Arrepios percorrem o seu corpo, eriçando os pelos da nuca de uma maneira que você nunca sentira, como se uma pedra de gelo escorresse por suas costas. E aí vem o medo, uma vontade de gritar, de correr, chorar, tudo ao mesmo tempo, mas você não tem forças para sequer mover um dedo e permanece no mesmo lugar, estaqueado e prendendo a respiração.
É assim que dizem que você se sente quando encontra o misterioso homem da Rua Crow. Foi assim que eu me senti quando o encontrei.
O chapéu coco combinava com o terno, assim como os sapatos lustrosos contrastavam com a maleta de couro surrado. O som dos pés tocando o paralelepípedo ecoava pela rua sem movimento. Passavam das nove da noite, as lojas já estavam fechadas, as baladas ainda não tinham aberto as portas e, assim, só restavam os sons vindos dos cafés e dos pequenos bares cheios de pessoas que haviam acabado de sair do trabalho ou aquelas que não tinham um trabalho.
- Bando de vagabundos. – exclamou Josh, depois ele apertou a maleta contra o corpo ao ver um dos bêbados saindo de dentro de um bar. – Se tivessem uma família não estariam aqui enchendo a cara.
Josh tinha 40 anos, formado em jornalismo, trabalhava para o segundo jornal mais vendido da pequena cidade de Lisytown, escrevendo obituários, notas de rodapé, retratações de erros e tantas outras coisas que nenhum jornalista que se prese quer fazer.
Ele odiava o trabalho e não podia dizer que sentia muito orgulho da sua família, mas preferia estar com a esposa mandona e o filho adolescente que só pensava em festas a ficar bebendo em um bar em uma esquina qualquer. Ele era um homem de bem, apesar de tudo.
Josh apertou os passos quando uma ventania começou e os relâmpagos ficaram mais próximos. O caminho até sua casa era longo, ele sempre ia caminhando, seguindo pela estrada principal da cidade até entrar em uma pequena rua que levava até seu bairro. Mas havia um atalho, uma ruela que mal era vista, levando até o parque onde os jovens se encontravam para usar drogas e saía na Rua Crow.
- Vou cortar caminho hoje. – Disse Josh decidido olhando para o céu e vendo a escuridão aumentar.
Ele odiava cortar o caminho, tinha uma cisma com o parque e, principalmente, com a Rua Crow. Lisytown é uma cidade minúscula e, como qualquer cidade interiorana, tinha suas lendas. A mais assustadora destas lendas, para Josh, era relacionada à Rua Crow.
Aumentando ainda mais o ritmo de seus passos, o homem entrou pela rua à esquerda e, depois de 200 metros, saiu de frente ao parque. Os jovens estavam lá, bebendo e fumando como sempre, prontos para atacarem qualquer um que lhes lançassem um olhar mais torto. Josh apertou ainda mais a maleta contra o corpo, quase a escondendo na perna.
Por sorte, a distância a ser percorrida no parque era curta e rapidamente ele chegou à Rua Crow. Uma estradinha de paralelepípedos cercada de casinhas em estado deplorável, de madeira nas janelas e sujeira por toda parte. Não passava nem um carro por ali e, ainda que o fizesse, não teria muito espaço para um segundo automóvel.
A lenda falava sobre um homem, que surgia à noite na Rua Crow. Alguns diziam que era um belo jovem, outros um velho decrépito, mas todas as diferentes versões se tornavam idênticas quando relatavam os sentimentos que a pessoa tinha ao encontrar com o tal homem e o que ele fazia.
Josh era cético, mas não era burro o suficiente para ignorar a história. Talvez por isso, quando ele viu uma outra pessoa vindo de encontro a ele, o sentimento que tivera fora de aceitação, como se já esperasse por aquilo. Só depois tudo se transformou em um medo incomparável.