Havia uma máxima que pairava constantemente sobre a cabeça de Uchiha Sasuke.
Começou com os conselhos de sua amorosa mãe; enquanto cozinhava, com a voz semelhante ao assovio do rouxinol, falava ao filho mais novo: Esteja sempre com alguém que lhe transmita aconchego e segurança, Sasuke-kun. Alguém que seja a personificação de um abraço ou de um cafuné. Na cabeça de um garotinho de seis anos, a única coisa que lhe apetecia era saber o significado de uma palavra tão extensa quanto personificação, contudo as únicas pessoas, pelo
menos entre aquelas que faziam
parte do seu mundinho infantil,
que poderiam representar aconchego e segurança eram sua
própria okaa-san e seu aniki.
O problema era descobrir que perderia justo essas pessoas, tempos mais tarde, de uma forma ou de outra.
***
Estar no time Kakashi, contra sua vontade, aos doze anos, fazia com que ele sentisse um comichão na boca do estômago e a voz de sua mãe fazia-se ouvir em sua mente. As palavras aconchego e segurança estavam nos conselhos de Kakashi, nas risadas e provocações de Naruto e no olhar caloroso de Sakura. Na floresta da morte, em meio ao desespero de ser oprimido pelo selo da maldição do sannin asqueroso, Orochimaru, ele conquistou uma palavra nova: refúgio.
Nos braços de Sakura, teve a sensação de que nada poderia o atingir, nada poderia o machucar, ele tinha uma redoma amorosa e gentil.
Entretanto, seu refúgio era uma faca de dois gumes: o deixava seguro, mas demandava sua proteção. Sakura precisava ser protegida por ele. Por isso, ir embora foi difícil, mesmo que necessário.
Deixá-la, assim como deixou seu melhor amigo, o fazia sentir-se irresponsável, ainda que fosse para proteção de ambos. E o que o consumia ainda mais era sentir que sem Sakura, era como se ele fosse um sem teto. Mesmo que estivesse em um castelo, sentia-se ao relento. Era um desabrigo emocional, mas a dor era quase física.
As ações que se sucederam após a morte de Itachi o deixaram desnorteado.
Tudo era confuso, vertiginoso, desesperador. Como estar sob uma chuva ácida, sem nada para cobrí-lo. Doía.
Machucar Sakura fisica e emocionalmente, deu-lhe a capacidade de ver seu abrigo ser destruído e no fundo de sua alma, mesmo que negasse veementemente, queria que tudo pudesse ser consertado, nem que o preço fosse o consumo de sua alma.
Na guerra pode ver Sakura majestosa, forte, incrível. Ela definitivamente, não era um simples refúgio; era um forte, uma muralha. Deusa mortal e gentil.
O seu peito se inflou de orgulho e não se importava se soaria como prepotência declarar que ela era sua; ela era, sem mais acréscimos.
Tomá-la em seu seus braços - depois que ela colapsara ao usar de todo o seu chakra para abrir portal que iria tirá-lo de outro mundo -, foi uma satisfação plena. Em sua mente dizia: Eu posso ser seu refúgio agora. Esteja em mim, você vai ficar bem. Eu vou garantir isso.
Demonstrou sua proteção prendendo-a em um genjutsu. Esse era o jeito Uchiha Sasuke de proteger, magoando, ferindo. Em sua cabeça, não havia um modo diferente.
Mas depois de tudo ele a pediu perdão. Mesmo que para ele tenha sido uma tentativa medíocre perto da dimensão de seus atos, ela o aceitou. Era da natureza de Sakura perdoar. O coração dela era amável e acalentador; como o coração de uma mãe.
Despedir-se dela, era ter a certeza de que mesmo que seu coração fosse um tanto ou um quanto nômade, seu refúgio era fixo e esperaria por ele. E Sasuke certamente regressaria.
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Refúgio
Short StoryEntre todos os caminhos do último Uchiha, a única certeza está em quem é o seu refúgio.