Jorge.

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Jorge é um homem de mais ou menos  1 metro e 80 de altura, olhos castanhos, meio careca, traços de uma pessoa sofrida, cansada e simples.
Todos os dias toma alguns ônibus para o trabalho e dentro deles encontra as pessoas de sempre que compõe sua rotina diária. Está sempre vestido com as mesmas roupas. O mesmo jeans surrado acompanhado da camisa roxa desbotada ou a azul com desenho de surf mas costas com alguns furos de traça. Uma botina como as usadas por servente de pedreiro suja de terra ou lama. Tem o físico de um homem de 50 anos acompanhado de uma barriga que aparenta a barriga d'água que minha avó advertia que eu ficaria se tomasse água demais ou engolisse água de rio.
É sempre espontâneo e todos os dias o vejo sorrir e esforçando para que os demais o acompanhem nas suas piadas rotineiras. Apesar de sempre sorrir seus olhos carregam as marcas de um sofrimento distinto que contam sua realidade.
Tentou ser pai por cinco vezes sem sucesso sua esposa não conseguia e seu recorde foi mais um filho morto, penúltimo dos fetos com 6 meses. Sua mãe a dona Aparecida que já tinha um câncer de pulmão agora vem acompanhado do Alzheimer. Quem é que vive com oitocentos reais por mês com esposa, dois cachorros vira latas, uma calopsita, (que é seu orgulho por cantar o hino de seu time do coração) e mais as contas fixas como a parcela do terreno que ainda faltavam 7 anos, água , luz, compra, telefone e os 536 reais mensais de remédios da dona Aparecida? Joana sua esposa já não aguentava mais aquela situação. Com farinha e ovo desenvolveu várias receitas que inventava na hora, porém na boca o gosto era de ovo mesmo e a farinha tinha gosto de mofo.  Limpava a casa, fazia comida, dava banho na dona Aparecida, alimentava, trocava fraldas e sua irmã Dalva parecia uma praga em sua vida. Exibia os 4 filhos homens: Filipe, André, Joaquim e Vinícius e as duas garotas: Isadora e Marlene em homenagem a falecida avó. O Marido Jessé saía pela manhã e voltava perto da meia noite fedendo pinga e puta. Não sabia direito do que trabalhava mas tinham sua casa, carro e viajavam uma vez por ano. Joana apenas chorava e lamentava escondida, às vezes fazia isso enquanto dava banho na velha sogra esfregando o corpo decadente rebocado de merda mole. Lavava as mãos com cândida depois disso, limpava debaixo das unhas enquanto lembrava que a última vez que passou um esmalte ela ainda tinha 19 anos quando ia pra faculdade mas teve que abandonar por causa da gravidez, a primeira, que se nacesse menino se chamaria Jorginho e se fosse menina Luana. Deixou a faculdade no segundo mês e no quarto o feto morreu. Agora aos 41 não sabia mais pra que servia maquiagens, esmalte ou cabeleireiro. As calcinhas em frangalhos, camisas de supermercados ou vereador da cidade. Enquanto estendia a roupa no quintal cheio de mato lhe apareceu algo no pescoço que não sabia se era furunculo ou berne. Jorge devido às contas, a saúde da mãe e a falta de condições pra tudo ficava tão nervoso que a úlcera no estômago o comia vivo e fazer sexo nem pensar. Nas últimas vezes broxou e terminou sem auto-estima, derrotado pois nem fazer sua esposa gozar conseguia.  E brigado por que Joana o acusou de não sentir mais tesão por ela por estar velha e acabada. Quando ele se defendeu ela retrucou afirmando que então estava comendo outra por aí. Decidiu Joana cortar o cabelo e fazer caminhadas com Ritinha uma vizinha que só o sobrenome era diminutivo pois era uma mulher que pesava em torno dos 130 kilos. De todo jeito Jorge tentava provar que Joana estava perfeita mas o sistema nervoso não o permitia ir muito longe. Broxava. Soava feito louco. Ainda tinha o estômago e a arritmia.
O Marido da Ritinha o Fábio,era um dos melhores amigos do Jorge, dava uma conselhos, tranquilizava e as vezes emprestava uma grana. Ele era primo do Sérgio, um alcoólatra que vivia sujo e fedendo. Sempre com fome e Jorge ao encontrá-lo no ônibus lhe dava os restos que trazia do refeitório do trabalho. Uns dias pão com frios, manteiga. Marmita de salada e uns restos de suco. Ritinha teve um problema cardiovascular e teve que ficar duas semanas internada, mas Joana não abandonou a caminhada. Estava determinada e sempre chegava suada e satisfeita. Claro, saia depois que o Jorge chegava pra cuidar da velha e voltava duas horas depois pra tomar banho com o balde no box minúsculo ja que há 8 meses não tinham chuveiro. A alegria dela era total. Sua auto-estima voltou e Jorge claro ficou feliz por ela e a incentivava mais e mais. Ela até passou a compreender seus problemas sexuais. Tudo parecia bem, até ela preparar a marmita dele na quinta-feira às 4:45 da madrugada e lhe dizer que desde que a Ritinha fora internada ela dorme todos os dias com o Fábio e ontem decidiram largar tudo e assumirem o romance, pois ele á desejava e lhe daria a vida que merecia financeiramente falando. Amorosamente afirmando e talvez um filho por aí enquanto ainda havia tempo. Hoje faz três dias que não vejo o Jorge. Por direito trabalhista assegurado pela CLT pode ficar em casa esses três dias por luto pela dona Aparecida que faleceu na mesma madrugada em que sua esposa o deixou. Ouvi dizer que teve de sujar o nome num empréstimo absurdo afim de comprar o caixão da mãe. "Até pra morrer tá caro"- ele dizia. Não havia mais lágrimas para chorar. Parecia em choque com tudo. Esperava pelo próximo dia onde pelo menos no ônibus iria encontrar o Sérgio pra dar de comer. A Elaine uma jovem capial. Marta a mentirosa, porém engraçada  e Adalberto que só fazia reclamar da vida. Ritinha ficou puta quando saiu do hospital e soube de tudo. Foi na frente da casa do Jorge que ainda guardava luto e fez aquele barraco. Ela dizia:
-Eu podia até ficar com você Jorginho. Mas se sua mulher te trocou pelo meu que ja era ruim, imagina que merda você não é! E assim ela foi gritando pra casa quebrando tudo o que encontrava e o Jorge se perguntando em que ponto chegou pra ser rejeitado até pela gorda fofoqueira do bairro que tinha cheiro de comida azeda e fumava 3 maços de cigarros do Paraguai por dia.

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