Já estávamos à caminho.
Eu ainda não entendia direito o esquema de Félix,mas percebi um tipo de formação dos refugiados,tipo aquelas de exército.Uma hora três homens e duas mulheres intercaladas ficavam na frente de todos nós,vigiando todos os lados à procura de qualquer sinal dos anticristianos,e depois,outros tomavam o mesmo lugar,tipo uma escala,em que não tínhamos sido incluídos.
Amélia andava ao lado de Félix,à frente de mim e Gabriel,ao meu lado,Louis se encontrava mais uma vez,calmo,e sem nenhuma palavra a dizer.
As mesmas pedras secas que eu tocava em todos os percursos estavam sob meus pés,o ar seco penetrava em minhas narinas e a vastidão do grande nada se intensificava à minha frente,como eu disse antes,um grande deserto,a última vez que bebi água foi à dois dias,e eu tinha quase certeza que onde pisávamos era pra ser um rio,pelas margens em relevo seco,e o curso determinado,talvez algum dia poderia ter tido algumas árvores ali,algum verde...mas com certeza a escassez total de água não permitia isso,como eu disse,um recurso rico para poucos,a água era um dos primeiros tópicos na nossa lista de compras no supermercado.
Afinal ,o que Félix havia planejado não era somente pelo fato dele ser meio louquinho,ele sabia que íamos precisar de comida,e que lugar melhor para conseguir treino e comida,do que um supermercado anticristiano cheio de demônios famintos por sangue de crente?
Medo? Acho que eu nem preciso falar que era meu melhor amigo no momento,mas o que eu poderia fazer? Ou era isso,ou não era nada.
Claro que não entrariam todos os refugiados no supermercado,seria muito suspeito,entrariam metade,e a outra ficaria escondida do lado de fora vigiando e pronto para ajudar em qualquer problema.
Mas a minha insegurança não estava somente no fato de que eu não sabia muito bem lutar,eu também não sabia o que esperar daquilo.
Bem,pra falar a verdade,eu nunca tinha realmente ido ao centro da cidade depois do apocalipse.
A minha casa era afastada,meu emprego era pelos arredores,e nos três primeiros anos,o armazém do Sr.Sérgio me ajudou muito com a comida,e depois quando as coisas apertaram eu ganhava cestas básicas (tipo muito básicas com pão e água) do Q.I.C,eu nunca precisei sair do meu mundinho.
Então eu não fazia ideia de como seria estar na cidade do anticristo,no centro dela.
Eu tinha andado sempre pelos lugares secos e afastados dos olhos curiosos e agora eu iria me expor à eles.
Só o fato d'eu pensar em ter a possibilidade de algo acontecer com qualquer um ali,senti calafrios.
Meus pelos se eriçaram,Gabriel percebeu meu nervosismo,ele sim estava disfarçando bem mais que eu.Logo ele apertou minha mão,a qual não tinha deixado de segurar em nenhum momento,e enlaçou seu braço em volta de meu pescoço,dizendo que tudo estava bem.
Os ritmos de nossos passos realmente me lembravam soldados.
As botas cheias de areia...o sentimento de uma guerra próxima...o suor ansioso escorrendo pelas testas...a fala perdida...os olhares trêmulos...
Calma Elisa,tudo vai ficar bem,tudo vai ficar bem,você sabe o que está fazendo,você sabe...
Não,não,nada está bem,você não sabe o que esta fazendo,não sabe mesmo!
Logo me dei conta que já havíamos chegado,e uma visão não tão boa se espalhou pelos meus olhos.
O cinza dos prédios que eu bem conhecia foi substituído por grandes pinturas do anticristo,percorrendo todo ele,a mão dele ia do topo se enroscando pelos prédios até o chão,como se ele fosse dono de tudo aquilo.
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I Segundo Para o Fim do Mundo
AventureA vida para uma adolescente normal num mundo normal,já é complicada,mas a vida de uma adolescente não tão normal num mundo pós-apocalíptico é pior ainda. Elisa perdeu seus pais no arrebatamento e está dividida sobre o que realmente teria acontecido...