Antes mesmo que chegasse à ala hospitalar em que Lee estava, Luiz se viu mergulhado em um abraço apertado. Nunca convivera muito com a família dos amigos, embora Mei e Akemi fossem do tipo maternal, mimando-os com guloseimas sempre que possível. Porém, desde o acidente, parecia ter se transformado em uma espécie de irmão caçula. Tendo sido sempre tão sozinho, isolado em sua família, a atenção era até bem-vinda.
- Que bom que chegaram! Já estávamos ansiosos, esperando por vocês!
- E Sean? Como ele está? - perguntou Pascoal, os dedos fortemente fechados ao redor do cordão que prendia o capuz de sua parka no lugar.
Luiz apiedou-se dele. Além da magreza nada característica para o moreno de um metro e oitenta, tinha bolsas vermelhas debaixo dos olhos, uma barba incipiente e um leve tremor nas mãos, provavelmente da falta de repouso.
- Pascoal, precisamos conversar sobre a decisão de Shizuo - murmurou ela, libertando Luiz de seu abraço.
- Mei, não agora... Por favor...
Ela sacudiu a cabeça, sorrindo através das lágrimas.
- Não quero discutir! Fico até feliz, na verdade - disse, acenando a cabeça em concordância. - Sei que meus pais podem vir a reclamar, mas... Acho que Shizuo queria garantir que meu irmão não ficaria sozinho no futuro. Era ele quem fazia tudo pra Sean e, bem, meus pais não vão viver para sempre, não é mesmo?
- Hum... Obrigado - disse, parecendo dividido entre aliviado com o suporte e irritado com seu futuro papel de babá. - Farei tudo que estiver a meu alcance.
- Ah, meninos! - exclamou a mãe do líder do grupo. - Fico feliz que tenham chegados!
- Boa tarde, tia. Como ele está? - perguntou Luiz, adiantando-se para pegar as mãos pequenas nas suas.
Mei tirou Kazuya de seus braços, usando a saudade como desculpa e todos entenderam que, a despeito da notícia, havia algo de errado. Sentiu a mão gelada de Marcela buscando a sua e entrelaçou os dedos nos dela, tentando transmitir-lhe algum conforto.
- Assim que vi seus olhos abertos, corri atrás dos médicos, mas... - ela hesitou, lágrimas grossas rolando pela face abatida. - É como se ainda estivesse dormindo.
- O quê?! Quer dizer que o cérebro dele continua em coma? - perguntou, preocupado.
- Não, ele está acordado, disso todos estão certos - garantiu Mei, com um suspiro cansado. - Mas ele não responde a ninguém. Fica somente olhando para o espaço, como se estivesse em transe ou coisa parecida.
Os amigos se entreolharam, preocupados. O que poderia estar causando aquele tipo de reação?
- Por acaso alguém contou a ele sobre Shizuo? - perguntou Sandra, sem qualquer cerimônia.
Ambas balançaram a cabeça veementemente, parecendo horrorizadas com a ideia.
- Combinamos que não tocaríamos no assunto do acidente quando estivéssemos no quarto. Vocês comentaram alguma coisa? - questionou Mei.
- Os meninos ainda nem o viram desde a cirurgia - explicou Pascoal, cruzando os braços à frente do peito, como se estivesse na defensiva - E, nas vezes em que pude entrar, falei apenas do passado, de nossas viagens, dos momentos divertidos.
Luiz não pôde evitar se sentir um pouco culpado. Entre cuidar de Kazuya e ajudar nas questões práticas decorrentes da morte do amigo, acabara deixando Sean um pouco de lado. Embora se justificasse dizendo que aquelas poucas horas de visita eram muito preciosas para a família dele para que se intrometesse, a verdade é que, no fundo de seu coração, ainda se ressentia com o fato do amigo ter lhe roubado a pessoa mais importante para ele e, acima de tudo, mantido isso em segredo.
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Em suas mãos (Gay Romance)
RomanceLuiz Aristóteles Felipe Noel era um nome muito grande, mas ser chamado de Lu pelo melhor amigo não era muito melhor, em comparação. Jamais imaginara que, apesar de toda sua implicância, seria nele que o amigo pensaria na hora de deixar a guarda de s...