Lost in illusions

Capítulo 1 - A decisão

Kansas, Missouri - Estados Unidos 11h30min

- Filha, tem certeza que não quer ficar? - minha mãe sussurrou com lágrimas nos olhos.

Era a décima quarta vez que ela me fazia a mesma pergunta. Desde que fui aceita em Harvard ela anda eufórica. Não é pra menos, é praticamente impossível ser aprovada.

- Mamãe, já conversamos sobre isso. Nós sabemos que é uma oportunidade única.

Harvard. Simplesmente a melhor Universidade dos Estados Unidos. Na verdade, a melhor do mundo pelo 13º ano consecutivo segundo o famoso ranking de Xangai. Um sonho pra qualquer um. Apenas 6% dos que tentam passar, acabam conseguindo tal feito. Minha carta de aprovação chegou há algumas semanas e a ficha ainda não caiu. Foi uma surpresa não só pra mim, mas pra todos nós, afinal eu nunca fui o tipo de garota nerd. Minhas notas no colégio eram boas, eu era líder de turma, participava do grêmio estudantil e fui voluntaria em vários projetos sociais. Sempre gostei dessa coisa de liderança, de ajudar o próximo, então sempre fazia de tudo para conseguir alcançar meus objetivos nesses quesitos.

- Mas filha, são quase 22 horas de viagem e não vamos poder mandar muito dinheiro pra você. Você virá nos ver de dois em dois meses. Pense bem antes de realmente decidir se vai ou não. - Minha mãe falou olhando-me dentro dos olhos com aquele olhar que antes, me faria desistir de tudo.

Eu nada disse, apenas a olhei com o intuito de fazê-la perceber que eu precisava ir.

Quando fiz a prova, jamais imaginava que seria aceita, meu objetivo era fazer o que eu pudesse, para então dar uma vida melhor pra minha família. Meus pais são chefs de cozinha e o salário não é aquela coisa. Eu preciso e quero dar uma vida melhor pra eles, pois mais do que qualquer um, eles merecem.

- Filha, me ajuda com as malas? - papai disse com aquele lindo sorriso tentando me passar tudo aquilo que eu precisava naquele instante. Calma.

Papa é simplesmente a melhor pessoa do mundo. Sei que pra ele está sendo muito difícil ter de deixar a única filha ir, mas ele sabe que tudo o que faço é para que o nosso futuro seja melhor. O sonho dele é poder abrir um grande restaurante mexicano, com todas aquelas comidas picantes, que eu particularmente, amo.

Nasci em Cuba, mas ao completar meus 5 anos, passei um tempo em Havana e no México. Para então me mudar permanentemente para os Estados Unidos.

Moramos no Kansas e Harvard fica em Cambridge, ou seja, temos uma longa viagem pela frente. Sim, temos. Meus pais resolveram me levar.
Talvez minha mãe ainda deva estar cogitando a possibilidade de uma desistência da minha parte. Mas isso é algo impossível. Papa pretende sair de casa as 13h, porque segundo as contas dele, devemos chegar no próximo dia entre 16h e 17h.

Já eram quase 12h, e ainda tínhamos que levar Sofi pra casa de meus avós.

Sussurro algumas palavras, com a intenção de passar confiança a mim mesma e por fim crio coragem e digo - Tudo pronto? - Tentando passar algo positivo para meus pais.

Minha mãe com muito custo, olha pra mim e sorri, como se estivesse dizendo um sim.

Saio de casa, atravessando a rua correndo para abraçar a linda garota morena, que me espera de braços abertos. "Pulo" em seus braços, escondendo meu rosto em seu pescoço, chorando como uma criança quando não ganha um doce. Ela me abraça de um jeito que nunca havia abraçado, é como se ela dissesse "Você vai fazer falta. Vou sentir saudades.". Sinto algo molhado em minhas costas. Sim, ela estava chorando. Tinha visto Normani chorar duas vezes em toda a minha vida. Uma quando seus pais se separaram e a outra quando ela perdeu sua avó. Lentamente fomos nos soltando, para então olharmos uma pra outra.