Era uma vez, um jovem adolescente chamado João, filho de Lúcia, mãe solteira, que vivia em uma pequena cidade chamada Menolen.
Certa vez, com lamurios e tristeza, Lúcia deu a João cinco moedas de ouro e pediu-lhe para que comprasse feijões maduros no centro da cidade.
- Procure pelo lugar mais barato, e pelos feijões mais bonitos. São as últimas moedas que tenho, e precisamos do máximo de alimento possível. Desde que seu avô se foi, tem ficado mais difícil conseguir as coisas, você sabe, não preciso ficar repetindo - disse Lúcia.
- Tudo bem, mamãe - João respondeu.
Droga de velha chata - pensou, apanhou as moedas da mão de sua mãe e partiu para a cidade.
Ao chegar no centro de Menolen, João foi em busca de barracas que vendessem grãos. Avistou uma, de longe ele via os cestos cheios de arroz, milho, feijão, entre outros, mas antes que chegasse na mesma, seu caminho bloqueado por um velho estranho. Um velho com um sobretudo de couro gasto, sapatos rasgados, com o rosto enrugado, cabelos negros e um nariz bem grande e torto. Ao tentar desviar do caminho do velho, João sentiu um toque no ombro.
- Ei, garoto.
Era o velho estranho.
- Falou comigo? - João perguntou tentando não fazer muito contato visual com o estranho.
- Sim - ele tossiu, provavelmente tentando limpar a garganta - o que faz no centro da cidade sozinho? É meio perigoso por aqui.
- Vim comprar feijão para minha mãe... - ele respondeu tentando desviar do velho.
- Sério? - o velho bloqueou a passagem do menino - e porque essa cara triste?
- É porque essa provavelmente será uma das minhas últimas refeições, já que meu avô morreu recentemente e essas são as últimas moedas que ele deixou.
- Que moedas? - o velho se mostrou interessado - posso ver?
- Essas - João tirou as cinco moedas do bolso de seu macacão de couro gasto e mostrou para o velho.
- Interessante... Bom, eu acho tenho o que você precisa.
- Não precisa não, velho, eu já sei onde vou comprar meus feijões. Obrigado aí.
- Não, não - o velho novamente bloqueou a passagem do menino - eu tenho o que você precisa. Se seu avô estivesse aqui com você e sua mãe, essa não seria sua última refeição, certo?
- Certo...
- E será que você não faria nada para ter seu querido avô de volta?
- Acho que faria qualquer coisa - João respondeu triste.
- Então, sim, eu tenho o que você precisa - o velho colocou a mão dentro do seu sobretudo e voltou com um saquinho de feijões.
- Que feijões são esses? - João perguntou - porque eles são tão vermelhos?
- É porque são feijões mágicos - o velho respondeu.
- E como esses feijões vão trazer o meu avô de volta?
- Você come eles e faz um pedido, qualquer pedido, que os feijões o concederá.
- Sério? E como posso saber que você está falando a verdade?
- Só vai saber se comprar e provar você mesmo - o velho abriu um sorriso bizarro.
João pensou duas vezes, lembrou do quanto amava seu avô e deu ao velho as cinco moedas de ouro.
- Me dê.
- Aqui está - o velho entregou o saquinho de feijões - foi bom negociar com você, garoto.
- Até mais.
O velho deu uns dois passos e virou de costas rapidamente:
- Já ia esquecendo - ele exclamou - Você não pode falar pra ninguém que eles são mágicos, ou a magia perde o poder.
- Porque não? - João abriu o saquinho, cheirou os feijões e quando olhou a sua frente, o velho já tinha sumido.
Quando voltou para casa, já estava escurecendo, e quando chegou na cozinha, antes mesmo de abrir a boca, Lúcia já começou:
- Que droga é essa, João? - exclamou.
- Feijões, mãe.
- Menino, você é louco? - ela abriu o saquinho e ficou encarando os feijões, muito brava - Eu te dou cinco moedas de ouro e você me aparece com 20 grãos de feijões estragados?
- Calma, mãe - João tentou.
- Como calma? Você quer morrer de fome mais cedo? - Lúcia fechou o saquinho e atacou na direção do coitado, que rapidamente o apanhou, dando um passo pra trás - Sai da droga da minha frente, seu idiota.
João agarrou o saquinho e foi para seu quarto, entrou, jogou os feijões pela janela, bateu a porta com força e se jogou de barriga pra cima no colchão velho. Que droga que eu fiz?, pensou.
Droga, droga - João disse pra si mesmo, se cobriu, e tentou dormir
Passadas poucas horas... "Joooão, Joãooo" se ouviu o vento assoprar, como um chamado para acordar.
- Mãe? - João se levantou e coçou os olhos - É você que tá me chamando? - levantou e sentou na beirada da cama.
"Joooão, Joãoo"
O jovem se levantou, ainda ouvindo as vozes, passou na frente do quarto de sua mãe e viu que não eram de lá que elas vinham. Foi ao quintal, tentando seguir o som, e seguiu para o fundo das casas, onde ficava a janela de seu quarto.Lá, João se deparou com uma cova, que emitia uma luz bem fraca. Ele se aproximou, e viu que a cova tinha uma escada. Pensou duas vezes e desceu os degraus
Ao descer, João viu com clareza, uma caverna bem grande e bem iluminada, por tochas. No centro da caverna tinha um caldeirão de pedra, com um líquido vermelho fervendo. E do fundo da caverna, ele viu um velho surgindo da escuridão, segurando uma capa com o punho, escondendo metade de seu rosto.
O velho se aproximou do caldeirão, jogou umas pétalas de rosa, e salpicou um pó meio escuro. João escorregou do degrau em que ele se segurava, tentando se esconder, e acabou atraindo o olhar do velho, que assim que o viu, abriu um sorriso malicioso e disse:
- Olha só, eu achei que não ia vir mais.
- Quem, que...
- Quem eu sou não é importante, se aproxime, vamos - o velho fez um gesto de "vem cá".
João se aproximou do caldeirão, e meio inseguro perguntou:
- Você não é o velho que meu vendeu aqueles feij...
- Shhhiiuuu... - ele interrompeu o garoto - Me diga, porque comprou aqueles feijões mesmo?
- Pois acreditei que eram mágicos, e que trariam meu avô de volta, para que eu e minha mãe saíssemos da miséria. Mas...
- Aaaah, mas é claro, a miséria! - ele interrompeu o garoto novamente - foi por isso que eu te trouxe aqui. Me diga - ele se aproximou do garoto - gostaria mesmo de tirar sua mãe da miséria?
- Sim, mas é claro.
- Então eu tenho uma proposta para você.
João não respondeu.
- Você me dá uma gota do seu sangue, e você e sua mãe terão ouro para o resto de suas vidas.
- Uma gota do meu sangue? Só isso?
- Sim.
João sem pensar duas vezes respondeu:
- Tudo bem, mas é só uma gota.
- Ótimo... estenda seu braço, por favor.
João deu o pulso para o velho, que tirou um pedaço de osso quebrado do baixo da capa, fez um pequeno corte no braço do menino, e deixou que a gota pingasse no caldeirão.
- Pronto?
- Sim - o velho deu uma risada - está pronto.
- E agora? Cade o meu ouro?
O velho apontou para o rosto do menino e disse:
- Vá até o seu avô, e ele te dará todo o ouro que quiser.
- Mas o meu avô está mort...
- Shiiiu. Vá.
Então a caverna começou a encolher, as tochas começaram a se apagar, e o velho ficava cada vez mais invisível. João, desesperado, correu para a escada que usou para entrar e saiu da cova.
Em terra firme, pensou; Ir até o meu avô? - ele se levantou e foi até o cemitério onde seu avô estava enterrado, que ficava a uns cinco minutos de onde ele morava.
Chegando ao túmulo de seu avô, João percebeu que nele tinha um pequeno buraco, parecia que alguém tinha cavado ali. Ele se aproximou, e de perto era possível ver o crânio a mostra. João deu umas duas cavadas para que pudesse ver o esqueleto com mais clareza, e percebeu que tinha algo na boca. Algo brilhante.
Não... - João pensou - Era ouro, muitas moedas de ouro. João pegou umas vinte e foi correndo para casa. Jogou todas as moedas na mesa da cozinha e correu para a cama.
Demorou um pouco, mas João conseguiu dormir.
Antes de acordar, João teve uma visão, do velho da caverna dizendo: "Quando precisar, já sabe onde encontrar".
- Aaaaah - ele exclamou, levantando da cama - Ufaa... foi só um sonho... - se deitou de barriga para cima novamente.
Passado alguns minutos, João se levantou e foi até a cozinha, onde encontrou sua mãe com um sorriso gigante no rosto, contando as moedas de ouro que estavam na mesa.
- Olha isso, João. Olha essa bênção! - ela exclamou.
João estranhou um pouco e correu para os fundos da casa. Onde estava a cova, João encontrou um pequeno canteiro cheio de rosas, tão vermelhas que pareciam sangue fresco.
João lentamente olhou para o seu pulso, onde viu o pequeno corte cicatrizando.
"Quando quiser mais, já sabe onde encontrar".
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João e os Feijões Mágicos
Short StoryJoão e sua mãe estão sem dinheiro para necessidades básicas. Inocente, João ainda se deixa levar no papo de um charlatão de estrada e perde o pouco que ainda tinha. Conto de 2014.