"Eu não...p-por fav-...me per-"
A sentença não pôde ser concluída.
Os ferimentos eram graves e os golpes que os originaram haviam sido certeiros. Em poucos segundos o sargento Huang ZiTao não seria nada mais que um corpo gelado, jogado em um beco escuro qualquer de Seul.
Será que ele realmente se arrepende, ou só está tentando salvar a própria vida?
Era o que pensava Kyungsoo, enquanto olhava o corpo que se debatia debilmente à sua frente.
De qualquer forma, não faz diferença.
De início pretendia ter feito um serviço mais limpo, desferido menos golpes, entretanto, não tivera escolha quando o outro começara a gritar pedindo por socorro, de modo que teve que o silenciar rapidamente.
Mesmo sabendo que Tao era um fraco – sabia que o homem não tentaria um enfrentamento direto, e mesmo que tentasse não teria chances - não imaginava que o mesmo faria algo tão ridículo.
Engasgando com o próprio sangue e tentando implorar por sua vida, ZiTao morreu.
Era a primeira vez que Do Kyungsoo matava, que via a luz deixando os olhos de alguém, mas não seria a última.
Não poderia ser a última.
Qualquer um que tivesse assistido a cena estaria agora esperando por uma risada ou um sorriso de vitória, visto que o menor não parava de encarar o cadáver à sua frente – até o Do esperava fazer algo assim -, como acontecem em filmes quando o assassino finaliza o trabalho e fica admirando sua obra, rindo da vida que acabara de tirar.
Porém o que se seguiu foi um mórbido e intenso silêncio.
Tudo que o mais novo possuía era um sentimento de "missão cumprida", e talvez um pouco de remorso, que ele logo tratou de afastar.
Pois afinal, a morte não o divertia e não havia matado por prazer.
Aquilo era uma promessa, um dever, que ainda não havia sido inteiramente cumprido.
Depois de mais alguns segundos analisando a face do chinês e o estado em que o mesmo se encontrava, Kyungsoo se virou e foi em direção à seu carro, que estava estacionado a algumas quadras dali.
Não se deu ao trabalho de checar se haviam evidências que pudessem lhe incriminar. Sabia que não haveriam. Havia passado anos treinando para isso, aperfeiçoando-se por completo, para que agora pudesse cumprir seu propósito e receber, o que considerava ser, sua pequena retribuição.
Não permitiria que nada nem ninguém ficasse em seu caminho.
E ainda que não gostasse da ideia de tirar mais vidas do que planejava, transformaria Seul em uma cidade de fantasmas se esse fosse o preço.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ghost Town
Romance"Vi todos trancarem os portões Não pude entrar Andei entre as chamas Chamei o seu nome Mas não houve resposta E agora eu sei que meu coração é uma cidade fantasma"