A família doze

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Minha cabeça lateja a mil quando acordo no quarto do hotel. As cortinas se mantém completamente abertas me deixando completamente cega pela luz que ultrapassa a parte descoberta das janelas de vidro. Começo a me arrepender da balada de ontem quando vejo minha aparência de "eu bebi mais que um porco na noite passada" e ligar isso ao fato de que hoje vou conhecer minha mais nova família adotiva.

Mamãe Lisa. Papai Jonh. Irmão Andy.

Graças ao idiota do meu pai tenho que aguentar milhares de pessoas novas todos os anos desde que ele foi preso em 2002, quando matou minha mãe durante a noite enquanto dormia.

Tomo um belo banho longo e quente deixando todo cansaço da noite de festa escoar ralo abaixo. Apesar do banho meu rosto continua um pouco abatido me deixando com cara de "eu dormi tarde porque fiquei farreando, mas não bebi nada, eu juro.". Sabia que depois da produção ficaria com uma bela aparência.

Meus amigos dizem que sou o tipo barra pesada, talvez seja o cabelo escuro, talvez os olhos castanhos, ou o próprio batom vermelho e as jaquetas e calças de couro. Eles foram as únicas pessoas que não foram embora da minha vida. Os conheci quando tinha doze anos, na minha primeira família adotiva, encontrei-os na escola, Amy e Kyle, os nerds em química, festeiros, e palhaços da turma, casal do ano de todos os anos apesar de não ser um de fato. Eles me encontraram no fundo da sala olhando pela janela a aula toda, e simplesmente acharam que faltava um elemento no grupo e me puxaram. Eles sabem das minhas condições e as respeitam então desde que me dei mal em todas as matérias da escola e me meti em confusão com algumas pessoas fui mandada para outra escola com outra família.

O táxi chega assim que faço o check out, Liam, meu acompanhante durante a jornada do orfanato à nova casa, me ajuda com as malas e as coloca no porta malas do carro se sentando ao meu lado, em seguida.

– Você vai se comportar dessa vez? – ele pergunta.

– Depende, meu querido. – ele revira os olhos, como sempre. – Assim, se eu gostar do lugar e me divertir, sim, eu me comporto.

A cidade de Big Sur é maravilhosa, as praias,as ruas, as lojinhas e até mesmo as pessoas. Claro, na Califórnia as pessoas são beijadas pelo sol todos os dias, alguns costumam surfar apesar de não ser muito propicio. O tempo todo da viagem Liam fica me falando como devo me comportar e como devo agir e por ser minha décima segunda família eu já deveria saber e "acatar". Fala sério, quem fala "acatar"?

– Já sei, Liam. – respondo grosseiramente.

– Você sempre faz meu emprego o mais difícil possível. – ele reclama.

– Sei que você me ama. – me gabo. – E que vai sentir saudades de mim.

– É sempre um prazer ir até baladas te procurar. – ele sorri.

– Mentiroso, você vai porque gosta de festejar. – desmascaro-o. – Sei bem que gosta de festas.

Ele balança a cabeça negando, mas sorrindo, me dando completa certeza que eu estou certa.

Em mais alguns minutos, curvas e quarteirões de viagem finalmente chegamos ao destino: uma casa grande e bonita. Duas janelas de vidro enfeitam a fachada, uma de cada lado da porta, ao lado da esquina uma chaminé aparente dá um charme às paredes brancas. Dentro da casa é possível ver, antes das cortinas, um magnifico jardim alto de inverno, com algumas orquídeas brancas.

Uma mulher de cabelos loiros abraçada a um homem de cabelos escuros sorri ao me ver sair do carro, sorrio de volta. Um garoto jovem, mais velho que eu, provavelmente com uns dezenove anos beija a bochecha da minha "mamãe" e acena na minha direção me fazendo quase desmaiar.

– Beatrice! – exclama ela. – Como foi a viagem?

– É Lisa, né? – pergunto tímida.

– Ah, pode me chamar de mãe, como quiser. – diz ela.

– Ah, certo, mãe. – ela abre um sorriso ainda maior quando a chamo assim. – A viagem foi ótima, obrigada. Na verdade um pouco cansativa.

– Se você quiser pode dormir um pouco. – diz meu pai.

– Posso dormir durante a noite, eu quero muito conhecer a cidade, parece um lugar lindo. – elogio.

– Andy poderia lhe levar, se quiser, eu e seu pai vamos chamar algumas pessoas da vizinhança para lhe apresentar. – avisa minha mãe.

– Tudo bem, vou arrumar meu quarto e me arrumar, se pudermos sair mais trade vou agradecer. – digo.

– Saímos as três, vou levar Paul com a gente, vai gostar do cara. – ele afirma com uma piscadela.

Acho que vou me divertir muito com essa família, ou, para ser mais exata, com meu novo irmão.

Minha mãe e meu pai me levam até meu quarto. A decoração me agrada, a cor das paredes é branca, mas diversos utensílios e decorativos tem as cores azul escuro e amarelo, alguns cor-de-rosa e fru fruzinhos, mas não os levo em conta. Arrumo as roupas no armário de portas de correr feitas de espelhos. Percebo que há roupas no armário já compradas. Resolvo usar uma delas, um short jeans descolado e uma regada com um cropped aparecendo, resolvo colocar meu velho tênis azul e amarrar o cabelo.

Ao fim das minhas horas me arrumando e ao meu quarto pego o celular e desço procurando algo para comer e tudo que encontro é uma lasanha de queijo.

– Micro-ondas existe. – diz Andy pulando o balcão.

Ele pega o prato e o coloca no micro-ondas.

– Sei que existe, mas cheguei há menos de um dia. – digo.

– Sei bem, você se atrasou bastante. – diz ele. – Mas valeu a pena esperar, eu acho, minha mãe ficou bem feliz com você aqui. Ela sempre quis uma menina.

– Bem, agora ela tem. – sorrio.

– Olha garota, não se faça de boba, não machuque minha mãe e não a decepcione, entendeu? – ele diz, nervoso. – Ela já perdeu coisas demais, não vai ser você que vai faze-la ficar mal de novo.

– Eu mal cheguei, como você pode achar que eu vou fazer alguma coisa pra sua mãe?

– Só, estou cansado de vê-la chateada, não faça eu me arrepender de ter te trazido para cá.

Levanto as sobrancelhas, chocada com tudo que acabo de ouvir. Engulo minha saliva, junto dela meu orgulho.

Como a lasanha em silencio, sendo observada por meu irmão mais velho. Temino de comer, lavo meu prato e saímos de casa.

Seu carro é um estilo antigo azulado sem teto. Sento-me ao seu lado e observo a cidade enquanto corremos.

– Quantos anos você tem? – pergunto sem desgrudar os olhos da rua.

– Vinte e um. – ele responde. – E você, dezessete?

– Vou fazer no próximo mês. – digo. – Me conta sobre sua vida, nossa família, tudo que me interesse.

– Eu sou adotado também, desde bebê, minha mãe morreu e me deixou para minha mãe cuidar, ela fez seu trabalho. – ele faz uma pausa. – Ela sempre quis ter outro filho, uma menina, mas nunca pôde. Até chegarmos onde estamos. Quisemos adotá-la porque sabemos que você é osso duro de roer quando o assunto é parar em algum lugar, e minha mãe adora um adolescente rebelde, sou a prova disso, mas apesar de tudo ela sabe que eu nunca faria nada para magoa-la. Enfim, já sabe o que interessa.

– E a escola? – pergunto.

– Não está escrito que gosta da escola na sua ficha.

– Não gosto da escola, gosto de pessoas divertidas, coisa que você não tem sido desde que cheguei. – retruco.

– Vamos buscar Paul e você vai saber como sou divertido. – ele faz uma pausa e me observa atentamente. – Teremos muito tempo para eu te provar como sou divertido.


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⏰ Última atualização: Oct 03, 2015 ⏰

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