Crianças geralmente gostam de brincar de dia, mas não Nino, o menino quieto e silencioso na escola tinha um segredo: gostava de sair à noite, fingia dormir à seus pais e às 3 a 4 horas da manhã estava ele, surrupiava embaixo da cama deles para roubar-lhes a chave guardada no armarinho, saindo para um passeio noturno na cidade então deserta esperando voltar ao amanhecer antes de seus pais acordarem. A cidade, dessas em estado de modernização ainda tinha muito verde e casas grandes de madeira com cercas pequenas, como cidade campestre, era um chamado à descoberta, o que era feito em Vila da Luz ficava em Vila da Luz.
Nino tinha algum prazer em saber que os olhos vigilantes dos adultos estavam adormecidos, e portanto seria livre naquela hora misteriosa. Mas não hoje, ele estava sendo observado, uma sombra denunciou.
Para manter os olhos dos adultos fechados pelo sono era necessário não fazer alarde, Nino estava completamente só em meio da rua, e não havia pensado que encontraria alguém acordado aquela hora, "deve ser somente um mendigo" achou.
Mas as luzes da cidade, que já era pouco iluminada, se apagaram de repente, e sem luz não haveria de voltar para casa em pleno breu, tendo somente a luz da lua como guia, e essa o forçava a caminhar no meio da rua, pois as árvores grandes faziam eclipse. Não tendo escolha, achou que seria melhor parar o caminhar por ali, e sabendo-se culpado, não podia chamar a atenção da vizinhança com gritos de medo, "serei considerado burro e covarde", algo que garotos de 9 anos não podem se dar ao luxo de sê-lo.
Aventurando-se no breu, contava os passos por memória e não muito por visão, a rua estava realmente escura, ainda pensava que a prefeitura havia mandado cortar a luz para economizar, os pais lhe cobravam algo similar ao fechar a geladeira. Estava imaginando sussurros o que o fazia apressar-se e suar gelado na noite fria.
Já considerava-se próximo de casa, quando a lua simplesmente desapareceu momentaneamente por uma nuvem, o deixando completamente no breu, os sussurros tornaram-se risadas, daquelas que nem as hienas do rei leão poderiam simular, imaginava.
A lua ao voltar apontou à sua casa, e ele correu e abriu a porta em desespero, "nunca mais, hoje é a última noite" pensou. Voltando ao seu quarto notou algo estranho, os móveis não eram os mesmos, sua casa não era aquela.Foi ao quarto de seus pais devolver a chave, ao abrir a porta quietamente, viu uma grande sombra sobre a cama já avermelhada de seus pais, ele não podia acreditar:
- Ele está comendo eles!