentar ser mais presente – Mas hoje poderemos nos ver no jantar. – eu disse num sorriso involuntário.
- Filha, sobre isso...
- Pai. Não me deixe na mão. Por favor, de novo não! – minha voz se elevava a cada palavra.
- Elizabeth, eu preciso resolver isso. É uma emergência. Posso perder muito dinheiro nisso, caso fure. – sua voz parecia lamentar, mas não melhorou o fato de meus olhos estarem embaçando pelo início de algumas lágrimas. – Eu prometo que semana que vem estarei aí, minha filha.
- Não prometa algo que sei que não vai cumprir, pai. – disse entre os dentes – Como você ainda pode fazer isso comigo? Já não basta minha mãe! – as lágrimas caíram sobre meu rosto, fazendo uma trilha negra, por conta do lápis e do rímel em meus olhos.
- Eliza, eu...
- Não me chame assim! – eu o interrompi e me controlei para não gritar. Fiquei mais no fundo do banheiro, caso alguém chegasse pela porta e não me visse naquele estado. – Quer saber de uma coisa? Vá pro inferno. – soltei sem conseguir me controlar.
Desliguei o celular na mesma hora e joguei-o na bancada sem cuidado. Segurei com força meu cabelo, pensando seriamente se poderia arrancá-lo da cabeça depois disso. Olhei-me no espelho e reparei somente agora na trilha negra que ia dos meus olhos até as bochechas.
- Droga... – sussurrei para mim mesma, pegando rapidamente um papel e passando no rosto, o que só ajudou a borrar ainda mais.
Fui obrigada a molhá-lo e passei no rosto mais algumas vezes até que não tivesse mais nada. Estava tão ocupada olhando para meu rosto no espelho que não havia reparado na pessoa atrás de mim, olhando-me atentamente, parecia ter saído de um dos boxes. Virei-me ao ver seu reflexo e me obriguei a retirar a expressão de susto do rosto ao ver Brianna me encarando, seus olhos estavam bem mais vermelhos do que os meus, e ela não parecia temer escondê-los, ao contrário de mim. Fiquei pensando em quanto tempo ela estava ali. Teria ouvido minha conversa?
- É ruim, não é? – antes que eu falasse qualquer coisa, a garota se pronunciou. Olhei-a em total confusão – Ser forte na frente dos outros, reprimir a dor, e então desabar enquanto está só. – parei de respirar por um minuto e virei-me novamente para o espelho, deixando meu olhar duro disfarçar o medo.
- Não sei do que está falando. – disse calmamente pegando meu rímel dentro da bolsa e passando novamente nos olhos.
- Não precisa esconder. Eu ouvi. – respirei fundo, já ficando impaciente e vi o olhar da garota ficar temeroso quando me virei para ela e guardei o rímel.
- Pelo menos é melhor do que ser como você, desabando em ambas as situações. – disse ao colocar a bolsa no ombro. Ela pareceu pensar um pouco.
- Mas por quê? Por que esconder isso assim? Está fazendo não só mal aos outros, mas a si mesma.
Fitei seu olhar, que parecia tentar me intimidar, mas no qual eu só analisei o medo. Devia ser difícil para ela me enfrentar. Levei minha mão a seu rosto e ela fechou os olhos, se retesando, porém eu apenas usei meu polegar para secar por baixo de seu olho, que ainda possuía alguns traços de lágrimas e ela voltou a abri-los, confusa. Na verdade foi confuso pra mim também, apenas um impulso, porém eu não queria demonstrar afeto, e sim superioridade.
- O quanto você escutou, querida?
- O suficiente.
- Pois bem. Você vai esquecer todo 'o suficiente'.
- Ou? – ela pareceu juntar toda a coragem para dizer aquilo.
- Ou... – eu a segurei e a virei de frente para o espelho, olhando nosso reflexo – Tudo o que eu já fiz com você não vai passar de uma brincadeira de criança, senhorita filosófica. Estamos entendidas? – eu sorri e sem esperar a resposta, saí do banheiro e fui andando até a sala, onde a professora já entregava os testes.
Sentei-me em minha carteira e coloquei as mãos sobre a boca, permitindo-me respirar fundo o suficiente para minha preocupação no momento. Se aquela garota não se calasse, eu a calaria. Olhei para o teste em cima de minha mesa enquanto via de relance Brianna entrar na sala e dei um meio sorriso. Era uma ótima oportunidade para uma pequena apresentação, pensando bem. Ao pegar minha lapiseira e caneta na bolsa, puxei um pequeno pedaço de papel e anotei nele algo que me recordava vagamente sobre a matéria, tentando repetir igualmente a letra que havia visto num dos cadernos caídos de Brianna logo cedo.
Assim que ela se sentou, perceptivelmente evitando olhar-me, esperei que se virasse para o outro lado e analisei rapidamente a professora de costas para mim no momento, minha mão escorregou num movimento rápido para sua mesa e deixei o pedaço de papel ali. Pelo menos na nossa sala ainda não havia uma câmera instalada. Peguei a lapiseira e fingi pensar enquanto lia aquelas palavras que para mim, não faziam sentido algum. Reparei Brianna voltar a dar atenção á folha a sua frente e pegar o papel que eu havia deixado lá, franzindo o cenho. A professora levantou-se, provavelmente para olhar o "andamento" da turma, que, diga-se de passagem, era considerada a pior. Ninguém devia estar realmente fazendo o teste. Se a novata fosse bem, iria para outra, mas se meu plano desse certo, creio que não. A professora chegou entre nós duas e eu continuei a ler a primeira pergunta sem dar importância àquelas palavras.
Observei pelo canto do olho ela se inclinar para pegar o papel das mãos de Brianna sem cerimônia e lê-lo. Tive de me controlar para não rir. Como aquela garota podia ser tão ingênua? Não vira que a professora estava vindo, ou não percebeu o significado disso? A Srta. Poo pareceu não acreditar no que estava lendo. Logo se abaixou e falou em sussurros com Brianna, cujo rosto estava de um vermelho escarlate, tentando não atrair atenção, mas é claro que mais da metade da sala se virava para tentar escutar. Como eu estava do lado, era mais fácil, porém escutei poucas partes.
-... A coordenação disse que não precisaria se preocupar com estes testes, por ter chegado logo no meio do ano e a situação estar complicada... Não precisava fazer isso para nos mostrar que é boa... Devia ter estudado, e não ficar colando na hora do teste, Brianna. – seu tom era gentil, e Brianna abria a boca a cada minuto para tentar se explicar, o que não funcionava.
-... Infelizmente, terei de retirar um ponto de sua média. – a Srta. Poo disse um pouco mais alto e voltou á sua mesa duramente. Eu sorri brevemente, enquanto a garota parecia á beira das lágrimas.
- Quer dizer que a bichinha do mato também não é muito inteligente? – eu disse sem me importar com a altura. Diversos alunos á nossa volta riram, e Brianna olhou para mim como se não acreditasse que fora eu a fazer aquilo.
- Quer perder mais ainda suas notas, Srta. Taylor? – a voz da professora disse alto.
- Não senhora. – eu respondi, porém havia um sorriso em meu rosto quando voltei a pegar na caneta.
Brianna continuou a me encarar por um tempo, mas não parecia ter coragem para me acusar, muito menos na frente da professora. Seus olhos brilhavam um pouco, parecendo que realmente havia segurado algumas lágrimas. Eu havia conseguido estragar sua imagem com um simples gesto, então o que me impedia de mais? Ela pareceu entender o recado. Fiz um breve sinal de silêncio com o indicar sobre o lábio antes de ambas voltarmos a escrever.


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