Capítulo 1 - Início das aulas

132 8 14
                                    

Andy Murray estava um pouco nervosa. O motivo: o início do Ensino Superior. Por muito tempo ela ficou em dúvida quanto a qual carreira deveria seguir e apenas um teste vocacional não foi suficiente. Bem, não que a quantidade de testes tivesse ajudado em alguma coisa, já que em cada um deles a probabilidade dos resultados serem diferentes eram maiores. Resultado: a dúvida só aumentou.

Apesar disso, havia um curso que sempre aparecia nos resultado: Jornalismo. Isso fazia jus à menina, já que Andy adorava veículos de informação e estava sempre antenada nas novidades, principalmente quando o assunto era novas tendências na moda. Sendo assim, ela passou no vestibular e acabou se matriculando. Contudo, a dúvida se estava no caminho certo ainda a deixava com frio na barriga.

Antes de sair, Andy verificou novamente as informações sobre a sua turma e a sala onde teria sua primeira aula – Antropologia Teológica A – e depois de pegar todo material necessário (e não necessário), a garota decidiu sair.

– Mãe, estou indo! – Andy berrou na porta da casa. Sua mãe, Lucy, apareceu segurando o celular na altura do ouvido e deu um beijo na filha.

– Boa sorte. Tenha cuidado e qualquer coisa pode me ligar!

– Se você não largar esse telefone – Andy resmungou antes de sair.

Ela tinha motivos para isso. Segundo o que Lucy dissera, desde quando Andy ainda era um bebê, Lucy e Rodrigo, o pai de Andy, passavam grande parte do tempo se dedicando a encontrar um traficante de órgãos conhecido como Marcus Dornelles, Rodrigo até chegou a se tornar o diretor de uma nova agência para cumprir esse objetivo. Graças a isso, boa parte da infância e adolescência de Andy acabou sendo comprometida, já que Marcus não deixava rastros de onde estava ou o quê estava fazendo. E nem mesmo em um dia de folga como aquele de Lucy, ela deixava de atender telefonemas sobre o trabalho. Era preocupante.

Andy foi até a garagem e entrou no carro que ganhou de presente de aniversário do pai, um Honda Civic cinza e se dirigiu até a Universidade. Por sorte ela não encontrou trânsito durante o trajeto, e acabou chegando um pouco mais cedo do que devia.

Droga, vou parecer uma idiota ansiosa, ela pensou ao entrar na sala e ocupar um dos lugares da frente. Talvez seja exagero pensar assim, Andy concluiu. Bem, faltavam dez minutos para as dezenove horas, horário que a aula de Antropologia A começaria.

Aos poucos algumas pessoas foram chegando. Uma menina vestida com calça jeans e uma camiseta rosa sentou perto de Andy e ela ficou pensando se seria uma boa escolha puxar assunto, mas Andy mudou de ideia assim que um rapaz entrou na sala de aula e sentou no meio da classe. Ele era alto, 1,82m talvez. Usava uma camisa xadrez vermelha e preta de manga longa e tinha os cabelos castanhos lisos jogados para trás. Conforme entrava carregando uma mochila com apenas uma alça presa ao ombro direito, o rapaz olhou para Andy e ela teve o vislumbre dos olhos castanhos penetrantes e do rosto liso. Ela desviou o olhar na hora e seu rosto começou a corar.

Quem é ele? Andy pensou esquecendo o nervosismo de outrora.

***

Fernando Strace* vivia um dilema. Tudo começou há alguns anos quando aceitou a proposta de seu amigo Marcus para ajuda-lo em uma nova empreitada. A ideia de imediato fora ótima, pois, graças aos esforços do amigo, Fernando pode mudar de vida.

Contudo, quando o mar estava cheio de rosas, a verdade foi revelada. Para Fernando era como uma facada no peito. Havia um misto de autocrítica com inconformismo junto a uma sensação de desespero e horror que o fazia ter ânsia de vômitos a cada noite. Como Marcus o fizera transportar todos aqueles órgãos sem que contasse a Fernando o lugar em que estava se metendo? Era como se ele fizesse parte do esquema.

Embora, após ter fugido para o Brasil, Fernando e seu filho Anthony tivessem encontrado um porto seguro de paz, todo dia que ele voltava para a casa enfrentando o trânsito de fim da tarde dirigindo um belíssimo Hyundai Sonata, aquelas memórias eram renascidas. Os bons momentos eram sempre os iniciais: a proposta de Marcus, a nova vida começando a decolar, a gravidez de sua esposa. Mas de repente os pensamentos de Fernando mergulhavam num abismo escuro e a verdade novamente o golpeava.

Distraído, Fernando quase não percebeu que o farol havia mudado para verde. Ele acelerou o carro e conseguiu acesso a uma rua onde o trânsito diminuía. Agora poucos minutos se passariam e ele chegaria em casa onde esperava encontrar seu filho pronto para o início do ensino superior.

***

Anthony Strace estava calmo como se fosse um dia qualquer, apesar da ocasião. Para seu pai aquele dia era especial, pois dataria o ingresso do rapaz de dezenove anos no Ensino Superior. Anthony não via aquilo com uma singularidade especial, mas se para seu pai valia a pena, ele faria o possível para deixá-lo orgulhoso.

Fernando se esforçou muito para criar o filho sozinho fazendo turnos loucos e aleatórios no trabalho para atender a urgência que Mary, a antiga babá tinha. Grande parte dessa dedicação Anthony acabou herdando, o menino era realmente esforçado no que fazia e não havia uma coisa sequer que saía mal feita. A faculdade de Jornalismo deveria seguir o mesmo padrão.

Enquanto vestia uma camiseta xadrez vermelha e preta de manga longa, Anthony ouvia o jornal pela televisão. Ele não tinha o hábito de assistir aquele jornal específico, não gostava muito da apresentadora que parecia não ter confiança nas informações que passava.

─ O Departamento de Investigação de Tráfico de Órgãos descobriu recentemente um site na Deep Web onde criminosos vendiam órgãos humanos para um usuário conhecido como JotaK3 ─ informou a apresentadora. ─ O Departamento de Investigação conseguiu rastrear JotaK3 e o usuário, Pedro Gonçalves, foi preso e atualmente está passando por interrogatórios. O Agente Rodrigo Murray, chefe da investigação, acredita que essa seja uma ação da DSO e tem esperanças que as informações possam levar a investigação ao cabeça da operação criminosa.

Anthony terminou de se vestir após calçar os tênis pretos e não percebeu que seu pai estava na porta da sala ouvindo a notícia. Fernando pegou o controle em cima da mesa de centro da sala e desligou a televisão.

─ Você está pronto? ─ ele perguntou objetivamente. ─ Você não pode se atrasar.

Era o de sempre, Anthony concluiu mentalmente. Nos últimos anos, os noticiários transmitiam informações sobre o Tráfico de Órgãos tanto quanto anunciavam a previsão do tempo, e as notícias nunca se repetiam. Mas o que mais importava para Anthony era a reação de seu pai. Fernando sempre ficava nervoso quando o assunto era o tráfico específico. Por que isso mexia tanto com ele?

─ Estou sim, pai. Só vou pegar a mochila e já podemos ir.

A ida para a faculdade foi bem tranquila quanto ao trânsito. Anthony desceu do carro na frente da Universidade, se despediu do pai e rumou para a sala de aula onde começaria com Antropologia Teológica A. O lugar estava bem movimentado como todo início de aula, muitas pessoas estavam perdidas tentando localizar salas, entrando nas erradas e fazendo perguntas para funcionários.

Anthony localizou sua sala e a adentrou atrás de dois rapazes e se dirigiu para uma das mesas do centro. Mas antes ele olhou para a direita onde viu uma linda menina de longos cabelos castanhos vestindo uma jaqueta jeans e calça preta. Seu rosto era perfeito com pouquíssima maquiagem: apenas um contorno escuro ao redor de belos olhos cor de mel que fitaram Anthony enquanto entrava. A menina ficou envergonhada e virou o rosto para frente. Anthony se sentou e um único pensamento preencheu sua mente: Quem é ela?

Rejeitados - Mistérios ReveladosOnde histórias criam vida. Descubra agora