Lost

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Kharis

Meu caminho seria longo, disso eu tinha certeza, meses, anos talvez.
Mas...Se eu ficasse com a princesa, eu botaria sua vida em risco, e isso é algo que eu não desejo. Nem um pouco.
Aqueles Elfos que vieram na estalagem estavam atrás de mim, de alguma forma eles descobriram que o homem que matou Al thoram havia retornado ao plano mundano, e que ele ainda carregava o poder que usou para matá-lo. Isso era a única opção possível, fora isso eles não teriam um motivo claro para vir atrás de mim.
Pelo menos eu gosto de acreditar nisso. Gastei o pouco de dinheiro que me restava neste cavalo, e de certo ele se cansaria em algum momento.
Eu me dirigia a Síndria, o Reino da riqueza. Ficava relativamente próximo, uma viagem de dois dias a cavalo. Espero não encontrar nada no caminho, estou cansado de ver tanto sangue derramado.
O sol estava se pondo, e eu ainda estava longe de qualquer vilarejo ou cidade, portanto resolvi montar acampamento.
Deixei o cavalo descansando no lago próximo a estrada, comecei a catar lenha para a fogueira, depois de algum tempo havia reunido o suficiente para acender o fogo, joguei os galhos perto do meu saco de dormir, olhei para o céu o sol já havia se posto quase que por completo, e a leste das montanhas grandes nuvens cinzentas cobriam o céu, uma tempestade se aproximava.
Comecei a acender o fogo, em pouco tempo a fogueira estava acesa. Ouvi um barulho vindo de um arbusto próximo, peguei uma pequena pedra no chão e esperei.
Um coelho um tanto grande pulou para fora do arbusto, assim que o vi lancei a pedra em seu crânio, destroçando sua cabeça.
-Ótimo, estou pronto para passar a noite...- peguei o coelho e comecei a limpa-lo, depois o temperei com algumas ervas locais e o coloquei sob o fogo, o assando.
Me sentei a frente da fogueira, encarando as chamas.
O fogo dançava em meio a escuridão, quanto mais tempo eu olhava para as chamas, mais meu passado sangrento tentava vir a tona.
Enquanto olhava para as chamas me lembrei da época em que eu era um soldado do exército do reino Turan. Uma besta mortal em forma de homem, empunhando Hallibel e Dianell, as lâminas gêmeas amaldiçoadas. Dilacerando meus inimigos como se não fossem nada, como se não fossem humanos. Pouco a pouco comecei a subir dentro do exército e me tornei um comandante. 1000 homens a minha disposição, um banho de sangue teve início então.
Mulheres, Crianças, Velhos, animais.
Nada escapava da minha insaciável sede. Até que um dia conheci uma cidade-estado chamada Crena.
Meus 1000 homens não eram páreos para os seus 300. Uma legião de 300 homens conseguiu dizimar meu exército, apenas eu fui mantido vivo.
O comandante da legião inimiga, Octavio, me deu uma bela surra e me ofereceu clemência.
"Mate, cresça, evolua, fortaleça-se. Então venha matar, a mim e a eles."
Fugi com esse lema em mente, porém caí perante o árduo caminho do deserto. Naquele dia a atenção de um dos Deuses estava sobre mim, e naquele dia, este Deus me ofereceu o poder que eu buscava.
"Mate, Destrua, Esmague" foi tudo que o deus me disse após encantar minhas armas e ir embora.
Eu sozinho matei os 300 homens, e também Octavian. Eu era casado naquela época, tinha uma esposa, uma filha...Mas...No dia que retornei para casa...Algo queimou dentro de mim, e eu saquei minhas armas, mesmo sem estar com elas. E elas apareceram, e eu as usei.
Enquanto minha mulher berrava implorando para que eu parasse, eu a empalava repetidas vezes, e minha filha chorava horrorizada. O corpo de minha mulher ficou irreconhecível, assim como o da minha filha que matei em seguida.
Aquele dia jamais deixaria minha memória.
E mesmo após ter feito isso, eu não havia caído em si.
Continuei a chacina pela minha cidade natal, sem dó nem piedade até não sobrar mais nada.
Nada além de chamas e cinzas.
Fui arrancado de meu transe por uma mão grossa em meus ombros, meus músculos se contraíram.
Olhei para cima e vi Thalos. Ele sorria para mim.
Meus ombros relaxaram, e eu comecei a rir.
-Al Khaedra meu querido irmão - ele me abraçou e se sentou ao meu lado.
-Thalos...Mesmo depois de saber do meu passado você me chama de irmão...
-Todos erramos Kharis, mesmo nós deuses. Mesmo tendo feito tamanho erro, suas ações para compensa-lo são louváveis. Os 30 trabalhos impostos pela cúpula dos deuses. Devo lembra-lo dos 28 feitos já cumpridos? - ele sorriu para mim e tirou a coxa do coelho do fogo, e a mordeu.
-Então já sabem do vigésimo oitavo? À cúpula dos deuses realmente é bem informada.
-Você sabe que por mim você não faria nada disso.
-Sim Thalos, é muito benevolente da sua parte vir aqui, comer de minha comida, e me dizer que por você eu poderia ficar atoa no plano divino.
-Você é tão frio as vezes.
O silêncio perdurou alguns segundos.
Depois ambos caímos em gargalhada.
Thalos tirou duas cervejas de sua bolsa e me entregou uma e abriu a outra.
Abri a minha e dei um gole.
Estava doce e gelada como sempre.
Thalos era um bom Deus e também um bom amigo, de tempos em tempos ele vinha me visitar, esclarecer algumas coisas, guiar me em meio a ignorância, divertir-se comigo.
-Qual é o caminho que seguirá agora Kharis?
-O caminho do guerreiro.
-Está indo para Althroram sozinho?
-Sim.
-E pretende ficar vivo por quanto tempo?
-Mais alguns milênios.
-Terá sorte pelos próximos dias - Thalos disse rindo. - Aproveite os com sabedoria.
-Eu vou, esmagando crânios élficos. Devorando almas cheias de poder magico.
-Vai realmente dizimar toda uma raça? - o tom dele se tornou sério, enquanto ele olhava para mim.
-Não, não irei dizimar ninguém. Eu vou fazer com que sua existência tenha sido uma obstrução na linha do destino.
Thalos me observava com certa tristeza no olhar, de certo ele podia ver o grande espírito ceifeiro sobre mim.
-Depois de matar Al Thoram você absorveu os poderes dele, e os poderes que ele absorveu dos 12 deuses que matou. Isso inclui o dom de dar e tirar vidas. Eu apenas deixei estes dois com você, mas mesmo assim...Acho que é um fardo grande demais para você caro amigo.
-Eu ficarei bem. Você sabe disso.
-Espero que você esteja certo.
E com essas palavras Thalos desapareceu.
Olhei para cima, para o céu estrelado.
-Raramente estou errado.

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