Até os Cinco anos

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O sítio onde eu cresci não era muito grande, mas para mim, era maior que o infinito. Nele cabia tudo que a mente de uma criança com 5 anos pode imaginar. As raízes grandes dos pés de jacas facilmente se transformavam em moto, cavalos, bicicletas e eu podia sentir o vento batendo em minha face quando imaginava que estava correndo de moto sentada, sem sair do lugar em uma raiz. Eram uma época feliz.
A minha mãe nessa época nunca morou conosco, eu morava com meus tios, meu avô e a minha avó aos quais eu chamava de pai e mãe. Éramos pobres, muitas bocas para pouca comida mas, eu tenho em minhas lembranças que era muito amada por minha vó.
Eu não lembro a data mas, era março de 1986, a casa estava muito mais agitada que de costume, havia tristeza no ambiente e quando puxo mais pela memória para lembrar detalhes do ambiente, eu consigo ver que no chão há o prato branco de ferro esmaltado em que sempre era servido as minhas refeições cheio de água, esse era um costume usado em funerais. A minha a amada avó havia falecido naquela madrugada. Ate aquele dia eu tinha duas certezas em minha jovem vida, a primeira era que aquela jovem senhora que naquele dia estava partindo me amou e a segunda era que não haveria mais ninguém que sentiria isso por mim.

Os Silva sempre foram muito pobres, mas trabalhadores. Meu avô e tios sempre trabalharam na enxada nos sítios e fazendas dos outros. Nenem, a tia mais nova da família conta que uma vez estava ela e a mãe lavando roupas em um tanque e ao redor haviam pés de jenipapo e a minha vó sempre dizia que um dia ela ia ter dinheiro pra comprar um quilo de açúcar pra fazer um suco daqueles jenipapos. A minha tia conta isso lágrimas nos olhos.
Quando essa tia era pequenina foi levada pra morar em uma cidade próxima com uma tia dela que trabalhava de doméstica para um padre. Lá ela estudou e se formou professora.
O meu avô bebia muito e conta a lenda ele batia na minha avó. Alzenira a minha mãe com o tempo também foi morar na mesma casa que Nenem. O que se sabe é que a minha tia Nenem foi criada como se fosse filha do padre e sei que o via como pai. A minha mãe já não teve as mesmas regalias, foi pra lá pra trabalhar mesmo.
No início dos anos 80 a minha mãe foi embora pra Salvador, conheceu um cara e logo engravidou, ele não curtiu o lance de ser pai e caiu fora e a minha mãe teve de se virar sozinha. Ela dizia que até embaixo da ponte dormiu grávida. Quando eu nasci, ela voltou pra Sergipe, me deixou com a minha avó e partiu para o Rio de Janeiro.

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⏰ Última atualização: Jan 17, 2018 ⏰

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