Sequestrada

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Parecia mais uma manhã comum de aula com a velha matéria sendo exposta no quadro negro e as intrigas familiares entre o pessoal da alta hierarquia escolar, os populares. Eu era a deslocada, vivia em um canto buscando uma maneira de esconder os fones de ouvido com as mechas azuis, recém pintadas, do meu cabelo. O que foi uma tentativa falha, afinal a dona Marta com sua visão de águia me notou e pediu, gentilmente, se é que me entende, que eu me retirasse da sala.
Desde então as coisas aconteceram muito rápido. As luzes do corredor começaram a piscar, de início suspeitei daqueles velhos cabos de instalação mas então um estranho calafrio atingiu minha espinha e com um golpe fui presa pelo pescoço em uma das paredes que de repente se tornaram mais frias do que o comum.
O que parecia ser uma mão gélida e forte apertava meu pescoço contra a parede impedindo que o ar circulasse em meus pulmões. Tentei mover as pernas e chutar o que quer que fosse a minha frente mas era em vão, parece que minha hora havia chegado e eu nunca pensei que morrer fosse tão doloroso.
Senti que minhas mãos e pés que antes lutavam contra a presa agora perdiam a força e se entregavam para o destino, o oxigênio chegou a seu limite e nada mais entrava ou saía por minhas narinas. As pálpebras coloridas por sombra lilás agora davam adeus ao mundo concreto e calmamente se fechavam quando de repente ouço um tiro e com um baque meu corpo bate contra o chão.

[...]

Abri meus olhos com certa dificuldade diante da luz que invadia meu rosto. Abafei a claridade colocando as costas das mãos em frente ao emissor da luz, uma janela. Depositei meus pés descalços no chão frio, e caminhei ainda desnorteada tentando relembrar dos últimos acontecimentos.
Tudo bem, um vulto tentou me matar e ele foi morto por uma ... Arma? Que tipo de fantasma morre levando um tiro?
Definitivamente aquela não era hora para descobrir. Apertei os olhos investigando o local em que estava. Um cômodo praticamente vazio decorado apenas pela tintura marrom clara e pela cama com um lençol.
Ah que ótimo! Não era meu quarto e o pior, não tinha comida! Poxa, se era para me sequestrar que ao menos tivessem trazido comida.
- Parece que a Cinderela acabou de acordar. - Uma voz adentra o cômodo logo após abrir a porta.
Automaticamente eu me viro e dou de cara com um homem. Alto, de barba feita e cabelo curto com olhos incrivelmente verdes.
- Errou de conto querido, quem cai em sono profundo é a Rapunzel e bem, para ela acordar é necessário um beijo de um príncipe ... Oque não é o caso, afinal eu não estou vendo nenhum por aqui. - Sorri, sarcástica.
Para meu contra gosto, ele também sorriu.
- Você é das minhas ... - Ele mordiscou o lábio inferior e logo em seguida se aproximou me oferecendo a mão. - Sou Dean.
Ah qual é. Primeiro a pessoa brinca com a minha cara, sussurra "você é das minhas" mordiscando o lábio e depois me oferece a mão tentando omitir sua face do mal. Não caio nessa.
Revirei os olhos e sentei na cama.
- Oh Sammy, tenho uma missão para você. - Comentou ao vento assim que notou meu desprezo por sua presença. - Sabe como é, sou meio anti social. - Piscou para mim e saiu.
Quanto abuso.
- É ... - Uma nova cabeça surgiu na porta, dessa vez portando um cabelo estilo "índio" e com olhos castanhos. - Me desculpe pelo meu irmão, ele é ... Ele é ...
- Eu ainda tô aqui! - Gritou o outro lá fora, não pude conter uma risada.
Tudo bem, tudo bem. Eles podem ser sequestradores maníacos querendo meus órgãos para vender no mercado negro mas eu simplesmente não consegui conter o riso. Me julguem.
Ele revirou os olhos.
- Sou o Sam. - Este também esticou a mão.
Mas que mania era essa? Eu não queria apertar a mão de ninguém.
- Tudo bem, já percebi que apresentações não são muito seu forte. - Ele riu, mas assim que notou que continuei inexpressiva reatou a postura. - Se eu fosse estranhamente carregado para longe de casa também dispensaria isso. - Depositou as mãos no bolso. - Normalmente são mais agressivos, mas você está bem, hum... De boa.
Novamente eu sorri. O que estava acontecendo comigo, sério? Em menos de dez minutos esses dois caras já haviam me arrancado dois sorrisos! Dois! Muito menos do que Cassie, minha tia maluca, conseguia em um ano inteiro.
- Você não fala muito em? Então acho que devo esclarecer tudo mesmo assim. - Ele respirou fundo, como se tomasse fôlego para soltar algo importante. - Você foi atacada...
Ah jura? Me contive para não ironizar.
- Por algo invisível. Esse algo, era, era ... Um espírito.
Tudo bem agora era oficial, eles me arrancaram três sorrisos.
- Olha se quer me matar faça logo tudo bem? Sem enrolação ou história para criança dormir. Sem meio termos, simplesmente o faça. - Bufei, cruzando os braços.
Ele parecia surpreso.
- Oh! você fala. - O outro adentrou o quarto, tirando sarro.
Fiz uma careta.
- Tudo bem, tudo bem... Jenna...?
- Jen, me chama de Jen.
- Ok, Jen. Você tem que acreditar na gente, alias, não tem escolha sabia? Foi atacada por algo invisível do qual matamos com uma arma. Você deve saber que não se mata um espírito com arma, se afasta, com uma arma de sal.
- Uou, dessa eu não sabia. - Revirei os olhos novamente. Eles eram patéticos.
- Ela era mais legal calada. - O do olho claro se manifestou novamente.
Apertei meus olhos o encarando raivosa.
- Já que não quer acreditar na gente pelo menos prometa que não vai aparecer na escola durante essa semana, vamos dar um jeito naquela coisa e tudo volta ao normal. Mas você não pode voltar lá.
- Ah poxa, alguém precisa saber que encontrei sequestradores legais que me deixam faltar na escola. - Ironizei novamente.
- Ah, eu desisto. - O tal de Sammy saiu balançando seus fios de índio.
Encarei o outro.
- O que? Não olha para mim, se ele deu as cartas eu nem vou tentar.
E saiu também me abandonando à mercê de um quarto escuro e solitário, com fome e a possibilidade de quase ter sido morta por um fantasma.


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⏰ Última atualização: Oct 01, 2015 ⏰

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