MERGULHANDO NA GRAÇA

Prólogo

Sinto medo. Muito medo. A qualquer momento ele vai chegar e isso pode acontecer de novo. Mamãe não está em casa. Ela saiu pra trabalhar. Sinto pena da minha mãe, ela trabalha pra nos sustentar, eu e esse monstro que mora conosco.

Tenho 9 anos e desde os 7 tenho vivido nesse inferno. Antes éramos só eu e mamãe. Não conheci meu pai, minha mãe diz que antes de eu nascer ele foi embora. Ela fala muito pouco dele nem sei o seu nome, ela dizia que sempre seríamos eu e ela mas não foi assim...

Há três anos minha mãe conheceu o Lúcio. No início ele era um cara bacana. Me trazia doces, tinha um sorriso bondoso e sempre estava próximo pra nos ajudar. Contou pra mamãe que estava desempregado mas que conseguiria um emprego assim que Deus quisesse. Deus, será que Ele existe? Tenho passado por tanta dor que duvido que exista um Deus bom.

De repente ouço o barulho de chaves na porta da sala. Começo a tremer e entrar em pânico. Tomara que ele esteja bêbado, tão bêbado que não tenha forças pra subir as escadas e chegar no meu quarto. Fico quietinho, tenho medo de respirar e percebo que estou falando com Deus. Peço a esse Deus, seja ele bom ou não, que por favor não me deixe passar por isso novamente.

Ouço passos pelas escadas. Não, não pode ser ele está subindo até aqui. Posso sentir isso. Tento me levantar pra trancar a porta, como se isso adiantasse alguma coisa, mas já é tarde demais. A porta se abre e bate contra a parede. Estou com tanto pavor que além de tremer faço xixi nas calças. É tão vergonhoso! Não posso contar nada pra mamãe, ele ameaçou ela!

Lúcio olha pra mim e lança aquele sorriso diabólico. Eu fico paralisado de pânico e numa tentativa desesperada começo a implorar:

--- Não, por favor... De novo não... --- digo numa tentativa de fazer com que esse monstro pare o que vem fazendo comigo.

--- Não adianta chorar seu menino fraco! Se bem que quanto mais você chora mais eu sinto prazer... --- Lúcio fala e ainda sorrindo vem em minha direção, já soltando o cinto das calças.

Não darei esse prazer a ele. Faço força e engulo o meu choro, prometo a mim mesmo que assim que puder darei um fim nisso.