"Quando você está em frente à morte o seu caráter transparece."
Foi o que ouvi minha mãe falar certa vez, há muito tempo, quando a guerra estava aumentando e pessoas estavam morrendo sem qualquer explicação visível. Ouviam-se boatos de torturas e feitos estrondosos. Ouviam-se boatos de súplicas e de coragem diante do último suspiro. E minha mãe tinha sua teoria sobre o que acontecia naquele momento específico.
"Seus medos vão embora ou consomem você, James." Ela dizia enquanto encarava-me com seus olhos escuros e profundos. "E, naqueles poucos segundos de distância na linha tênue que separa a vida e o nada, você é o que você é."
Lembro-me de nem lhe dar muita atenção ao ouvi-la. Lembro-me que, àquela época, a perspectiva de morrer nem passava por minha mente.
Eu era James Potter, o maroto quebrador de regras; aquele com melhores amigos inseparáveis, as ideias geniais, as aventuras escondidas. Isso para não falar em minha inteligência. Quem quereria se enfiar em meu caminho sendo eu tudo aquilo e muito mais? Quem iria ousar tripudiar James Potter?
Claro, era um pensamento estúpido e totalmente arrogante, mas, bem, eu tive minha fase.
Mas, pouco tempo depois de ouvi-la falar aquilo, a vida pareceu se tornar cada vez mais tortuosa e intransigente. Eu estava com medo e a guerra aumentava a cada dia mais, aproximando-se como uma tempestade prestes a explodir sobre nossas cabeças. E então eu me vi pensando na morte muito mais do que em todos os meus dezoito anos de vida.
"Por isso temos de dar sempre o nosso melhor, James." Ela dizia sem nunca desviar os olhos dos meus. "Para que, quando chegarmos a este momento, tenhamos orgulho do que fomos durante a vida. Para que, quando chegar a nossa hora, possamos de fato encarar a morte como uma velha amiga." Lembrei-me de ouvi-la mencionar a velha história que me contava em noites chuvosas, antes de dormir. Sobre os três irmãos e a capa da invisibilidade. Sobre não temer a morte. Sobre viver a vida da melhor forma possível para não haver arrependimentos.
Suas palavras ressoavam em meus ouvidos de forma frequente naquela época.
E então eu tinha dezenove anos e muitas responsabilidades sobre meus ombros. O inimigo por trás da guerra finalmente havia se mostrado e então tínhamos muita sujeira para limpar. A Ordem da Fênix e seus ideais era o ponto alto, o esquadrão contra as Artes das Trevas. A esperança de um povo bruxo amedrontado. A última saída naquele mar de mortes e destruição e eu, James Potter, estava lá guerreando no alto escalão, junto de meus melhores amigos. E de minha amada.
Apesar de todos os pesares eu não conseguia pensar numa época mais feliz de minha vida. Todas as coisas as quais amava estavam unidas com o mesmo propósito e eu tinha certeza de que, no final de tudo, daríamos conta do recado.
Afinal o que poderia querer se enfiar em meu caminho? Eu, James Potter, um soldado. Três melhores amigos que dariam a vida por mim e, por fim, mas não menos importante: o amor da minha vida.
Tudo estava bem. Por algum tempo.
Até que as coisas se tornaram tão assustadoras que ninguém mais saía para as ruas. Ninguém sabia em quem confiar. O mundo estava um caos. E eu, James Potter, estava no meio de tudo aquilo.
E as palavras de minha mãe ecoavam em minha mente mais uma vez.
De que forma eu poderia não ter medo de morrer quando havia pessoas que dependiam de mim? Eu não era mais James Potter, o maroto. Eu era James Potter, esposo e, em um futuro próximo, pai.
A alegria e o medo ao ouvir aquela notícia foram extremos. Nosso amor finalmente dera frutos e nós seríamos pais. Mas também teríamos um novo ponto fraco. Algo pelo qual deveríamos nos preservar. A vida do bebê dependia da nossa então e não poderíamos jogá-las fora.
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He didn't say always
Fanfiction"Seus medos vão embora ou consomem você, James." Minha mãe dizia enquanto encarava-me com seus olhos escuros e profundos. "E, naqueles poucos segundos de distância na linha tênue que separa a vida e o nada, você é o que você é." Algum pouco sobre Ja...