Epílogo

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ANTES de tudo, quero esclarecer algo. Quero esclarecer a ideia de como este livro surgiu. Há muito tempo na época em que eu era um adolescente tímido e estranho (Meu Deus não acredito que já se passou tanto tempo assim) uma amiga em especial veio até a mim com aparência cansada e com os olhos fundos. Ela era uma mestiça linda com um olhar - ainda que pequeno - marcante. Renata era seu nome.

Ela me disse que um dia iria escrever um livro sobre a tortura que é ter de utilizar o transporte público para fazer qualquer coisa. Aquele mar de gente em cima de você te cutucando, te deixando sem humor e ainda por cima, todos extremamente mal educados. Contou algumas histórias as quais eu realmente quase cai da cadeira de tanto rir.

- Será um bom livro Renata. Mas qual nome você pretende dar a ele?

Várias ideias loucas surgiram. Me lembro de alguns nomes como:

"O Sofrimento Sem Fim" (Muito Sofrimento).

"A Luta Diária" (È uma luta ter de utilizar o metrô as 7hs da manhã aqui em São Paulo).

"Diário de um axezeiro" (Deixe-me explicar essa. Para Renata, metrô era como um grande trio elétrico, cheio de pessoas que ficam pulando e que gostam de axé, logo axezeiro. Entrar em um vagão era a mesma sensação de estar em um trio,só que sem ter de utilizar o abadá, aquela regata super colorida com o nome das bandas de axé que depois são utilizadas para treinos em academia).

Até que enfim começamos a chegar em um consenso. Lhes digo que dar um nome a um livro é tão difícil quanto dar nome a uma criança.

- Diário de um peixe em lata! - ela bufou. Me sinto um atum enlatado todos os dias.

- Que tal diário de uma sardinha? - Falei entusiasmado. Aquela ideia de ler um livro sobre tudo isso, realmente me deixou animado.

- Fechou! E sabe o que eu pensei?

- O que?

- Quer escrever este livro comigo?

- Você ainda tem dúvidas? - respondi orgulhoso.

Claro que as provas finais e a preguiça foram muito maiores do que meu desejo em ser escritor e nunca realmente demos um pontapé inicial á este livro. De vez em quando me pego pensando nesta conversa de tanto tempo atrás. Nunca mais tive contato com Renata depois que terminamos o ensino médio. A vida é tão engraçada. Quando somos adolescentes não víamos a hora de terminar o colégio, mas nem pensávamos de que junto com o fim daquele ano letivo, algumas amizades também terminariam, assim como tantas outras pequenas coisas. Enfim, o nosso projeto sobre o livro nunca foi concluído. Bem, nunca foi concluído até hoje.


Diário De Uma SardinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora