Era um um garoto muito bonito de olhos claros e cabelos negros lisos que havia dito para mim entrar. Até pensei na possibilidade de puxar um assunto já que dividiríamos o mesmo quarto por bastante tempo, mas decidi abandonar essa ideia pelo menos por enquanto.
Entrei e posicionei minha mala em cima da cama junto a minha mochila e fui retirando minhas roupas da mala e já dobrando-as. Às vezes eu olhava o garoto de relance e logo voltava a me concentrar no que eu estava fazendo, já que ele agia como se eu não estivesse ali.
Barulhos de toques vindo da porta fez com que eu fosse até ela atender quem quer que estivesse do outro lado.
— O Igor tá aí? — e o garoto não fez nem questão de esperar minha resposta e já foi entrando.
— E aê? De boa irmão? — Igor disse e voltei ao que estava fazendo.
Depois de ter arrumado todas as minhas roupas na minha parte do guarda-roupas, sem nem prestar atenção no que conversavam, e guardar minha mochila, fui para a cantina. Pedi um pão de queijo e um copo de refrigerante. Me sentei em uma das muitas cadeiras vagas que haviam naquela parte do pátio e fiquei saboreando por alguns minutos.
Voltei ao quarto e Igor e companhia já não estava lá. Peguei um livro, celular e fones de ouvido e fui até a pracinha. Lia "Como Eu Era Antes De Você" ao som de "A Droga Do Amor". É estranho, eu sei, mas gosto de ler ouvindo música, parece que consigo me concentrar ainda mais.
Depois de um tempo, ainda sentada no banco e lendo, a sombra de uma pessoa fez com que eu retirasse os fones e voltasse minha atenção a ela. Era o Gus, que logo sentou-se ao meu lado.
— Gostando daqui? — ele me perguntou.
— Até que sim — e então o silêncio reinou por mais ou menos um minuto, causando assim uma pequena agonia, que logo foi quebrada.
— Bora assistir um filme? — WHAT? Não acredito que ele me convidou para assistir com ele.
— Filme? — não, não. Rádio! É claro que é um filme, Eduarda!
Nenhum garoto, na vida, nunca me chamou pra assistir um filme com ele. Por isso essa minha reação idiota.
— É, tem um tipo de "cinema" aqui que uma vez por mês tem palestras e filme toda hora. Vamo? — Ele me olhava com um sorriso no rosto enquanto explicava.
— Tudo bem. Vou só guardar meu livro.
— Beleza.
Ele ficou ali me esperando e voltei outra vez ao quarto. Deixei minhas coisas lá, exceto o celular, e seguimos para o cinema, que na qual era um pouco menor do que aqueles que se vê em shoppings, se bem que era aconchegante da mesma maneira que o convencional.
Quando chegamos, já havia iniciado o filme: Velozes e Furiosos 5. Gustavo pegou na minha mão e me conduziu até umas cadeiras vagas na oitava fila.
Assistimos o filme todo em silêncio, concentrados na tela. Nenhuma palavra sequer foi dita. Depois cada um foi para o seu respectivo quarto.
— Amanhã tem aula? — Perguntei ao Igor, que estava deitado e parecia estar vegetando enquanto se concentrava no teto e cantarolava uma música que eu particularmente conhecia.
— E por acaso eu lá sou vidente? — Igor disse, mudando totalmente um devaneio que eu pensava a respeito dele. Juro que eu não esperava uma resposta como essa, pensei que fosse mais educado.
— Foi só uma pergunta tá? Grosso! — Devolvi no mesmo tom.
— Grosso? Se olha no espelho, Free Willy! Vai fazer um regime e vê se me deixa em paz, Dona Redonda — e ele soltou uma risada sarcástica.
Instantaneamente as lágrimas escorreram pelo meu rosto. Mas eu não podia chorar. Pelo menos não na frente dele. Saí daquele maldito quarto e andei rapidamente para o banheiro, ainda não conseguindo conter a enxurrada de lágrimas.
Durante o percurso, era horário do almoço então havia um número grande de pessoas no pátio. Algumas delas riam da minha cara, outras me olhavam com pena, e algumas com espanto ou dúvida. Tapei meu rosto e continuei rumo ao banheiro tentando ignorar aquela cena. Entrei em uma divisória vaga e tentei respirar fundo.
Foi em vão, mas prossegui.
Após longos minutos alí sentada em cima do tampo do vaso sanitário, decidi sair dalí, lavar meu rosto e fingir que nada tinha acontecido. E assim fiz. Nem almocei, apenas permaneci em uma área bem isolada do colégio sem fazer absolutamente nada.
Ao anoitecer, fui ao quarto que por sorte estava vazio, tomei um banho e adormeci. Sem comer.
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A Volta Por Cima
RomanceEduarda Mendes é uma garota ainda em seu período escolar onde é vítima de bullying e acaba descontando toda a raiva da opressão na comida, o que acarreta mais problemas. Tem vergonha em dividir esse problema com os pais que nem são tão presentes ass...