Querido diário,
Eu não pedi desculpas por ter pegado o número dela sem permissão. Eu não me arrependo. Principalmente depois do episódio horroroso que eu presenciei ontem, tinha saído mais cedo para esperar por ela e ver se ela queria ir a algum lugar comigo, mas quando ela demorou eu entrei para procura-la, fui primeiro à sala, mas ela não estava, depois à biblioteca, mas também não estava lá. No banheiro eu não podia entrar, mas não foi preciso, quando eu vi as coisas dela espalhadas no chão senti um frio na espinha, entrei mesmo sabendo que era errado e o que eu vi não podia ser nomeado com nada além de covardia; eu não saberia colocar em palavras o que eu senti quando a vi, ferida, no chão, enquanto Vanessa a humilhava e dois dos meus colegas de time, caras de quem eu nunca esperei uma conduta tão estúpida, seguravam Ellen pelos braços e a agrediam. Fiquei cego, parti para cima dos dois e em segundos eles estavam caídos no chão, virei-me para Vanessa, que parecia chocada demais para falar qualquer coisa, assim como suas amigas xerocadas.
— O que acha que está fazendo? — Gritei. — O que ela fez pra você? O que?!
Quanto mais eu gritava mais assustada ela ficava. Eu nunca, sob hipótese alguma, bateria numa mulher, acho que não se pode chamar de homem um ser que faz isso. Mas o olhar de nojo e revolta que eu lancei foram piores que qualquer tapa merecido para Vanessa naquele momento, ela começou a chorar, furiosa, gritando comigo e me perguntando por que a Ellen.
— Ela nem é bonita! É só uma garota insignificante! — Ela tentava avançar, mas as amigas a detinham.
— Só o fato de você dizer isso já mostra o quanto ela é superior a você. — Segurei Ellen em meus braços, com extremo cuidado, e olhei uma última vez para Vanessa. — Se você encostar nela outra vez, seja de que modo for, eu vou esquecer meu código de honra.
Diário, eu nunca vou conseguir superar a dor no meu peito ao ver ela machucada, ali, e principalmente por ter sido eu o causador de tudo aquilo, eu devia saber que havia algo errado com a Vanessa desde o início, mas não estava preparada para a outra descoberta. Quando eu ergui a manga do suéter dela, as marcas roxas e algumas até esverdeadas de hematomas mais antigos se espalhava por toda a pele, eu era incapaz de distinguir o que era da escola e o que não era. Fiquei profundamente preocupado. Ela ainda ficou desacordada por um bom tempo, foi quando tirei o celular dela do bolso do suéter e enviei uma mensagem para mim mesmo, a fim de salvar o número, a enfermeira conversou com a mãe dela, sei que é errado, mas eu escutei atrás da porta, perguntou se ela sofria algum tipo de abuso em casa, a mãe de Ellen garantiu que não, então, a enfermeira disse que se todos aqueles machucados pelo corpo fossem resultado de bullying ela já vinha sofrendo há bastante tempo na escola. Não consegui acreditar na mãe dela, algo me dizia que ela estava mentindo. Ellen parece muito com a mãe, os cabelos castanhos meio puxados pro vermelho, os olhos azuis, o jeito frágil e a pele muito pálida. Faltei ao treino nesse dia, sabia que teria problemas com o meu pai, mas não me importei. Eu queria ter certeza que ela estava bem, me ofereci para acompanha-las ao hospital e a mãe dela não pareceu se importar, quando eu tive certeza de que ela estava realmente fora de perigo voltei para escola, ainda a tempo de ver os últimos tempos de biologia. Liguei para Ellen assim que encontrei coragem o bastante, mas percebi que vou ter que me esforçar mais se quiser conquista-la, e, diário, você não imagina como eu quero! Quase implorei para que ela se abrisse comigo, que me desse uma chance de ajudar, mas ela disse que não pode, ela está com medo de alguma coisa eu tenho certeza, o que me faz ter ainda mais convicção de que não vou abandoná-la, é, diário, não tem mais volta, eu não sei como aconteceu, não sei o que ela fez comigo, mas aquela garota inteligente que acha que ninguém a nota e que tenta se esconder atrás da invisibilidade me conquistou, ganhou meu coração tão fácil. Eu estou apaixonado por ela de uma forma que eu nunca me apaixonei por ninguém, e não importa o que eu precise enfrentar para tê-la comigo, eu vou vencer esse jogo.
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Dear Diary
Historia CortaEles estudam na mesma escola, mas nunca se falaram. Ela acha que é invisível, ele queria ser invisível. Ela acha que ele nunca a olharia. Ele acha que ela o acha um idiota. Ela era a garota mais inteligente da escola, ele o capitão do time de futebo...