Caçadora de Almas

Prólogo

— Você sabe quem eu sou? — sibilou a voz em meio a escuridão.

O homem, que estava pendurado por amarras invisíveis, balançando suavemente de um lado para o outro, se arrepiou. A essa altura ele não sabia que ainda era capaz de sentir medo. Tão perto do destino do qual tanto ouvira falar, ele não sabia que o temor ainda era capaz de arder em sua pele. — Você tem alguma ideia, mesmo que vaga, de quem eu possa ser?

— Vo-você... — gaguejou ele, com medo de ousar responder àquela voz, porém com mais medo ainda de deixa-la sem resposta. — Você é ela.

— E você sabe o que eu vou fazer com você? — Novamente o homem balançou no ar frio daquele beco mal iluminado, pendendo involuntariamente a cabeça para a esquerda.

— Me-me matar.

Uma gargalhada crescente adentrou pelo seus ouvidos, congelando o seu corpo, enfraquecendo a sua alma e tirando tudo que havia de dentro de si, restando nada mais do que uma carcaça vazia e aterrorizada.

— Vou perguntar novamente. — A voz se movimentou. Seus dedos compridos escapando da penumbra, ordenando silenciosamente que o corpo do homem, que agora choramingava como uma criança, girasse abruptamente, deixando-o de ponta cabeça. — Quem eu sou?

A dona da voz deu um passo em direção a luz. O homem tentou se contorcer, reprimir suas lágrimas porém não pôde. Ele não estava mais em controle do seu corpo, não possuía mais controle sobre suas ações, gestos, sentimentos. Ela, com aqueles olhos que refletiam toda a escuridão de sua inexistente alma, era quem puxava as cordas daquela marionete indefesa.

— Você... — sussurrou o homem pela última vez — Você é o diabo.