Scarlatti Narrando

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Estava feito. Apesar de toda dor causada pelas lembranças, eu finalmente fui capaz de me entregar outra vez. Reprimir as lágrimas foi uma tarefa difícil, e ainda está sendo, mas obrigo-me a permanecer com cara de paisagem até que Dylan se vá.

O sexo foi... Estranho. Diferente da ultima vez que estivemos juntos, quando senti uma conexão além das sensações físicas. Hoje, pela primeira vez eu não me entreguei por inteira. Meu corpo estava ali, porém meus pensamentos estavam a milhas. A dor não somente fora física como emocional também. No entanto, meu corpo não condizia com meus sentimentos, assim como quando eu me me submeti tempos atrás, meu corpo não se importara com meus desejos, o que fez com que eu alcançasse o ápice mesmo contra minha vontade.

Eu ainda estava debaixo do corpo de Dylan, lutando quietamente contra os fantasmas que insistiam em me assombrar, enquanto ele respirava com dificuldade. Ele fuçou meu cabelo com seu nariz, inalando meu cheiro.

- Isso foi tão bom... - ele resfolega em meu ouvido. Eu fecho os olhos e suprimo o anseio de chorar que me pressiona. Sinto que a represa de lágrimas está prestes a se romper dentro de mim, mas como não posso permitir que ele veja isso luto até o ultimo segundo. Pressentindo que não tenho muito tempo, eu empurro seu peito para que ele saia de cima de mim.

Dylan me olha com aturdirdes, franze a testa e pisca.

- Está tudo bem?

Eu tento esboçar um sorriso enquanto aceno um sim, mas só consigo uma careta. Dylan passa a língua pelos lábios e ergue o corpo, olhando-me profundamente.

- Scar... - Ele se levanta finalmente, se ajoelhando no sofá. O peito moreno exposto com uma leve camada de suor. Apesar de tudo, não posso deixar de me encantar com seu corpo atlético. Mas dado aos sentimentos presentes estou longe de sentir-me atraída no momento. Dylan Passa os dedos por entre os cabelos revoltos e larga um suspiro - Fiz algo de errado? - Enfim pergunta.

Eu nego com a cabeça e evito olha-lo. Deus! Como é difícil. Como é árdua a tarefa de conter a dor em meu peito. Eu me levanto as pressa e visto meu vestido e calcinha. Em todo momento, sinto os olhos de Dylan sobre mim e seu que está confuso.

- Tenho... - vendo que minha voz não se encontra nas melhores condições, eu forço um pigarro e lhe dou as costas - Tenho muitas coisas a fazer, Dylan. Melhor... Melhor você ir.

- Mas... - ele não diz nada, aparentemente sem entender coisa com coisa. Não posso culpa-lo por isso, nem pela dor que carrego ou tampouco pelo meu passado, mas é fato que não estou satisfeita com sua presença ali. Na verdade, eu desejava me jogar em seus braços e me entregar a tristeza que me abatia r a dor que me sufocava, mas negava-me a ser tão vulnerável.

- Vai, Dylan - murmuro, e viro o rosto ao sentir uma lágrima cair do meu olho esquerdo. Eu entro no banheiro com certa urgência, e a primeira coisa que faço é me jogar contra a porta. As amarras que seguram meu choro e a torrente de lágrimas dentro de mim finalmente cedem, e soluços mudos escapam do meu peito. Ouço uma batida na porta ao lado de fora, e a dor em meu coração aumenta.

- Scar? - Dylan me chama, a preocupação nítida em sua voz me quebra ainda mais - Scarlatti, fala comigo - ele pede, todavia não sou capaz de falar, o embolo em minha garganta me impede.

- Vai... Vai embora - forço-me a dizer, torcendo para que ele não perceba nada através da minha voz. Sei que é inútil pensar que ele não vai notar nada, mas ainda torço por esse milagre.

Após alguns minutos intermináveis, não ouço mais sua voz me chamando e as batidas na porta cessaram. Espero sinceramente que ele tenha ido embora, pois não posso lidar com isso agora. Não ainda. Quando sinto o silêncio ao meu redor, informando-me que sim, ele tinha se ido, eu finalmente derrapo sobre o chão, completamente em frangalhos. Às lagrimas já não encontram a resistências de antes escapando assim livremente. Meu corpo todo treme e meus soluços entrecortados vem sem intervalos, deixando-me em puro desespero. Imagens do passado me cegam involuntariamente. Minha garganta está seca e dolorida, mas não há nada que eu possa fazer para amenizar a dor; A agonia. O que me resta é passar por isto até que eu esteja minimamente aliviada para seguir com o dia. Mas, minha nossa! Como é insuportável. As imagens não facilitam em nada e é como se eu tivesse regressado ao passado, sentindo na pele o arrepio de antes, os apertos de mãos grandes e firmes e um corpo maior que o meu me subjugando. Nada pareceu ter mudado e eu volto a ser aquele menina de antes, a sonhadora que acabara de ver seu sonho de ser mãe indo embora. Tudo está confuso, mas não isso, não a sensação de estar revivendo o mesmo momento repetidas e incansáveis vezes.

Minha Tentação - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora