Prólogo

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Eu sempre quis morrer de uma forma cinematofráfica, com uma última palavra de efeito ou com um ultímo beijo na pessoa que eu amar - e que por sinal, eu nem sei se existe... Acho que não, mas sonhar não mata.

Nesses meus sonhos, decidi que no meu último suspiro, vou dizer "enfim" e fechar os olhos como sinal de um "adeus". Legal, não?!

- Acorda, boneca! - era assim que me chamavam.

Boneca. Você pode até pensar que é um apelido safado por eu parecer uma bonequinha de animes com aqueles peitões, baixinha e com cabelo liso e preto. Tudo bem, eu realmente sou assim, mas vem ao caso que meu nome é Emilia. Eu já pensei várias vezes em descer as escadas num domingo de manhã e gritar com a minha mãe sobre essa maldita escolha de nome, veja só! Uma boneca de pano! Ao menos me pusesse o nome de Ariel ou de Bela, mas de uma boneca de pano é uma baita sacanagem, mamãe.

- Sequer posso conversar comigo mesma! - brinquei com Rafaela, minha melhor amiga.

Estamos no penúltimo ano do colegial e eu não chego perto de saber o que eu quero para minha vida. Talvez eu vire uma dona de casa com dez filhos e um marido barrigudo que passa a vida com os pés no sofá, a cerveja na mão e criando raíz para ninguém mais sentar.

Não, acho melhor eu tratar de escolher logo uma faculdade. Gosto da ideia de ter ao menos dinheiro para comprar roupas para mim mesma.

- Boneca! - lá vem o raio do meu amigo, Gustavo. - Não está atrasada para a aula de filosofia?

- Não querendo parecer revoltada... Mas para que eu vou numa aula onde o professor só sabe criticar os críticos por fazerem o que ele mesmo faz? - levantei as mãos ao ar como sinal de indignação - É contraditório e meio hipocrita, não?

- Guuuuuus! - o grito veio de trás de mim e todos nós já sabiamos que se trata de Alana.

- Lá vem a apaixonada... - Rafaela me deu um tapa no braço e eu ri. A culpa é minha se ela nem sabe disfarçar essa cara de "vem cá, Gus, me beija" que ela faz?

Estavamos sentados atrás dos bancos do campo de futebol, ninguém nunca nos encontrou lá, então já virou nosso ponto de "morte à aula sempre!" como dizia a Mariana que já tinha a mesma altura de Napoleão mesmo.

- Meninas! Novidades, novidades! - gente, eu ainda não sei o que leva elas a chamarem aquele lugar de esconderijo se todas vinham gritando e pulando, essa foi a vez de Laura - Consegui convites para o...

- Fala logo, Laura! - Alana já estava ficando vermelha de tanta... Eu não sei o motivo que faz ela ficar assim sempre.

- Baile. - Sussurei.

- Para o baile! - Vamos tampar os ouvidos! Lá vem gritos!

Dito e feito.

Não sei o que fazer em um baile. Não sei dançar, não me dou muito bem com vestidos justos e longos, ainda mais com saltos. E quem dirá um príncipe!

Depois que terminei, eu não tenho muito interesse em sair ou qualquer coisa do tipo, já que ele não era só meu namorado, mas eu melhor amigo também. Eu só ia por ir mesmo, mas ir por ir num baile é pedir para morrer solteira e perder meu último beijo na hora de morrer. Acho que vou beijar o chão mesmo, ainda mais se eu morrer atropelada.

O sinal tocou e eu não falei nada nesse diário, acho que só reclamei, mas é a vida.

Talvez mais tarde eu me lembre que eu sou uma adolescente normal que precisa de um diário cor-de-rosa para socializar - ah, para!

Eu também preciso me despedir do diário? Acho melhor eu ver um tutorial de diários no Google mesmo.


Dear, Dear Diary.Onde histórias criam vida. Descubra agora