O professor entrou na sala com uma pilha de livros na mão, colocou-os na mesa e pegou um caderno, fez a chamada, e só então ele olhou para nós pela primeira vez, um olhar... Observador.
- Bom dia, turma. - disse por fim.
Respondemos "Bom dia" em um côro invejável que se tivessemos ensaiado não teria funcionado. O Sr. Genovivis riu de nossa sincronia.
E eu, dediquei alguns segundos para observá-lo, ele tinha os cabelos loiros grisalhos e quase inexistentes na cabeça, era baixinho, e como não poderia faltar, ele tinha uma barriga mais que saliente que o deixava mais baixo ainda. Mas ele parecia ser um cara legal, eu tinha impressão de que iria gostar muito de sua aula.
- Pra começar, eu gostaria que a turma se dividisse em grupos, porque juntos...
- Somos mais. - Bernardo completou, com um ar quase debochado e arrancou risadas de quase todos na sala.
Como eu disse, quase todos, já que o professor não parecia estar gostando nem um pouco de estarem banalizando a frase que ele considerava ser a verdade absoluta.
- Exatamente. É muito bom ver que você tem pleno conhecimento sobre o nosso lema. - falou com indignação, mas também com um pouco de diversão na voz. - Mas continuando, quero a turma dividida em oito grupos de cinco pessoas, pra ontem. Vocês tem cinco minutos pra trazerem os nomes até minha mesa.
A sala foi tomada por um alvoroço terrível, todos estavam se movimentando, já que ninguém queria sobrar ou ficar em grupos de pessoas de quem não gostavam. Eu estava com esperança de que
Lorena me chamasse para seu grupo, por isso planejei me levantar e caminhar até o meio da sala para perguntar se ainda havia vaga na equipe, mas Bernardo veio até mim.- Você já tem grupo Julie?
Óbvio que não.
- Ainda não.
- Então, você quer ir com a gente? Ainda temos uma vaga.
- Pode ser. Seria legal.
- Vou coloc...
- Já está completo Bê. - Marcela disse, interrompendo-o.
- O quê? Mas ainda faltava alguém, eu chamei a Julie.
- Eu já coloquei a Bia, vamos. A Juliana encontra outro grupo.
- É Julieta. - disse quase num sussurro.
Bernardo apenas olhou pra mim e pediu desculpas, e eu dei de ombros e torci para que alguém precisasse de uma outra pessoa no grupo. Passeei pela sala procurando um grupo que precisasse de mais gente, mas achei apenas duas meninas - Rose e Carol - que aceitaram formar equipe comigo.
- Ainda precisamos de duas pessoas.
- Bom, acho que o menino que está do meu lado ainda não tem equipe.
Claro que ele não tinha, o garoto não tirou os fones em nenhum momento, não falou uma palavra, nem manifestou qualquer interesse em fazer contato com a turma.
- Nós não falamos com ele. Na verdade, ninguém aqui fala. Ele é muito esquisito.
- Muito esquisito. - Carol enfatizou quase que com medo.
- Se você for falar, tudo bem.
- Já estou indo. - falei e fui em direção ao garoto.
Me aproximei, e toquei em seu ombro, mas ele nem se moveu. Repeti o toque e novamente não obtive resposta. Passei as mãos pelo seu rosto. Eu sei, não era nem de longe a coisa mais educada a se fazer, mas eu precisava de sua atenção, antes que o professor percebesse que os cinco minutos já tinham terminado e nós ainda não tinhamos a equipe completa. O garoto nem se moveu, e continuou a me ignorar, então numa medida desesperada, eu tirei os fones de seus ouvidos, em um movimento brusco.
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Encontro (COMPLETO)
SpiritualLivro 1 "Você pode não entender o porquê, mas o pra quê vai te fazer sorrir!" Sonhos e pesadelos entraram na rotina das noites de Julieta. Desde que perdeu o pai, a garota é tomada pela vontade de ter morrido junto com ele e o arrependimento de ter...