Após exaustiva e longa viagem o marujo inexperiente pergunta ao capitão:
O senhor prefere o porto ou o oceano?
Com mais de 40 anos nos mares a resposta poderia parecer óbvia mas o comandante respondeu:
- Ambos tem seus encantos. O porto e sua segurança, a certeza da volta ao lar, a firmeza da terra. É o que almejamos quando estamos em alto mar, é para ele que trabalhamos, que corremos riscos, que nos ausentamos.
Já o oceano...nossa paixão, nosso momento de ousadia, o que nos faz diferente de todos os outros. Saímos das tormentas mais fortes, quase deuses e na calmaria nos sentimos donos daquele lugar, num falso domínio tão perigoso como a tempestade.
E continuou sob a atenção do jovem:
- O curioso e talvez o maior erro que cometemos nesta jornada é querer estar num lugar enquanto estamos no outro. Viva cada momento como o último, desfrute da agradável serenidade do porto, das conversas jogadas ao vento, da companhia dos seus; faça daqueles pequenos atos grandes ações. Da mesma forma seja o senhor dos mares; lute com todas as suas forças contra as ondas gigantes, aprecie cada paisagem única que a água te proporcionar, cada raio de sol que incidir sobre sua pele, cada gota de chuva que o céu puder te dar. Não pense que as dificuldades não aparecerão. Por certo preferirás a segurança da tua casa a um maremoto. Ah garoto...mas quando você domina o maremoto nada vai superar aquele momento, comparável talvez 'as suas grandes paixões mundanas.
O marinheiro, em lágrimas, tinha a certeza de ter feito a escolha certa. Ainda que o preço a pagar fosse muito alto.