Ela se voltou e seu olhar fixou-se no dele. Ele estava em pé sob a porta, com as mãos apoiadas sobre o batente, olhando para ela como se nunca a tivesse visto anteriormente. Não era assim que ela planejara que ele descobrisse a verdade.
- Oh, meu Deus. Tanner...
- Você é a proprietária da fazenda.
Não era uma pergunta desta vez. Era uma afirmação, dita com uma voz fria, dura, que não soava nada parecido com aquela do homem que ela viera a conhecer. Isso seria muito mais difícil do que ela pensava.
Hairy passou por Tanner e foi direto em direção a Ivy. Sentando-se aos seus pés, ele olhou para ela e ganiu um pouco como se em sinal de pena.
- Responda-me.
- Sim - disse ela. Uma palavra que não poderia transmitir tudo o que ela estava sentindo. O coração de Ivy gelou. Ela finalmente entendeu aquela velha expressão quando o coração dela saiu pela boca.
Ela nunca vira a expressão que agora via no rosto de Tanner. Aquilo não era raiva espontânea, era frio ódio. Suas feições estavam tensas e seus olhos eram assustadoramente desprovidos de sentimentos quando ele lhe lançou um olhar geralmente reservado para insetos sob um microscópio.
- Você tem mentido para mim desde o dia em que chegou aqui.
Com o estômago revirando, olhos cheios de lágrimas que ela se recusava a verter, Ivy meneou a cabeça.
- Sim. Tenho.
- Olhe só! - debochou ele com um sorriso de escárnio. - Então você ao menos é capaz de ser sincera.
Aquilo doeu. Até ele entrar em sua vida, ela sempre tinha sido sincera.
- Droga, Tanner. Eu não pretendia...
- Por favor. Claro que pretendia.
- Tudo bem, sim - admitiu Ivy, sentindo uma necessidade frenética de pôr para fora tudo o que ela tinha a dizer. - Eu menti para você deliberadamente. Eu queria que você ficasse...
- Com tesão? Bem, meus parabéns. Funcionou. - Ele afastou-se da soleira da parta e cruzou os braços sobre o peito, em uma manobra silenciosa que indicava claramente que ele já estava se fechando.
- Não - argumentou Ivy. - Não foi isso.
- E eu posso acreditar em você?
Não era isso o que ela queria. Ela tivera a intenção de enganá-lo. De mentir para ele. De levá-lo a não apenas gostar dela, como da cidade, do vale, de modo que ele parasse de criar problemas para a sua fazenda. Portanto, não agira movida pelo melhor dos motivos. Era de se admirar que ele agora estivesse furioso com aquilo?
- Eu só queria conhecê-lo. Para deixar você me conhecer - disse ela, com as palavras vertendo de sua boca em alta velocidade. - Você estava tão determinado a criar problemas para a fazenda e se trancava aqui para que ninguém pudesse falar com você, de modo que...
- Ah - disse ele, entrando na cozinha com a graça mortal de uma pantera. Cada movimento era calmo, contido, apenas definido na fúria que pulsava para fora dele em ondas poderosas.
- Então suas mentiras foram por minha culpa. Você foi forçada a entrar em minha casa e deitar na minha cama porque eu não lhe dei nenhuma outra escolha.
O sol da tarde atravessava as janelas da cozinha. O relógio de parede tocou tão alto, que reproduziu o ritmo pesado do próprio coração de Ivy. Hairy ganiu alto, como se pressentindo a crescente tensão na cozinha.
Ela olhou para os olhos de Tanner e leu apenas rancor se remoendo naquelas profundezas. O coração dela doía, e o frio que ela sentia em seu interior aumentou. Eu esperei demais, disse para si mesma. Eu deveria ter confessado tudo dias antes.
- Tanner, você pode ao menos me ouvir? - disse ela, sem tirar os olhos dele, apesar da dor que sentia ao olhar para ele e não encontrar ali o homem que ela amava.
- Por que eu deveria? - retrucou ele, aproximando-se de Ivy.
- Você tem mais mentiras para me contar?
- Não. - Ela suspirou, respirou fundo e disse: - Eu ia contar tudo para você hoje. Eu decidi que não poderia mais continuar fingindo.
- Sim - disse ele secamente. - Deve ter sido muito estressante para você.
Apesar de toda infelicidade e dor, o próprio temperamento dela começava a aflorar. Sim, ela errara ao mentir para ele. Mas ela pedira desculpas, não foi? Ficando ali, diante dele, ouvindo-o criticá-la sem reagir. Aquilo não valia nada?
Ah, Ivy temia aquele confronto que ela sabia que acabaria por vir. Como não poderia temer? Vivendo em Cabot Valley ele acabaria sabendo a verdade sobre ela, quem ela era. Mas, de algum modo, ela esperava encontrar uma maneira melhor de dizer aquilo.
Por que ela não confessara tudo após a sua noite juntos?
Ela sabia o porquê. Porque ela o amava. Porque sabia que, quando a verdade finalmente fosse revelada, ela o perderia.
Agora ela teria de pagar o preço.
Ela estendeu a mão para tocá-lo, mas, logo a seguir, deixou-a cair para o lado como um desejo não realizado.
- Foi mesmo. Eu odiei ter de mentir para você. Desde o primeiro dia, eu soube que era um erro. Mas eu não conseguia encontrar uma maneira de lhe dizer a verdade, também.
- Isso também é uma mentira, Ivy - disse ele calmamente. - Você não queria me revelar coisa nenhuma. Você estava muito ocupada tentando me enganar.
L(*OεV*)Eu Sou o Sol