Outra lembrança...pequenas histórias...meus breves momentos...
Eu passeava pelo corredor da escola,e havia visto uma menina chorando,estava vazio,eu só via à mim mesma,depois da suspensão que levei por ter respondido seriamente ao professor de biologia (tudo bem foi errado,mas eu não ia aguentar aquela brilhante careca cuspir mais litros de saliva em mim naquele dia,ele havia ganhado um belo banho de palavras mal educadas),e ela continuava a chorar,mesmo depois de ter notado a minha presença,estava abraçada com suas próprias pernas e livros de escola,eu imaginei que já tinha perdido uma boa parte da aula.
Eu realmente queria passar direto,afinal,não saberia como ela iria reagir,se me agrediria com palavras,como "vai cuidar da sua vida" ou "não é da sua conta",imaginei que ela só estava passando por um dia ruim,mas,eu sentia que precisava ajudar,ela parecia indefesa,era anos mais nova que eu,e tinha olhos tão bonitos...não podiam continuar tristes.
Enfim decidi me aproximar,sentei cautelosamente ao seu lado no corredor,e pus a mão em seu braço para que ela me olhasse.
"Ei...por que você está chorando?" perguntei,calmamente.
Ela ignorou e voltou a chorar com a cabeça enterrada nas pernas.
É claro Elisa,ela não ia se abrir com um estranho,eu tinha que fazê-la falar...
"Não quer que eu chame seu superior aqui, quer?" é,talvez eu fosse um pouco manipuladora,mas eu precisava saber,tinha que mexer os meus pauzinhos.
Ela olhou assustadoramente para mim e freneticamente negou com a cabeça.
"Então...por que não me diz o motivo de ter saído da aula?" perguntei,sabendo que meu suborno havia dado certo.
Ela pareceu hesitante ,mas decidiu contar. "é que..." sua voz tinha um quê de choro muito forte,parecia estar gripada. "eu estou sendo insultada por umas meninas da minha escola..."
Que ótimo Elisa,esta perdendo tempo com uma menina com problemas como qualquer outra,até eu era zoada as vezes,nada anormal,só temos que deixar pra lá e seguir em frente,as palavras das pessoas não ferem se você não permitir,estava prestes a dizer isso para ela,mas senti que ela ainda não tinha me contado tudo.
"Mas...não parece ser todo o motivo para que uma menina bonita assim esteja chorando..." persuasão,nota: 10!
"É que...uma das integrantes desse grupinho...é minha irmã..."
O QUE?!
"o que ?" eu disse,mais calma do que como eu pensei.
"é..." ela riu ironicamente,parecendo se lembrar. "ela queria ser popular...e,se para isso ela tem que humilhar a própria irmã,fingindo que não tem uma,é isso que ela fará,ou melhor,já fez,afinal eu não sou nada almejada na minha sala...nem notada ao menos,e as travessuras..." uma pausa incomodante. " eu costumava ter um cabelo maior..."
ELA CORTOU O CABELO DELA?!
"Ela cortou seu cabelo?" mais uma vez,mais calma do que como havia pensado,só que um pouco mais admirada.
Ela assentiu,não estava feio,mas aquele ruivo ficaria bem melhor longo...fiquei perplexa com o que os grupos sociais poderiam fazer com as pessoas,com familiares!
"Mas isso não é tudo..." ela parecia desabar,entregar tudo pra mim. "Ela é a única família presente que tenho...minha mãe morreu,e meu pai...nunca o vejo,a não ser quando o conselho tutelar confere a casa...uma babá contratada fica com a gente,mas não é nada mais do que um carinho artificial,eu não tenho ninguém..." e novamente,ela caiu em prantos.
Passei a mão no cabelo dela,era uma situação realmente difícil,e eu achava que minha vida era complicada,ela sim tinha motivos para nunca mais querer vir para escola,mas não o fez,foi forte até o momento,só precisava de minutos em paz...
"Nossa! Que situação difícil..." o que dizer? "sabe...eu acho que você deveria enfrentar a sua irmã,explicar como está se sentindo e colocando os fatos na frente dela,relembrá-la da situação que as duas vivem,que vocês precisam se ajudar,caso ela não dê ouvidos...recorra a segunda parte do plano..."
"plano?" ela perguntou,pela primeira vez com um sorriso.
"Sim,um plano,o nosso plano!" ela sorriu mais ainda. "bem,a segunda parte é: dizer o que realmente está acontecendo ao conselho tutelar,seu pai não pode continuar fazendo essa palhaçada com você,e,se nada der certo,passo três..." não,eu não queria dizer aquilo mas...eu fui criada assim...até que algumas vezes deu certo... " fale com Deus..." ela parecia intrigada. "parece meio louco,mas,quando meu pai ficou doente,funcionou pra mim...tenho certeza que pode ser que funcione com você também..." ela assentiu sorrindo,eu era assim,procurava Deus nos momentos de crise...depois...não me lembrava de ter pedido ajuda,nem ter feito promessas à Ele se tudo corresse como eu havia planejado.
Ela inesperadamente me deu um abraço,eu aparentemente tinha sido a primeira que havia a apresentado à uma solução,talvez funcionasse,eu queria que sim,ela merecia.
"Elisa Teles !" a voz da diretora Márcia ecoava nos corredores,algo tinha dado errado.
"Eu preciso ir,antes que o monstro me ache!" falei,me levantando.
Ela deu uma risadinha,e,antes que eu saísse,articulou com seus lábios. "Obrigada" eu assenti como forma de agradecimento mútuo,e corri pelos corredores à procura da saída.
Eu não fiquei sabendo seu nome,nem quem ela era exatamente,mas depois daquele dia,nunca mais a vi,esperava que tudo tivesse ocorrido bem.
Entretanto,fiquei feliz por naquele dia,ter ajudado alguém,além de mim mesma,com minhas vinganças ao professor de biologia.
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I Segundo Para o Fim do Mundo
AdventureA vida para uma adolescente normal num mundo normal,já é complicada,mas a vida de uma adolescente não tão normal num mundo pós-apocalíptico é pior ainda. Elisa perdeu seus pais no arrebatamento e está dividida sobre o que realmente teria acontecido...