Mil motivos e apenas um por quê

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Fault Boys- Episódio 1- Asher  

Capítulo 3

"Mil motivos e apenas um por quê"

Nox Nial

Sete dias, cento e sessenta e sete horas, quinze minutos, trinta segundos e meio desde que Asher Henley apareceu na minha porta. Ou nossa porta, infernos, eu não sei... de qualquer forma, quem está contando?

Definitivamente eu. Sete dias, cento e sessenta horas, quinze minutos e trinta segundos que me trouxeram de volta um bilhão e meio de lembranças. Dois anos de arrependimentos.

No fundo, no fundo, eu sabia que Asher sempre esteve vivo. Mas a tristeza que circulou ao meu redor, e o enfado que era viver e não ser capaz de estar com ele, falar com ele, o pensamento de perde-lo me teve em colapso.

Deus, foi tão difícil ouvir, todo e cada dia durante quase dois anos, os lamentos das pessoas ao meu redor, os pêsames. As gentilezas in memória dele. Todos os 'eu sinto muito' e 'ele era uma boa pessoa'. Os confortos, que por desencargo de consciência me eram oferecidos. Todas as vezes que algum dos meus parentes ou pessoas mais próximas a mim diziam que eu deveria seguir em frente. Como no inferno eu poderia?

Eu estava morrendo pouco a pouco. Cada palavra de suposto conforto levou um pedaço da minha alma embora. Eu não poderia estar num mundo sem Asher, porque eu não conhecia, não entendia, e não queria um mudo sem ele.

Nox Nial, a pessoa que eu deveria ser, só era Nox Nial por causa de Asher Henley.

Eu afundei. Cada dia, a força que gastava lutando contra os pensamentos de que ele nunca mais voltaria para mim, se tornou demais. Foi doloroso, excruciante, até que se tornou dormente.

Eu vivia, não, eu sucumbia em vida, secando como um tronco que perdeu sua raiz. Eu não poderia sentir. Eu era insensível, descrente, desiludida. Sem esperança.

Eu era um incomodo.

E eu estava cansada de ser aquela pessoa que todo mundo pisa em ovos ao redor. Me revoltava todas as vezes em que eu me virei de costas e ouvi sussurros de 'coitadinha!'. Me desesperava ser um peso para meus amigos e família, que me fizeram suas obrigações, e queriam me curar todo custo.

Estava além de concerto. Não haviam ferramentas para fixar no lugar todas as peças perdidas.

Até que ele veio até mim e disse: — Levante-se! — Ordenou — O que você está fazendo? Isso é uma desonra a sua memória, porque ele te amava mais que a própria vida e as vidas de toda a sua família, e te ver desse jeito seria mesmo que uma segunda morte para ele. Seria o inferno.

Eu olhei para Bray naquele dia, buscando entender seu surto. E eu encontrei em seus olhos a mesma quantidade de perda que eu tinha nos meus. Aquele não foi um discurso motivacional para mim, aquilo foi o que ele estava tentando se convencer. Eu entendi que ele precisava de alguém, além dele mesmo, para ser forte. Sua família era anestesiada, mais Bray ainda se encontrava em agonia.

Eu? Eu estava entorpecida. Desligada. Quebrada. Irrecuperável.

Mas eu me levantei, coloquei um sorriso no rosto e fingi. Construí um falso invólucro ao meu redor, me reergui em uma estrutura forjada. Por Bray, e por todos os outros que se sentiam responsáveis por mim. Superar não é uma possibilidade, quando este é o caso, mas eu fingi que era capaz, pelas outras pessoas. No fundo, sempre é pelos outros que fazemos isso. Eu tinha perdido minhas próprias esperanças, mas eu podia dar-lhes as deles.

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