Diga "Olá, Verão!"

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O outdoor gigantesco a minha frente parecia me desafiar. Todas aquelas luzes brilhantes e as letras enormes que pareciam rir maquiavelicamente de mim. As crianças extremamente empolgadas, os adultos extremamente crianças e os portões amarelos que, mesmo um pouco enferrujados nas dobradiças, não deixavam de cumprir seu papel: convidar toda aquela merda de cidade para se juntar ao "divertimento". Tudo aquilo, somado aquele dia abafado de Julho, parecia mais um monstro de sete cabeças com a palavra Spaceland X coroando o que tinha tudo para ser o pior verão da minha vida.

Torrando naquela camiseta azul e com uma bolsa no ombro, eu sentia minha nuca começar a suar e os fios de cabelo se soltar do meu rabo de cavalo. Ainda parada, encarando ao gigantesco outdoor com os olhos semicerrados pelo sol, pensava em como meu verão na Inglaterra acabou se tornando um verão no espaço. E não literalmente, para minha infelicidade - aquela nave espacial brilhante no outdoor também estava claramente zombando de mim, aliás.

Uma família - composta por mãe, pai, avó, avô e crianças com casquinhas de sorvete - estava a alguns passos de mim, em frente aos portões amarelos. O pai, com suas meias brancas na canela e camisa de mangas curtas segurava uma Polaroid em frente ao rosto, enquanto o resto deles posavam com sorrisos alegres e rostos suados. "Digam: Spacelaaaaaand!", o pai gritou, e o resto da grande família feliz o obedeceu. Tudo parecia perfeito até um dos pequenos ser empurrado pelo cotovelo do avô e a choradeira desembestar. Fim da família feliz.

Observei o pequeno caos ali instaurado um pouco horrorizada, um pouco indignada. A inexperiência total com aquele tipo de situação fazia de mim cética - e reclamona, diga-se de passagem. Mas, pelo amor de deus, por que precisam ficar tão perto um dos outros?

- Ei, mocinha! - sobressalto. Usando uma camiseta amarela desbotada e um boné azul com uma seta gigante presa no topo, um senhor magro e encurvado interrompeu meu devaneio familiar - Está perdida, precisa de ajuda?

Eu suspirei e tentei sorrir, mas provavelmente saiu como uma careta.

- Não, obrigada - eu disse - Estou aqui pelo emprego.

Ele sorriu bondosamente, e disse:

- Boa sorte, então!

Oh!

Droga.

A única razão para te desejarem "boa sorte" na vida é porque você, certamente, vai precisar.

Eu tentei lhe sorrir de novo e ele se afastou berrando para os visitantes:

- Bem-vindos ao Spaceland X! Preparem-se para uma aventura espacial!

Bem, já que estamos aqui, pensei, é hora de jogar.

Enchendo os pulmões do ar quente de Dayton, ajeitei minha bolsa no ombro e dei início a tal da minha "aventura espacial".

+++

Tudo começou no mês passado. Uma noite quente no sofá da minha sala. Papai sentado do outro lado da mesinha de centro, os braços apoiados nos joelhos e uma expressão tensa. Havia dias ele vinha me pedindo para conversarmos - "uma conversa séria". Nos meus 18 anos de vida, nunca achei que meu pai fosse ter "a conversa" comigo, ele sabia muito bem que mamãe já tinha cumprido esse papel há quase cinco anos, antes de se mudar para Alabama com o Roger Sei-Lá-O-Que. Dessa forma, protelei o máximo possível da famigerada conversa séria, afinal, estava tentando aproveitar o que me restava do ensino médio. Papai podia esperar.

Mas no dia seguinte ao Baile de Formatura, dois dias antes da Colação de grau, papai berrou da cozinha que me queria no sofá em cinco minutos e que qualquer desculpa resultaria em atitudes drásticas. Temendo pela viagem marcada, desci a contragosto. A verdade é que eu só estava fazendo uma cena. Não esperava que fosse nada demais mesmo. Mas papai, pela primeira vez na vida, me surpreendeu.

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⏰ Última atualização: Sep 24, 2015 ⏰

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