Capítulo Único

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QUANDO AS ALMAS FALAM

Por FireboltVIoleta


O tempo do lado de fora da janela estava cinza e triste.

E parecia refletir o como eu me sentia agora.

A notícia do envenenamento dele me atingira feito uma bigorna, jogando um balde de água fria em qualquer oposição que eu ainda tivesse contra sua presença.

As últimas semanas haviam sido as piores de minha vida.

Eu nunca imaginara que algo que Rony fizesse podia me ferir de modo tão profundo. E ainda não conseguia entender o que estava acontecendo comigo.

O garoto tinha o direito de gostar e namorar quem quisesse. Quem era eu para ficar afrontada com a escolha dele? Apenas uma garota qualquer...

E eu não era ela.

Não havia motivo para que eu me magoasse. Afinal, quem iria escolher a mim?

Não podia discutir diante daquilo, sendo que ninguém nunca me quisera. Krum devia ter posto os pés pelas mãos, achando que gostava de mim. E McLaggen havia sido uma mera – e fracassada – forma de tentar extravasar minha raiva.

Podia julgar aquela garota por ter tido a sorte que eu nunca tive?

Mas, por mais que eu soubesse o quanto era irracional e desnecessário, cada toque dela nele me irritava. Cada toque dele nela me magoava.

E vê-lo tão animado parecia rasgar meu coração ao meio.

Eu tinha que admitir que sabia o que aquilo representava para ele. Alguém dava á Rony toda a atenção que a família nunca lhe dera.

Mas Lilá Brown não era a única que lhe dava atenção.

Então por quê? Se era só de atenção que ele precisava... por que não poderia ser eu? Ou outra garota qualquer?

Por que eu via aquela criatura patética agarrada ao braço dele, e sabia que não era ela que o acompanhava desde sempre. Não fora ela que presenciara a vitória dele no xadrez de bruxo gigante, ou que ajudara-o nas lições de casa, ou mesmo treinado feitiços defensivos com Rony na Armada de Dumbledore.

Ela estava fazendo parte da vida dele... e eu parecia estar saindo cada vez mais dela.

Uma lágrima teimosa escorreu de meu olho.

Disfarcei, aproveitando que todos os reunidos na Ala Hospitalar estavam distraídos conversando, e limpei-a com a manga do suéter.

Enquanto Dumbledore falava com Harry, debatendo sobre o envenenamento, mantive apenas metade da minha atenção na conversa.

A outra metade virou-se para a figura adormecida ao meu lado.

Eu nunca havia percebido o como - embora os anos tivessem se passado - o rosto de Rony ainda tinha os mesmos trejeitos de garoto que eu conhecera no primeiro ano. Parecia uma criança dormindo, os cabelos ruivos bagunçados, espalhados no travesseiro, e as sobrancelhas franzidas de quem não estava tendo um sono tranqüilo.

Eu me odiava por sentir tanta pena com sua situação, quando tudo que eu queria era continuar zangada com ele.

Mas saber que alguém quase o envenenara – quase o matara – parecia apunhalar meu peito.

Quando As Almas FalamOnde histórias criam vida. Descubra agora