Capítulo 4

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Antes mesmo que chegasse à ala hospitalar em que Lee estava, Luiz se viu mergulhado em um abraço apertado. Nunca convivera muito com a família dos amigos, embora Mei e Akemi fossem do tipo maternal, mimando-os com guloseimas sempre que possível. Porém, desde o acidente, parecia ter se transformado em uma espécie de irmão caçula. Tendo sido sempre tão sozinho, isolado em sua família, a atenção era até bem-vinda.

- Que bom que chegaram! Já estávamos ansiosos, esperando por vocês!

- E Sean? Como ele está? - perguntou Pascoal, os dedos fortemente fechados ao redor do cordão que prendia o capuz de sua parka no lugar.

Luiz apiedou-se dele. Além da magreza nada característica para o moreno de um metro e oitenta, tinha bolsas vermelhas debaixo dos olhos, uma barba incipiente e um leve tremor nas mãos, provavelmente da falta de repouso.

- Pascoal, precisamos conversar sobre a decisão de Shizuo - murmurou ela, libertando Luiz de seu abraço.

- Mei, não agora... Por favor...

Ela sacudiu a cabeça, sorrindo através das lágrimas.

- Não quero discutir! Fico até feliz, na verdade - disse, acenando a cabeça em concordância. - Sei que meus pais podem vir a reclamar, mas... Acho que Shizuo queria garantir que meu irmão não ficaria sozinho no futuro. Era ele quem fazia tudo pra Sean e, bem, meus pais não vão viver para sempre, não é mesmo?

- Hum... Obrigado - disse, parecendo dividido entre aliviado com o suporte e irritado com seu futuro papel de babá. - Farei tudo que estiver a meu alcance.

- Ah, meninos! - exclamou a mãe do líder do grupo. - Fico feliz que tenham chegados!

- Boa tarde, tia. Como ele está? - perguntou Luiz, adiantando-se para pegar as mãos pequenas nas suas.

Mei tirou Kazuya de seus braços, usando a saudade como desculpa e todos entenderam que, a despeito da notícia, havia algo de errado. Sentiu a mão gelada de Marcela buscando a sua e entrelaçou os dedos nos dela, tentando transmitir-lhe algum conforto.

- Assim que vi seus olhos abertos, corri atrás dos médicos, mas... - ela hesitou, lágrimas grossas rolando pela face abatida. - É como se ainda estivesse dormindo.

- O quê?! Quer dizer que o cérebro dele continua em coma? - perguntou, preocupado.

- Não, ele está acordado, disso todos estão certos - garantiu Mei, com um suspiro cansado. - Mas ele não responde a ninguém. Fica somente olhando para o espaço, como se estivesse em transe ou coisa parecida.

Os amigos se entreolharam, preocupados. O que poderia estar causando aquele tipo de reação?

- Por acaso alguém contou a ele sobre Shizuo? - perguntou Sandra, sem qualquer cerimônia.

Ambas balançaram a cabeça veementemente, parecendo horrorizadas com a ideia.

- Combinamos que não tocaríamos no assunto do acidente quando estivéssemos no quarto. Vocês comentaram alguma coisa? - questionou Mei.

- Os meninos ainda nem o viram desde a cirurgia - explicou Pascoal, cruzando os braços à frente do peito, como se estivesse na defensiva - E, nas vezes em que pude entrar, falei apenas do passado, de nossas viagens, dos momentos divertidos.

Luiz não pôde evitar se sentir um pouco culpado. Entre cuidar de Kazuya e ajudar nas questões práticas decorrentes da morte do amigo, acabara deixando Sean um pouco de lado. Embora se justificasse dizendo que aquelas poucas horas de visita eram muito preciosas para a família dele para que se intrometesse, a verdade é que, no fundo de seu coração, ainda se ressentia com o fato do amigo ter lhe roubado a pessoa mais importante para ele e, acima de tudo, mantido isso em segredo.

Em suas mãos (Gay Romance)Onde histórias criam vida. Descubra agora