Vinte e Quatro - A chegada do herói

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Youngsan esperava no portão de desembarque com um largo sorriso no rosto. Procurava ansioso pelo irmão entre as poucas pessoas que saíam. Final de setembro não era uma época muito animada para o turismo na Ilha.

Enxergou a cabeça despenteada de Youngjae e franziu o cenho ao perceber um rapaz ao lado deste, mantendo um papo "alegre" demais. Seu irmão não era tão sociável daquele jeito com estranhos.

O mais novo balançou os braços no ar e chamou a atenção dele, que foi acompanhado pelo, até então, desconhecido.

— Yoo Youngsan! — Abraçaram-se rapidamente, dando leves tapinhas nas costas um do outro após se soltarem. — Como está a vida?

— Corrida. Você nem imagina o quanto. — Respondeu com sinceridade, olhando de lado para o estranho, que observava os irmãos com um sorriso no rosto. — Mas estou feliz.

— Imagino que esteja. — Youngjae cutucou Daehyun com o cotovelo, empurrando-o ligeiramente até o mais novo. — Youngsan, este é Jung Daehyun.

— Jung Daehyun!? Ele veio mesmo? — A reação do irmão fora algo um pouco surpreendente. Esticou a mão direita para o cantor, que a chacoalhou com intensidade, não diminuindo o sorriso. — É um prazer conhecê-lo.

— Digo o mesmo! Seu irmão sempre me conta as histórias de vocês.

— Mas as melhores eu, pessoalmente, te contarei...

Os dois começaram a caminhar até o estacionamento, esquecendo o economista por alguns minutos, enquanto trocavam experiências de viagens desastrosas. Youngjae, desacreditado, olhou as malas pesadas que teria que levar sozinho e bufou alto. Youngsan mirou o outro por cima do ombro e avisou, sem parar de andar:

— Youngwon está no carro. Vamos!

...

Os três não se demoraram muito até o lado de fora; Daehyun parou com rapidez para comprar um salgado e um suco, comendo enquanto conversava com o Yoo mais novo.

— Você não acredita quem veio com Youngjae. — Comentou Youngsan ao se aproximarem do último que esperava. O mais velho esticou o pescoço e viu o irmão acompanhado de um rapaz desconhecido. A feição se distorceu em curiosidade, mas a compreensão logo chegou.

— Jung Daehyun? — Chutou contente, cumprimentando-o com um aperto de mãos enérgico. — Meu irmão fala muito de você. Deus o abençoe!

— Digo o mesmo. — O canto dos lábios arqueou em um sorriso ainda mais brilhante. — Sinto-me famoso entre vocês. Todo mundo parece me conhecer.

— Youngjae fez questão de nos contar cada detalhe sobre você e de como o ajudou nas primeiras semanas em Seul. Sabemos sobre tudo.

O cantor arqueou a sobrancelha esquerda e encarou os três Yoo's com dúvida. A família não era homofóbica? Ambos não estavam ali para assumir o relacionamento? Como eles já podiam saber de tudo? Entortou os lábios para o lado, formando um biquinho contrariado.

Decifrando a feição estranha de Daehyun, Youngjae tentou chamar sua atenção discretamente. Balançou os braços um pouco afobado demais, fingindo ajeitar a blusa; assobiou e bateu os pés em uma música desconhecida; cochichou o nome do moreno e, por fim, desistiu com um suspiro resignado. O mutismo se manteve enquanto os outros dois irmãos intercalavam os olhares entre o cantor e o economista, tentando decifrar o que acontecia ali.

— Oh, ele te contou? — Optou por ser neutro, jogando verde para colher maduro.

— Mas é claro! Não há segredos entre nós. — Youngwon afirmou com orgulho, abrindo os braços para o céu. Youngjae arregalou os olhos e tossiu alto, finalmente conquistando a atenção de quem precisava. Sorriu amarelo e passou a mão direita no pescoço repetidas vezes; um sinal claro de agonia. "Não abra sua boca, não conte ainda, eles não sabem de nada. Apenas fique em silêncio. Não fale!" repetia as frases desordenadas, torcendo para que o rapaz entendesse ou tivesse a capacidade de ler sua mente. Infelizmente, não a tinha.

— Is-Isso é ótimo. Somos uma família muito unida! — Cortou, por fim, o economista, não confiando em Daehyun para apaziguar a situação. Youngsan olhou-o estranho, reprimindo uma risada; o irmão mais velho e ele trocaram um olhar rápido novamente, recheado de significados. — Ainda não gosto de viajar de avião, vamos logo para casa.

— É você quem manda. — Entraram no carro vermelho de Youngwon, se espremendo entre cadeirões e brinquedos diversos. Ao girar a chave na ignição, uma música alta e infantil começou, fazendo os quatro pularem de susto no banco. — Crianças. Tudo pelas minhas crianças. — Explicou-se, desligando o som.

Youngjae se remexeu desconfortável e puxou uma boneca de pano debaixo de si. Analisou-a, sentindo falta dos caçulas da família.

— E a minha nova sobrinha? Já está chutando?

— Sobrinha? Está um pouco atrasado nas notícias. Nós seremos tios de um MENINO. — Retrucou Youngsan, batendo as mãos nas pernas ao rir. — Seul te deixou tão louco assim, mané?

— Você nem imagina... — Sussurrou contra o vidro, apoiando a cabeça no mesmo. Um pouco incomodado com a quietudade no veículo, esticou-se para ligar a música. Melodias infantis eram melhores do que o silêncio.

— Daehyun, aposto que adorará meus filhos. — O mais velho comentou certeiro, animado com a ideia de manter uma conversa com o novo "amigo".

Percebendo seu desconforto, o cantor apertou a mão do economista levemente, fazendo movimentos circulares com o dedão por toda a extensão da palma suada. Aliás, aquela não era a única parte úmida de seu corpo. O nervosismo estava drenando toda a água disponível dentro de si.

...

— E aqui estamos nós. — Youngjae abriu a porta da casa de seus pais vagarosamente, parecia temer encontrar um monstro que o devoraria. Talvez encontrasse, mas o monstro seria a própria família; um bem mais temível e malvado do que qualquer bicho papão.

Escutaram barulhos na cozinha e, em fila, os quatro partiram para lá. Daehyun seguia atrás do economista, constantemente contendo o impulso de segurá-lo pela mão ou de amaciar-lhe os ombros.

Um casal de senhores arrumava uma extensa mesa de jantar; a toalha florida cobria o tampo de madeira escura e sobre eles haviam talheres de prata e taças brilhantes. Ambos pararam com as atividades ao notarem a companhia estranha na cozinha. Os olhares se fixaram no cantor, que imediatamente dobrou o corpo em 90º, mostrando seu respeito à eles.

O economista pigarreou algumas vezes e respirou fundo, fazendo a devida apresentação (ou quase):

— Mãe... Pai... Esse é Jung Daehyun. Ele é o meu...

Colega.

Amigo.

Conhecido.

Melhor amigo.

Ficante.

Companheiro.

Namorado... NÃO!

As palavras fugiram de sua mente de repente, morrendo ao fim de cada frase que tentava formular. Como deveria apresentá-lo? Devia jogar a informação logo de cara? Devia deixar em aberto para uma suposição dos pais? Rodeou-se de dúvidas e preferiu fechar a boca.

Herói! — O cantor falou aquela palavra com tanto entusiasmo e espontaniedade que causou uma pequena crise de risos na Senhora Yoo.

— Muito prazer, Super-Homem. Seja bem-vindo à família.

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