42. Orientado pela fé

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— É ela? – Megan me pegou olhando para uma foto que eu tirara com Jenny antes dela viajar.
Guardei o celular, constrangido.
— Essa é a Jenny, James? – insistiu.
— Sim.
— Bonita...
Dei um meio sorriso, concordando. Ela olhou pra mim, muito pensativa.
— Sabe o que eu acho? — disse de repente. — Você deveria sim ficar com ela.
— O que? – estreitei os olhos, confuso.
— É o que você ouviu. Sabe, Dakota está muito distante de você, ela é cegamente apaixonada pelo canalha do Alex. Jenny gosta de você, e pelo o que estou vendo, rola alguma coisa ai dentro por ela também.
Chacoalhei a cabeça.
— Não. Não rola nada pela Jenny. Tenho que admitir, ela é tudo que eu deveria querer se eu não fosse tão obcecado pela D.
— Obcecado, como você diz. Será que é amor o que você sente pela Dakota? Você pode tratar dessa obsessão, talvez o melhor remédio seja a Jenny.
— Do que está falando? É claro que é amor; obsessão foi só uma maneira de falar. Não é tão fácil como parece ser, Megan. Você não consegue imaginar quão profundo é o que eu sinto pela Dakota, não tem como melhorar isso. Acredite, eu tentei.
— James, você não percebe? Está fazendo a mesma coisa que a Dakota faz. Esperando o amor de alguém que não te quer, enquanto ignora quem te quer de verdade.
— Não estou entendendo por que está dizendo isso agora. Há alguns dias dizia que sou louco por estar me envolvendo com a filha de um caçador.
— E é, não nego isso. Só que você não está se envolvendo, você já se envolveu; agora vai fundo, termine o que começou.
— Está me confundindo mais ainda.
— Olha, James. Vocês já estão fazendo o que um casal que namoram às escondidas faz. Nem o seu pai sabe que você se encontra com ela, e olha que pelo o que vejo é bem difícil esconder as coisas dele.
— Não sei se ele não sabe...
— Ele não sabe – afirmou ela. – Se soubesse, já teria falado algo, afinal, é a filha do caçador, não é?
— Ele está confiando em mim... Eu prometi que não a veria mais.
— Mas você já fez a besteira, não é mesmo? Agora aproveita e continua; e continue da forma mais intensa enquanto ainda pode.
— Você é mesmo louca.
— Não sou louca, James. Sou romântica – Ela sorriu.
— Não posso piorar as coisas, Megan. Jenny é uma pessoa incrível, não posso fazer isso com ela.
— O que você vai estar fazendo? Dando à ela o que ela mais quer? Como isso pode ser ruim?
— De diversas formas, acredite.
— O que custa tentar? Se não der certo, nenhuma dor é eterna, ela vai superar.
— Não acredito que está dizendo isso.
— James, você acha que ela não está sofrendo agora? Você também está.
— Curar um amor com outro amor? É como se enxugar com toalha molhada.
— Você pode melhorar isso, é só querer. Tente ver a vida por outros ângulos, quem sabe um deles não te surpreenda. - Ela piscou, me encorajando.

Eu já estava confuso, e Megan não me ajudara em nada falando tudo aquilo.
Por um lado ela tinha razão, mas era tão difícil aceitar que Dakota nunca poderia ser minha e seguir em frente.
Eu não podia magoar Jenny, eu não queria; mas eu não conseguia pensar em uma maneira de não magoá-la, de ficarmos bem, como era antes. O que a magoaria mais? Dizer que aquilo não estava certo, que os nossos sentimentos não eram iguais... ou fingir estar fazendo a coisa certa, e ficar com ela, tentando amá-la mesmo amando outra? A minha cabeça fervilhava.
Tudo bem; eu precisava ir por partes, folha por folha.
Eu precisava acabar com isso; precisava colocar um ponto final nessa história, não podia deixar como estava, mesmo que isso custasse uma dor temporária.
Como de costume, dei um toque para Jenny me retornar.
— Hmm... — Mordi o lábio. — Jen...
Ela esperou que eu falasse. Hesitei tempo demais para que ela me incentivasse a continuar.
— Diga — sussurrou.
— Eu... acho que temos um assunto pendente.
Ela hesitou do outro lado da linha. Mordi meu lábio novamente. Tenso; aquilo era tenso.
— Quanto tempo? — perguntei.
— O que? — perguntou de repente.
— Quanto tempo para termos essa conversa?
— Podemos... tê-la agora. — Sua voz saiu rouca; parecia que estava engolindo um choro. Eu podia escutar a sua respiração acelerada. Por sua voz, percebi que sentia medo; e com certeza ela já sabia o que eu iria dizer; eu a conhecia o suficiente para saber que ela queria acabar logo com isso, e pela primeira vez senti que o que eu ia fazer era a coisa mais certa. — Você sabe aonde esperar — ela disse e desligou.
Como uma das raras vezes, Jenny estava parada me esperando.
Aquilo não me surpreendeu; não era estranho para mim. Ela sempre foi uma pessoa diferente; sempre gostou de fazer o contrário do que todos faziam, — exatamente como Dakota; talvez fosse isso que me chamou a atenção nas duas. — Jenny ao contrário de muitos, não corria da derrota, não fugia da decepção, porém, ia de encontro ao que tinha mais medo, colidia seus pesadelos. E era justamente o que estava fazendo agora.
— Oi — sussurrei, me aproximando.
— Podemos... ir direto ao ponto?
Sua expressão amargurada tocava em mim. Aquele olhar sobressaltado, me atingia como uma facada no peito. Tudo germinado pelas dores do coração. O que eu mais queria agora era ir direto ao ponto; acabar com aquela expressão que era como navalhas em meu corpo. Como eu podia fazê-la sofrer tanto? E tudo em questão de minutos.
Lembrei-me das vezes em que eu também estive em pedaços; não que agora eu estivesse inteiro, mas foi ela quem me segurou quando Dakota me soltou. E mesmo quando eu não queria dar detalhes importantes, ou quando não queria falar sobre o assunto, Jenny estava lá pra me escutar mesmo calado.
Era engraçado, por que Jenny era uma garota que nunca se relacionou profundamente com alguém, e por algum motivo entendia perfeitamente o que eu sentia. Ela não questionava, apenas entendia.
Olhei no fundo dos olhos dela, e ela sustentou meu olhar; não ousou desviar nem por uma fração de segundo.
— Talvez o destino não queira favorecer a nossa amizade — comecei a falar. — Mas... se tentarmos fazer da maneira correta daqui por diante, quem sabe podemos mudar o futuro, ou talvez resgatar o passado, e fazer os dias presentes se tornarem tão especiais como os de antes. Jen... Esse, agora, é o meu desejo, e admito que também tenho muito medo de perder você. Quero ficar com você, e acredite, não estou falando isso da boca pra fora.
Cheguei mais perto dela. Peguei suas mãos, e afaguei as costas das mesmas.
- Eu espero não ter passado a impressão errada. –murmurei.
Ela pestanejou, seus olhos se encheram de lágrimas, ainda assimilando o que estava dizendo.
Pra aniquilar com qualquer dúvida, eu a puxei para mais perto, e ela me apertou com força. Dava a impressão de que ela nunca iria soltar; e no momento, eu não queria que soltasse. Estreitei meus braços em sua cintura, correspondendo o abraço.
Havia muito a dizer; tantas palavras que eu chegava a me perder nelas. Mas o silencio era melhor.
Para ter o novo, era preciso, necessário, abandonar o velho. E eu não ia parar, dessa vez não.
— Você me surpreende a cada dia — sussurrou ela, em meu peito. — Quando tenho certeza de que não irá fazer algo, você acaba fazendo o contrário.
Eu sorri. A tranqüilidade regressava a minha leveza de espírito. Puxei o seu queixo para cima e sussurrei perto de seus lábios.
— Enquanto você estiver feliz... eu estarei feliz.
Beijei-a com a delicadeza que eu devia ter usado antes. Era muito mais do que desejo; o gosto do beijo me dava vontade de ficar. Tão nobre, seus lábios se moviam devagar junto aos meus; e o vento era amigável conosco, pacifista; eu precisava que aquilo nunca chegasse ao fim. Eu conseguia conviver com o amor de Jenny, e com o tão perto do amor que eu podia sentir por ela... mesmo sabendo que essa aproximação com Dakota poderia atrapalhar; eu não queria que Dakota, distante e ao mesmo tempo perto demais, fosse a principal causa de uma ruína sobre a ligação que eu tinha com Jen; iria me empenhar em não deixar isso acontecer.
E então percebi que por estar tão fixado em D., me fechei à todas as outras opções.
Muitas vezes tive saudades das coisas fáceis de sonhar, das coisas que eu podia — se eu quisesse — realizar; por que diferente de agora, eu não era o problema, e quando o problema não era eu, ficava tudo mais fácil de solucionar.
A vida, o destino, sempre gostaram muito de brincar comigo. Uma ironia incorreta, mas intacta, de não me presentear com aquela que eu sempre sonhei, sempre procurei, mas me presentear com aquela que sempre procurou por mim...
Amei aquela que não me quer, e posso dizer que desprezei o sentimento daquela que me quis. É uma típica ação humana; não posso dizer que gosto, mas sinto-me feliz por saber que ainda existe uma marca humana dentro de mim.
Eu ainda tinha receios, pois muitas vezes o errado parece o certo; não foi algo do qual eu planejei; mas muitas vezes, quando nada é planejado, as coisas saem melhores do que pensamos; eu só precisava acreditar nisso.

Meu final de semana foi de Jenny. É claro que como a minha família e a dela não poderiam saber de nada, continuamos a ser cuidadosos. Um dia iriam ter que saber; menos Harold, é claro, se eu não quisesse morrer. Um dia eu teria que contar a verdade para Jenny, isto é, quando ela estivesse preparada para ouvir. Alguns anos, quem sabe muitos anos eu poderia omitir, enquanto pudesse levar, iria levando; ainda era muito cedo pra pensar nisso.


Entre Nossas DiferençasOnde histórias criam vida. Descubra agora