7º Capítulo - Clara

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Se eu fiquei magoada com o fato de papai ter escondido de mim uma coisa tão importante? Sim, fiquei um pouco chateada, mas nada arrasador que poderia abalar minha vida.

Eu sei que ele só queria o meu bem. Realmente seria desconfortável saber que tinha um pai-guardião durante mais de 10 anos de minha vida.

_ Sua atitude me surpreendeu, querida. - soou a voz de mamãe por detrás de minha cabeça.

Eu estava recostada ao parapeito da varanda mais alta do palácio, observando o horizonte.

Virei-me e sorri para ela.

_ Marcel estava certo. Se fosse eu no seu lugar, Clara, não teria me controlado. - continuou.

_ Provavelmente papai estaria de olho roxo? - perguntei em tom de brincadeira.

_ Não, - ela riu. - mas eu deixaria de falar com ele por, aproximadamente, uma semana.

Sorri e suspirei. Algo pesava em meu coração... Um pressentimento, talvez. Um pressentimento ruim.

_ Como está aí dentro? - perguntou mamãe enquanto se aproximava e apontava para meu coração.

Meus olhos encheram-se de lágrimas.

_ Sabe quando um furacão bagunça uma cidade por inteira, virando tudo de ponta cabeça? - confessei.

Ela assentiu.

_ Mas qual a origem desse furacão? - quis saber, interessada em ajudar.

_ Tudo. - uma lágrima escorreu por minha bochecha. - A confusão, que antes já existia, ultimamente está afetando-me cada vez mais.

Notando que eu precisava de carinho, mamãe tomou-me em seus braços e envolveu-me num longo abraço.

Sem conseguir aguentar, deixei que as lágrimas escorressem por meu rosto.

Ela tocava meu cabelo com ternura e beijava minha testa a cada minuto.

Decidi que deveria exalar todo aquele sentimento de angústia. Queria libertar-me do medo, da insegurança e da dúvida.

_ Mãe, sinto que meu lugar não é aqui. - sussurrei.

_ Minha filha, não se preocupe com isso. O que tiver que ser, será!

***

A noite logo chegou.

Depois de minha conversa com mamãe, sentia-me muito mais calma e relaxada. O jantar foi breve e, após despedir-me de todos, fui para meu quarto.

O sono não chegava. Meus olhos estavam arregalados e meu coração mostrava-se acelerado.

Algo deixava-me tensa. Sentia como se alguém estivesse a me observar.

O pavor enchia-me o peito e a mente. Entretanto, reuni a última gota de coragem que me restava para observar o quarto.

O guarda-roupa estava com a porta aberta, a luz da lua refletia no espelho da penteadeira, alguns livros estavam jogados na escrivaninha e uma silhueta estava parada na janela.

Meu corpo gelou. Dei um pulo e quase caí da cama. Uma silhueta parada na janela?

A coisa que me observava saltou para dentro do quarto e se aproximou.

_ Afaste-se! - ordenei, horrorizada.

Lentamente saí da cama e fui atrás do interruptor.

Sob o fraco brilho da lua o ser era indeterminado, mas, no momento em que as luzes se acenderam, pude notar que quem me observava era um rapaz jovem, com cabelos negros e bagunçados. Era alto e tinha olhos verdes.

O Ciclo de Sangue - A Escolha da Herdeira (livro 02)Onde histórias criam vida. Descubra agora