Um mago na Montanha

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As Flores, os frutos e a morte tudo ao seu tempo.

Mestre Palma não conversara muito naquela noite fria. Algo parecia lhe preocupar. Esseno não era de falar também, mas de sorte se contentou a tamborilar os dedos sobre a barriga e olhar para o teto que parecia extremamente sujo.

Amanheceu e o sol dera o ar de sua graça na Montanha das feiticeiras Negras. O estalajadeiro fez questão de acordá-los muito cedo com terríveis pancadas na porta. O rei já estava acordado, mas para sua surpresa o velho mestre ainda roncava estranhamente. Com uma sutileza questionável, Esseno deu-lhe uma chacoalhada que o despertou muito rapidamente.

─ Onde estão seus modos, seu mal educado? – ralhou o velho. Notava-se uma mancha estranha em seu olho. Ela era preta e parecia alguma ferida de luta. Esseno o encarava meio incrédulo.

─ O que fez para conseguir isto? – disse apontando para o olho de Palma ─ Não sou médico ou curandeiro, mas sei muito bem que isso parece marca de luta. – concluiu firmemente.

Os olhos de Palma se fecharam e ele disse calmamente ─ Não seja tolo, jovem rei. Sou muito velho para meter-me em brigas. Deve ser apenas fruto do cansaço. – Esseno apenas balançou os ombros.

A peregrinação dos dois já parecia não ter o menor sentido de ser. Quando saíram naquela manhã Esseno se perguntava realmente o que estavam procurando. Enquanto seu mestre da biblioteca estava procurando a cidade de Vanilla, ele e o velho mestre vagueavam pelas montanhas do norte onde ninguém habitava.

─ Escute mestre Palma – fez o rei acenando para que ele parasse de andar ─ Onde está nos levando? Não faz o menor sentido ir a terras inabitadas. – parecia realmente irritado. ─ Pérgamo está fazendo todo o trabalho duro e eu aqui feito um fugitivo. Isso não é justo!

─ Ah jovem rei – lamenta-se Palma – tu és tão descrente quanto os outros. Duvida por acaso de que eu não saiba o que esteja fazendo? – mirou-o com censura. Esseno manteve-se resoluto em seus argumentos e sentou-se sobre uma pedra na beira da estrada.

─ Nunca o vi tão desnorteado desde que enviou Pérgamo à Vanilla. Sei muito bem o que eles estão fazendo para salvar o Vale Almíscar, mas e o que eu faço? Apenas fujo feito um covarde? – Sua raiva era tamanha que descontou jogando uma pedra num velho carvalho adiante.

Palma vacilou sobre o seu cajado e seus cabelos brancos vinham-lhe a face por causa do vento. Parecia reunir as palavras certas para dar alguma resposta às dúvidas de Esseno, se é que poderia dizer alguma coisa.

─ Esseno meu querido... Aproxime-se! – disse chamando com a mão que estava livre. Ele veio ao seu encontro e então ele mostrou o sul. ─ Não se trata mais apenas de salvar o Vale Almíscar. Veja como todas as terras conhecidas estão sob nuvens escuras. Elas estão aí desde que a velha árvore foi acordada. Isso é mais grave do que prevíamos.

Esseno olhou ainda mais perdido para o seu velho conselheiro achava que já delirava.

─ Quem poderia prever isso? A quem o senhor se refere quando fala em nós?

─ Sua ignorância é muito aceitável. Preciso contar uma história, mas não é seguro ficarmos parados nessa estrada. Pegue as rédeas do burro e me acompanhe. – E lá foram Palma e Esseno pelo caminho tortuoso que beirava um despenhadeiro.

"Há tempos imemoriais existia sobre a face da terra criaturas espetaculares. Eram dotadas de magia e muito poder. Não eram como os humanos nem em sua forma física, mas alguns adotavam tal forma, pois lhe era agradável aos olhos. Os primordiais habitavam todos os lugares... Desde os conhecidos até os desconhecidos. Mas assim como o nosso aquele mundo era feito de bons e maus. Nas montanhas do norte, Maetisane, a primordial da sagacidade, em seu intento de exterminar todos os seres não-primordiais – sim, ela era um ser mesquinho que não sabia lidar com a existência das criaturas diferentes de si. Apoiada pelo seu ódio infundado enviou mensagens e conspirou com as sombras do mar do leste. As sombras do mar do leste eram os piores tipos de criaturas que existiam. Primordiais que se deixavam tomar pelo ódio enegreciam como a noite mais escura e só se sentiam satisfeitos quando praticavam o mal. Eles eram tão maus e desprovidos de amor que suas águas eram inabitáveis e ninguém ousava navegar por elas.

O sonhador, a velha árvore e o reiOnde histórias criam vida. Descubra agora