Ao despertar, Öfinnel sentia dor e náuseas. Havia um terrível fedor ácido no ar. Tal odor com o qual viria a ficar familiarizado. Era o cheiro das bestas demoníacas. O local em torno da picada que tomou na nuca estava inchado e insensível. Tocar na ferida era como apalpar um objeto que não parecia ser parte de seu corpo e os dedos ficaram sujos de pus. Ainda sentia-se zonzo por causa do veneno.
Havia pouca luz, num primeiro momento ele pensou que fosse noite, e só mais tarde, percebeu que estava em uma cela. O chão era de pedra fria e áspera. Ao longe escutava um som estranho.
Esforçou-se para ficar sentado e escutou uma voz horripilante pronunciar palavras incompreensíveis.
– Quem está aí? O que quer de mim? – retrucou o rei.
A resposta foi a materialização de uma tênue névoa púrpura que parecia conter luz própria, certamente um fluido de natureza mística. A névoa iluminou a pequena cela. Surgiu uma criatura pequena e medonha que observou o rei com um único olho ligado ao corpo por uma espécie de tromba. A superfície da criatura parecia molhada e escorria um muco nojento de um orifício dentado que não se parecia com uma boca de qualquer homem ou animal. Era um monstro assimétrico baixo, corcunda e com três membros. Novamente ele falou, mas o rei nada pode compreender.
Enquanto observava com horror aquela criatura de extrema feiúra, a névoa se intensificava tomando conta da cela. O cheiro ruim ficou mais forte trazendo mais náuseas. Apoiou as mãos no chão e vomitou. Não saiu nada além de bile, pois já não comia ou bebia há tempos. O monstrinho, apesar de feio, não parecia muito ameaçador. Eu poderia esmagá-lo com as mãos.
– Estou contente com seu despertar, rei dos homens.
Suas entranhas gelaram ao escutar aquela voz vinda do vórtice escuro no meio da névoa.
– Mostre-se demônio. O que quer?
O vórtice aumentou fazendo emergir alguns tentáculos. No fundo do buraco, surgiram os contornos de uma forma monstruosa e o brilho de um par de grandes olhos.
– Quero que coopere conosco, rei dos homens.
– Cooperar? Por que iria querer isto? Por que simplesmente não nos exterminam de uma vez? Hã? Sua coisa infernal!
– Primeiramente, rei dos homens, gostaria de um tratamento respeitoso, assim como o que lhe ofereço como meu prisioneiro de guerra. Mas como culpá-lo? Deixe-me apresentar: sou Lorde Grevos das hordas do Duque Zimbros.
– Maldito! Acha que irei tratá-lo com cortesias depois do que fizeram à nossa cidade?
– Seria bom, pois foi apenas um bom começo para a guerra que está por vir.
– Muito bem, Lorde Grevos, meu captor, o que deseja de nós, do reino de Vellistrë?
– Ótimo, rei Öfinnel, agora estamos conversando. Quero que reúna seus exércitos e marche conosco para Nelfária.
– Nelfária? Então é isso que querem? Destruir os elfos?
– Algo assim... Lhe dou respeito, rei Öfinnel, pois reconheço sua força e liderança entre os homens. Não viemos a seu mundo para lutar contra vocês. Se nos ajudarem a cumprir nosso objetivo, logo os deixaremos em paz. Portanto coopere conosco e...
– Sob hipótese alguma marcharemos contra os elfos! São os belos filhos de Ectarlissè, nossa mãe e portanto nossos irmãos.
– Irmãos? E quanto à guerra entre homens e elfos?
– É desinformado, Lorde captor. Há diversas estirpes entre aqueles que chamam de homens... Nós, os Holmös, jamais ficaríamos contra os elfos.
– Muito bem, nobre Holmös, veremos como pensará quando estivermos com toda sua família sob nosso poder. Um golpe de sorte terem escapados a nosso ataque.
Ele Engoliu seco e ficou confuso quanto às suas convicções. Larissanle, meus queridos trinetos, netos e filhos...
O monstro voltou a falar, com sua voz horripilante, mas com estranha frieza e palavras atenciosas e maliciosas. – Vejo que está refletindo, meu caro. Isso é bom. Nosso plano não correu como esperado, mas os resultados ainda assim foram satisfatórios. Conforme previsto, irá colaborar, eu sei disso, posso sentir sua decisão. No final, verá que holmös e elfos não são irmãos tão próximos. Verá que muitos elfos, diferentemente de sua fala honrada, não os vêem como irmãos de fato, mas sim como inferiores, do mesmo modo que vêem a tudo e a todos. E quando isto estiver claro para vocês, marcharão conosco contra estes. Assim, tudo poderá acabar rapidamente e o sofrimento de seu povo será minimizado. Não é este o dever de um rei? Pensar e agir para que aconteça o melhor para seu povo? Pense nisso, rei Öfinnel... Seu dever é para com seus súditos, ou para com os elfinhos, filhinhos da grande deusa mamãezona?
A névoa começou se dispersar e os tentáculos se recolheram.
– Espere! O plano de vocês? Quem está os ajudando?
– É perspicaz, nobre rei. Mas somos fiéis a nossos aliados. Compactue conosco e de tudo saberá.
A névoa se foi e formou-se na mente do rei a imagem de Merrin.
Merrin! Merrin! Merrin! Maldito traidor desgraçado! Eu sei que está por de trás disso! Isso não vai ficar assim!
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Öfinnel. Rei. Vidente. Guerreiro. Lenda.
FantasyÖfinnel foi o último rei de Vellistrë antes que fosse destruída pelas hordas de demônios invasores. Determinado, forte e imortal. Está vivo há incontáveis gerações e sua memória vai se perdendo aos poucos. Fortes ondas do destino impelem suas açõe...