Caio colocou os skates dentro do carrinho de supermercado e fomos em direção à ala das guloseimas. Eram 21:30 da noite e estávamos no supermercado comprando besteiras. O supermercado era daqueles aberto 24h e estava vazio. Hoje era sábado, o dia em que tínhamos combinado de sair fazer – conforme a Ágatha – algo diferente.
Ágatha chegou perto dos salgadinhos e pegou três Doritos, um Ruffles sabor churrasco e mais uma barra de chocolate. Colocou tudo no carrinho do supermercado e fomos para a ala de bebidas. Breno pegou uma garrafa de vodka e mais quatro energéticos.
Enquanto o carrinho de supermercado ia enchendo eu ia me perguntando se eles tinham dinheiro suficiente para pagar tudo aquilo, porque bem, ninguém ali disse que tinha dinheiro ou coisa do tipo. Sem dizer a garrafa de vodka: não iríamos comprar aquilo antes de fazer 18 anos. Então já fui ponderando a ideia de que eles estavam tramando alguma besteira.
Fomos para uma parte mal iluminada do mercado e notei Ágatha olhando para os lados e colocando discretamente a barra de chocolate dentro da jaqueta e dois energéticos dentro da sua bolsa. Era isso mesmo, eles estavam roubando?
– Não espera, não podemos simplesmente roub... – cochichei sentindo a culpa se alastrar.
Ágatha apenas levou o dedo indicador até sua boca com um olhar que dizia "Relaxa, sabemos o que estamos fazendo", e em vez de isso me acalmar apenas me transmitiu a sensação de que iríamos ser pegos. E se nos pegassem iríamos sair de lá arrastados pela polícia, isso não era uma boa razão para não fazer aquilo?
Breno escondeu dois pacotes de Doritos e mais a garrafa de vodka dentro da mochila.
– Deu, deu! Se escondermos tudo, vão suspeitar – ouvi Caio sussurrando.
Sobrou um Ruffles, um Doritos e mais dois energéticos, fomos para o caixa como se nada incomum estivesse acontecendo. Exceto eu, que estava rezando para que ninguém desconfiasse ou nos revistasse – acho que devo ter adotado um certo medo depois do ocorrido com o colar de Paloma, a diferença é que dessa vez estávamos mesmo roubando –. O homem do caixa tinha olhos puxados, era careca e baixinho. Olhou para nós e foi somando os preços. Quando terminou, falou quanto tinha dado e Ágatha foi pegando o dinheiro que estava no bolso da sua jaqueta – sorte dela que tinha guardado o dinheiro no bolso da jaqueta e não na bolsa – enquanto isso, Caio se aproximou de alguns chicletes que estavam a sua esquerda. Ágatha notou o que ele estava querendo fazer e então começou a distrair o asiático com assuntos sobre inflação e os preços das coisas de hoje em dia. O asiático ficou entretido no assunto e começou a respondê-la, se distraindo enquanto Caio enchia uma mão de chicletes e colocava nos bolsos do moletom. Segurei um riso nervoso olhando aquela cena engraçada, eles eram inacreditáveis, roubando até debaixo das fuças do caixa. Nunca imaginaria que Ágatha tinha o dom de falar sobre economia tão bem, quem diria! Finalmente o homem já estava devolvendo o troco sem desconfiar de nada e eu pude enfim suspirar de alívio quando pegamos as compras. Ágatha deu um tchauzinho para o homem careca do caixa. Senti uma pontada de culpa depois, o coitado nem imaginava que estávamos levando várias mercadorias da sua loja sem pagar.
Quando estávamos saindo do supermercado – longe o suficiente dos ouvidos do senhor do caixa – falei:
– Só porque é asiático, que preconceito, gente – falei balançando a cabeça em reprovação.
– Ahhh, não me venha Olívia, roubar é sempre mais divertido – rebateu Breno, rindo.
Estávamos indo em direção à caminhonete de Caio, quando Ágatha disse:
– Ei, tive uma ideia! – ela saiu correndo em direção a um aglomerado de carrinhos de supermercado, subiu em um e sentou dentro do mesmo. Nós a olhamos tentando entender o que ela estava aprontando.
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Cidades Incertas
Roman pour AdolescentsDesde aquele dezesseis de julho, Blumenau se tornou um lugar cruel para se viver, o sentimento de culpa assombrava a cabeça de Olívia Queiroz causando uma série de turbulências emocionais.Três anos depois, a oportunidade de se mudar bate em sua por...