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Era uma noite de julho. Chovia demais.
Eu tinha lá pelos meus 10 anos de idade, e me apavorava por tempestades. Não sei da onde vinha aquele meu medo. Minha mãe dizia que é porque chovia terrivelmente no meu segundo dia de vida, e eu peguei pavor; chorava desesperadamente a cada rugido de trovão no céu. Talvez seja isso.

Estava deitada na minha cama, usando o cobertor como escudo. Naquela época, um pano grosso me cobrindo me dava total alívio. Hoje eu sei que nem mesmo se pode confiar naquilo que mais te proteje do mundo lá fora.

Cobria-me até os olhos, observando os clarões frequentes que apareciam na minha janela, assim como trovões capazes de quebrar os vidros da casa apenas por seu som. Dava um pulo e tremia cada vez mais assim que escutava uma explosão no céu. As nuvens carregadas cobriam todo o azul da noite, deixando o céu acinzentado e medonho. Um raio partiu a escuridão, acompanhado de mais um trovão, e eu gritei.

Segundos depois, a porta se abriu, iluminando o quarto com a luz do corredor. Gritei de desespero, imaginando que qualquer criatura poderia ter entrado lá.

Até que duas mãos seguraram firme nos meus ombros. Olhos azuis apreensivos e peocupados me fitavam enquanto seus lábios emitiam um som tranquilizador, acalmando-me, dizendo que estava tudo bem. Era o meu pai.

Ele puxou o cobertor, deitando do meu lado para após cobrir-se. Minha respiração já voltava ao normal. Ele ficou de frente para mim, deitado de lado; abraçou minha cintura e acariciou os fios lisos de meu cabelo. Fechei os olhos, entregando-me ao momento, ao conforto, à confiança que era passada de meu pai para mim.

Um trovão rugiu no céu, dando-me mais um susto, fazendo-me pular abrindo os olhos.

- Shhh... - sussurrou ele - Feche os olhos... Isso. Pensa numa coisa bacana.

E foi assim que nunca mais me senti atormentada por uma tempestade. Eu somente lembrava do cafuné de meu pai e no modo como dormi, entre seus braços acolhedores.

Até hoje.

O asfalto brilhava pelas gotas grossas de chuva. A lua, que antes iluminava divinamente o céu, foi encoberta por grossas nuvens cinzentas que pareciam sentir a perda de Marcos Siena, derramando seu pranto em lágrimas horrendas. Eu me sentia como uma dessas nuvens. Distante, abatida, vazia, aos prantos.

Minhas pernas cederam, não conseguindo aguentar o peso da dor em meu corpo, ajoelhando-se na rua. Minhas mãos cobriam meu peito, apertando-o, tentando, de algum jeito, acabar com aquela dor.

Olhei para o céu. O que antes era tão bonito, adquirira um aspecto assustador. Explosões começaram. Gritos ecoaram no silêncio da noite, juntamente com os trovões. Raios partiam o céu, iluminando a rua inteira por somente um fio de luz.

A cada raio, a cada trovão, eu dava mais um berro, sentindo uma dor no peito que me fazia pender para trás, arquear as costas, pular, chorar, sofrer. Era como se eu levasse uma facada em várias partes do corpo. Mas não era de medo. Nem de desespero. Era tristeza. Era luto.

Eu superara meu medo por causa de meu pai. O que seria de mim agora, sem ele? O que seria do meu psicológico, sabendo que nunca mais encontaria o meu porto seguro nos braços daquele homem? Chorei amargamente, misturando minhas lágrimas com as gotas de chuva que quicavam no chão. Mas não chorei de pavor. Não chorei pensando em como as coisas seriam daqui pra frente. Chorei pelo meu pai.

Então cedi, chocando-me contra o asfalto áspero; os soluços eram o único som humano que se ouvia no meio da noite. E uma voz distante.

"Alexia! Alexia!..."

Não me dei ao trabalho de limpar as lágrimas. Eu sentia uma dor no peito insuportável, uma falta de ar capaz de me tirar a vida se, por um segundo, eu resolvesse não respirar.

Fecho meus olhos lentamente e vivo a vazia escuridão que, nesse momento, já fazia parte de mim.

















Nota da autora

Só continuo com pedidos... e-e

Bezzos

RevoluçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora